A opositora Svetlana Tikhanovskaya, rival na eleição presidencial do autoritário chefe de Estado de Belarus, Alexander Lukashenko, se refugiou nesta terça-feira (11) na Lituânia após a eleição no país, consideradas pela UE "nem livres, nem justas".
O ministro lituano das Relações Exteriores, Linas Linkevicius, informou à AFP que Tikhanovskaya estava a salvo em seu país, vizinho a Belarus.
Na terça-feira à noite, as tropas de choque continuavam instaladas no centro de Minsk, onde centenas de manifestantes se reuniam, mas havia relativa calma, segundo um jornalista da AFP.
Ao mesmo tempo, as forças de segurança confiscaram cartões de memória e destruíram as câmeras de vários fotógrafos que cobriam os protestos, segundo um fotógrafo da AFP.
Em um vídeo realizado sob pressão, de acordo com seus partidários, ela pediu a seus compatriotas que não protestem.
Divulgado na conta Telegram da agência estatal bielorrussa Belta, as imagens sem data que parecem ter sido gravadas em um escritório mostram a opositora de 37 anos lendo uma declaração em uma voz monótona pedindo "respeito pela lei".
Os seus aliados imediatamente consideraram que este vídeo tinha sido gravado "sob pressão das forças de segurança", provavelmente na noite de segunda-feira, quando a adversária foi detida durante várias horas na sede da Comissão Eleitoral, onde tinha ido apresentar uma queixa.
A candidata confirmou que tomou a "difícil decisão" de abandonar o país, em plena repressão ao movimento de protesto após a eleição presidencial muito questionada.
"Tomei esta decisão sozinha e sei que muitos me condenarão, muitos vão me odiar", declarou Tikhanovskaya.
"Pensava que esta campanha (presidencial) havia me endurecido e dado forças para suportar tudo. Mas, sem dúvidas, continuo sendo a mulher frágil que era no início", completou, com o rosto visivelmente cansado, em um vídeo publicado pelo site bielorrusso Tut.by.
"Os filhos são a coisa mais importante da vida", disse a opositora.
Durante a campanha, Svetlana Tikhanovskaya enviou os dois filhos ao exterior por questões de segurança, temendo as pressões do governo de Belarus.
Os guardas de fronteira de Belarus afirmaram que ela atravessou a fronteira por terra durante a noite.
De acordo com a equipe de campanha de Tikhanovskaya, no entanto, a saída foi forçada, sob pressão das autoridades. "Não teve escolha", afirmou à AFP Olga Kovalkova, uma de suas aliadas.
Svetlana Tikhanovskaya, de 37 anos, novata na política, emergiu em poucas semanas como uma inesperada rival para Lukashenko, de 65 anos e que governa o país desde 1994.
Esta professora de inglês substituiu na disputa presidencial o marido, Serguei, um conhecido blogueiro, detido em maio.
Após a eleição de domingo, Tikhanovskaya exigiu que Lukashenko "ceda o poder" e afirmou que não reconhecia os resultados oficiais, que mostram a vitória do presidente com 80,08% dos votos, contra 10% para ela.
- "Nem livres, nem justas" -
A União Europeia denunciou que a eleição de domingo não foi "nem livre, nem justa", e ameaçou impor sanções, em uma declaração aprovada nesta terça-feira pelos 27 Estados membros.
O povo bielorrusso "merece" algo melhor, informou o comunicado, onde denunciam a "violência desproporcional e inaceitável das autoridades do Estado", e exigem o fim da repressão e a "libertação imediata e sem condições de todas as pessoas presas".
Na segunda-feira à noite foram instaladas barricadas nas ruas centrais de Minsk, um sinal do aumento da tensão, e várias explosões foram ouvidas na cidade.
Um manifestante morreu após a explosão em suas mãos de um objeto que ele pretendia lançar contra as forças de segurança, anunciou a polícia.
A polícia prendeu 3.000 pessoas na noite da eleição, e 2.000 na segunda à noite, entre eles o redator-chefe da mídia opositora Nacha Niva, Egor Martinovich. O Ministério da Saúde divulgou que 200 feridos foram hospitalizados.
"Vergonha", gritavam os manifestantes, que enfrentaram a polícia com pedaços de pau e as próprias mãos.
Lukashenko chamou os manifestantes de "ovelhas" teleguiadas a partir de Londres, Varsóvia e Praga, e afirmou que não deixaria o país ser "feito em pedaços".
Em 2010, após a eleição presidencial, as manifestações foram brutalmente reprimidas.
- Condenações ocidentais -
No Ocidente, a Casa Branca disse na segunda-feira que está "profundamente preocupada" com a eleição presidencial e pediu às autoridades que permitam protestos.
A assessora de imprensa do presidente Donald Trump, Kayleigh McEnany, disse que "a intimidação de candidatos da oposição e a detenção de manifestantes pacíficos" estavam entre os vários fatores que "prejudicaram o processo".
A Comissão Europeia, assim como França, Alemanha e Reino Unido, além da Otan, condenaram a repressão. A Polônia pediu uma reunião da UE sobre a questão.
Os presidentes da Rússia e China, Vladimir Putin e Xi Jinping, parabenizaram o presidente Lukashenko.
* AFP