O Conselho de Segurança da ONU exigiu nesta terça-feira, em declaração unânime à qual a AFP teve acesso, o fim imediato dos combates na região de Nagorno Karabaj, que vive o terceiro dia de confrontos entre o Azerbaijão e as forças separatistas, apoiadas pela Armênia.
Os 15 membros do Conselho expressaram "apoio ao chamado feito pelo secretário-geral a ambos os lados para que cessem imediatamente os combates, reduzam a tensão e retomem o quanto antes negociações construtivas", em declaração aprovada durante uma reunião de emergência promovida por Bélgica, Estônia, Alemanha, França e Reino Unido.
O texto ressalta o "pleno apoio" do Conselho ao "papel central" dos presidentes do Grupo de Minsk da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) (Estados Unidos, Rússia e França) e pede às partes em conflito que colaborem com os mesmos para retomar, "de forma urgente, um diálogo sem condições prévias".
Antes, a Armênia chegou a afirmar que um caça-bombardeiro turco havia derrubado um de seus aviões militares, o que foi imediatamente desmentido por Turquia e Azerbaijão. Uma intervenção militar direta da Turquia representaria um giro importante, após confrontos que deixaram cerca de 100 mortos e prosseguiam, apesar dos pedidos de calma feitos pela comunidade internacional.
Desde domingo, as forças do enclave separatista de Nagorno Karabakh, apoiado política, militar e economicamente pela Armênia, e as do Azerbaijão, que é apoiado por Ancara, travam os confrontos mais mortais desde 2016.
Após três dias de combates em Nagorno Karabakh, a Rússia pediu hoje à Turquia, que apoia Baku, que trabalhe pelo restabelecimento da paz naquela região. Na véspera, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, havia prometido que Ancara permaneceria "ao lado" de Baku "de todas as formas".
Vladimir Putin conversou por telefone nesta terça-feira com o primeiro-ministro da Armênia, Nikol Pashinyan, a pedido deste último, observando "a necessidade urgente de um cessar-fogo" e "desarmando a crise".
- Uma centena de mortos -
O número oficial de mortos no conflito subiu para 97 nesta terça-feira, incluindo 80 soldados separatistas, que revisaram seu balanço para baixo, e 17 civis: 11 no Azerbaijão e cinco no lado armênio. Ambos os lados afirmam terem matado centenas de militares inimigos.
"Há uma guerra, há muita destruição, vítimas, um grande número de militares envolvidos", disse Niko Pashinyan em uma entrevista à estação de televisão russa Rossiya 1.
"Nós percebemos isso como uma ameaça existencial ao nosso povo", acrescentou. "Não há uma única prova da participação da Turquia no conflito", insistiu o presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, que disse que Ancara fornecia apenas "apoio moral" a Baku.
O Azerbaijão "restaurará sua integridade territorial", ele havia declarado horas antes.
O ministro da Defesa da Armênia informou nesta terça-feira que separatistas destruíram 49 drones, seis helicópteros, 80 tanques, um avião militar e 82 veículos militares azerbaijanos desde domingo.
As autoridades de Nagorno Karabakh afirmam ter recuperado posições perdidas no dia anterior, o que o Azerbaijão nega, apontando que fizeram mais progressos e destruíram "uma coluna motorizada armênia".
O Azerbaijão, país de língua turca com maioria xiita, exige o retorno sob seu controle de Nagorno Karabakh, uma província montanhosa habitada principalmente por armênios cristãos, cuja secessão em 1991 não foi reconhecida pela comunidade internacional.
Após semanas de retórica de guerra, Baku anunciou no domingo que havia lançado uma grande "contraofensiva" em resposta a uma "agressão" armênia, usando artilharia, tanques e aeronaves em ataques contra a província, que não controlava desde a queda da União Soviética e uma guerra que custou 30.000 vidas.
Esses novos combates despertaram um impulso patriótico nessas ex-repúblicas soviéticas. Shaddin Rustamov, um recruta azerbaijano de 25 anos, disse à AFP que está orgulhoso de servir a seu país. A reconquista de Nagorno Karabakh é "algo que esperamos há 25 anos e espero que este seja o último ano", acrescentou, antes de continuar o treinamento militar em Baku.
- Cessar-fogo urgente -
Rússia, França e Estados Unidos - os três mediadores do conflito dentro do chamado Grupo de Minsk - pediram sem sucesso um cessar-fogo e negociações.
Nesta terça-feira, a chanceler alemã Angela Merkel disse que "um cessar-fogo imediato e um retorno à mesa de negociações são urgentes".
O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, também pediu "para parar a violência" e "retomar as negociações o mais rápido possível".
A Rússia mantém boas relações com os dois beligerantes e quer ser o árbitro regional. No entanto, permanece mais perto da Armênia, que pertence a uma aliança militar dominada por Moscou.
Todos os esforços de mediação durante quase 30 anos não conseguiram resolver este conflito, e Nagorno Karabakh é regularmente abalada por surtos de violência.
* AFP