O governo de Belarus anunciou nesta terça-feira (8) a detenção da opositora Maria Kolesnikova, uma das líderes do movimento de protesto contra o presidente Alexander Lukashenko, quando tentava fugir do país, uma versão negada pela Ucrânia, que aponta uma tentativa frustrada de exílio forçado.
"Kolesnikova está atualmente detida", disse o porta-voz da Guarda de Fronteiras, Anton Bytchkovski, sobre a última das três mulheres que lideraram a campanha presidencial da oposição que ainda estava em Belarus.
As outras duas, a candidata Svetlana Tikhanovskaya e Veronika Tsepkalo, já haviam sido obrigadas a seguir para o exílio.
De acordo com Bytchkovski, outros dois membros do Conselho de Coordenação da Oposição, Anton Rodnenkov e Ivan Kravtsov, atravessaram a fronteira e estão na Ucrânia.
O vice-ministro do Interior da Ucrânia, Anton Gerashchenko, afirmou no Facebook que as autoridades bielorrussas queriam expulsar os três opositores, mas que Kolesnikova resistiu e se negou a partir para o exílio.
De acordo com a agência Interfax-Ucrânia, ela rasgou o passaporte para impedir a operação. Neste momento ela foi detida.
A Guarda de Fronteiras de Belarus negou a acusação e afirmou em um comunicado que os opositores, ao sair do país em um automóvel, seguiram em alta velocidade para a fronteira "colocando em perigo os soldados a serviço da Guarda".
- "Meu povo precisa de ajuda" -
Kolesnikova, de 38 anos, desapareceu na segunda-feira em Minsk. A equipe da líder opositora afirma que ela foi "sequestrada" e colocada em um veículo contra sua vontade.
Tikhanovskaya, exilada na Lituânia, pediu a libertação imediata e denunciou uma situação "absolutamente inaceitável" em Belarus.
"Esta não pode ser a norma na Europa, nem em um mundio civilizado", afirmou por videoconferência na Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa.
"Meu povo, minha nação, precisa de ajuda", disse Tijanóvskaya.
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou esperar que a situação de Kolesnikova "seja rapidamente esclarecida".
Muitos opositores, membros ou não do Conselho de Coordenação, viram-se obrigados a seguir para o exílio ou foram detidos nas últimas semanas.
As autoridades iniciaram ações legais contra o organismo por "ameaça à segurança nacional".
No poder há 26 anos, Lukashenko enfrenta uma mobilização sem precedentes.
As manifestações organizadas no último mês reuniram mais de 100.000 pessoas todos os domingos em Minsk para criticar a reeleição do chefe de Estado, considerada fraudulenta, em 9 de agosto. Ele teria recebido 80% dos votos, contra 10% para Svetlana Tikhanovskaya.
- Perigo real -
O governo bielorrusso já recorreu ao exílio forçado em vários momentos para afastar os críticos. Tikhanovskaya viajou para a Lituânia imediatamente após as eleições. De acordo com seus partidários, a candidata sofreu grande pressão.
Na semana passada, outra integrante do Conselho de Coordenação, Olga Kovalkova, anunciou que teve de viajar para a Polônia sob ameaças, depois que as forças de segurança a levaram até a fronteira.
O governo de Belarus também proibiu o líder da Igreja Católica do país, Tadeusz Kondrusiewicz, de retornar ao território, após críticas à repressão da oposição.
O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, pediu na segunda-feira (7) a "libertação imediata" dos opositores políticos e recordou que sanções devem ser impostas aos responsáveis pela repressão.
"Existe um perigo real de ver Belarus afundar na ilegalidade e perseguição política", afirmou a secretária-gerla do Conselho da Europa, Marija Pejcinovic Buric.
Os últimos meses registraram um movimento de protesto histórico no país ao redor de Tikhanovskaya, uma professora de inglês sem experiência política que entrou na disputa presidencial para substituir o marido, um popular blogueiro detido desde o início do ano.
O movimento recebeu o apoio de Kolesnikova, ex-diretora de campanha de outro candidato de oposição detido, e de Tsepkalo, cujo marido partiu para o exílio depois que sua candidatura presidencial foi vetada.
As três organizaram uma campanha anti-Lukashenko que reuniu milhares de pessoas.
Lukashenko descartou qualquer concessão até o momento e falou de maneira vaga sobre uma possível revisão da Constituição.
* AFP