O jornalista curdo iraniano Behrouz Boochani, que relatou em livro a vida infernal em um acampamento de refugiados australiano na Papua Nova Guiné, teve sua condição de refugiado reconhecida pela Nova Zelândia - anunciaram as autoridades neozelandesas nesta sexta-feira (24).
Boochani está na Nova Zelândia desde novembro passado, quando participou de um festival literário, durante o qual relatou seus seis anos de provação no polêmico campo australiano de Manus.
A Austrália aplica uma política de imigração condenada por grupos de direitos humanos e, durante anos, relegou imigrantes clandestinos que tentam chegar à costa a acampamentos na ilha de Manus, em Papua, ou de Nauru.
O Ministério da Imigração da Nova Zelândia anunciou hoje que o pedido de refúgio de Boochani foi aceito, o que significa que ele poderá permanecer indefinidamente neste arquipélago do Pacífico Sul.
"Boochani foi reconhecido como refugiado pela Convenção sobre o Estatuto dos Refugiados de 1951 e pelo Protocolo de 1967", informou o Ministério, em um breve comunicado.
Jornais locais noticiaram que Boochani soube da decisão ontem, quando completou 37 anos.
"É muito importante, para mim, ter certeza sobre o meu futuro. Então agora me sinto mais forte e mais estável para continuar trabalhando aqui", disse ele ao site de notícias do stuff.co.nz.
O jornalista é autor do livro "No Friend But the Mountains: Writing from Manus Prison" ("Nenhum amigo a não ser as montanhas: escrevendo da prisão Manus", em tradução livre).
Escrito em um telefone celular e enviado para um tradutor em fragmentos pelo WhatsApp, esse depoimento ganhou no ano passado o Prêmio Victoria de Literatura na Austrália.
Nele, Boochani relata sua fuga do Irã quando a revista curda em que trabalhava foi invadida pelos militares por escrever artigos contra o governo.
Conta ainda como foi sua perigosa viagem da Indonésia para a Austrália, sua prisão e, acima de tudo, sua experiência nesses acampamentos desde 2013: a vida, a morte, os suicídios, as autolesões e o sofrimento psicológico dos refugiados.
* AFP