O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, reuniu-se com o sultão de Omã, em Mascate, nesta quinta-feira (27), última etapa de sua viagem pelo Oriente Médio com o objetivo de aproximar os países árabes de Israel, como fizeram os Emirados Árabes Unidos.
Pompeo também visitou Israel, Sudão, Bahrein e Emirados Árabes Unidos.
"Hoje me encontrei com o sultão Haitham bin Tarek para discutir a importância de construir a paz, estabilidade e prosperidade na região por meio de um Conselho de Cooperação do Golfo unido" (CCG), tuitou Pompeo.
Em seu tuíte, o chefe da diplomacia americana se referiu ao agrupamento das monarquias árabes do Golfo, dilacerado por uma crise interna. O CCG é formado por Bahrein, Kuwait, Omã, Catar, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.
"Somos gratos pela força da nossa parceria em segurança e por nossos laços econômicos", acrescentou Pompeo, o primeiro alto funcionário ocidental a se encontrar com o novo sultão de Omã. Haitham sucedeu ao sultão Qabus, que morreu aos 79 anos após 50 anos de reinado.
Relatando a reunião, a agência oficial de notícias de Omã ONA disse que foram abordados "vários aspectos da cooperação entre os dois países, com laços fortes e questões de interesse comum", sem mencionar as relações com Israel.
Omã, que mantém contatos de longa data com Israel, saudou o acordo de normalização entre este país e os Emirados Árabes Unidos, negociado pelos Estados Unidos e anunciado em 13 de agosto, ao mesmo tempo em que reafirma seu apoio aos palestinos.
Com esse acordo, os Emirados se tornam o terceiro país árabe a restabelecer relações com Israel, após Egito (1979) e Jordânia (1994).
Denunciado como uma "facada nas costas" pelo palestinos, o acordo foi recebido com reservas nas capitais árabes.
"A ausência de qualquer envolvimento público extra (no sentido da normalização das relações com Israel) durante a viagem do secretário de Estado Pompeo parece um revés", destacou Hugh Lovatt, analista do European Council on Foreign Relations.
"Isso fica ainda mais claro, porque as autoridades americanas e israelenses passaram dias sustentando a perspectiva de que outros países árabes seguirão em breve os Emirados", acrescentou.
Em Cartum, as autoridades sudanesas explicaram a Pompeo que não têm um "mandato" para tomar essa decisão durante o período de transição, iniciado com a queda do ex-presidente Omar al-Bashir e previsto para terminar em 2022.
Já o Bahrein, um pequeno reino do Golfo que compartilha com Israel uma grande animosidade contra o Irã, enfatizou a necessidade de se criar um Estado palestino antes de qualquer normalização.
"A política externa do Bahrein está intimamente alinhada com a da Arábia Saudita", lembrou Elham Fakhro, do International Crisis Group.
"Quando a Arábia Saudita afirmou, na semana passada, seu compromisso com a iniciativa de paz árabe, ficou claro que a posição do Bahrein seguiria a de seu grande vizinho", disse ela à AFP.
Omã conseguiu, por sua vez, "equilibrar suas relações entre importantes atores regionais, como Arábia Saudita, Irã e Israel, e é pouco provável que queira arriscar perder sua posição de neutralidade", apontou Kakhro.
"Os cálculos internos também desempenham um papel", disse a analista, lembrando que, tanto para o Bahrein quanto para Omã, grupos sociais podem se opor, e os líderes dos dois países "não querem correr esse risco".
Jared Kushner, conselheiro da Casa Branca e genro de Donald Trump, viajará para a região na semana que vem, na tentativa de manter a "dinâmica" negociadora.
Kushner planeja tomar o primeiro voo comercial direto entre Israel e os Emirados durante sua visita, informou uma fonte da Presidência.
- Relações discretas com Israel
Para Lovatt, "as reticências (sobre a normalização com Israel) estão ligadas tanto às políticas regionais quanto interna e, talvez, à posição da Arábia Saudita", um peso-pesado do Oriente Médio.
"Mas, no longo prazo, pode ser mais uma desaceleração (do processo de normalização) do que uma mudança de rumo", analisa.
Além disso, completa, "os países em questão (Bahrein, Sudão, Omã etc.) fortaleceram suas relações discretas com Israel nos últimos anos, e este processo vai continuar com, ou sem, normalização formal".
* AFP