As pequenas e médias empresas, afetadas pela crise do coronavírus, lutam para sobreviver após o confinamento, entre o risco de falência e a esperança de reativação. Algumas estão paradas ou perderam força, outras estão sobrecarregadas ou endividadas.
Desde as primeiras medidas para conter a pandemia que paralisou a atividade global, os governos liberaram bilhões de dólares para ajudá-las a resistir. São a espinha dorsal da economia, essenciais para a recuperação.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê uma recuperação mais lenta do que o esperado e uma recessão global de 4,9% neste ano. Enquanto isso, para o setor de hotelaria, o comércio e as fábricas, esta é uma experiência traumática.
Em Paris, Dacca, Nova York e Wiesbaden, líderes empresariais falavam de uma "catástrofe econômica" em março e abril. Agora, alguns estão à beira da quebra, outros recuperam a confiança. A seguir o que eles nos disseram:
Em Paris, um hotel parado
O telefone ainda toca no saguão, mas o hotel está deserto. O Celeste, muito perto de Montmartre, fechou no início de março. Dois meses após o levantamento das medidas de confinamento na França, ainda não reabriu devido à falta de reservas.
— Quando existem, a maioria é cancelada no último minuto, um dia antes e às vezes no mesmo dia — explica Khadija Radja, diretora do estabelecimento independente, estilo Art Deco, de 30 quartos.
No início de junho, as restrições de viagens foram retiradas e o Palácio de Versalhes e a Torre Eiffel reabriram. O hotel baixou os preços, mas foi de pouca utilidade.
— As pessoas ainda hesitam em vir a Paris — diz Radja, 49 anos.
As perspectivas são limitadas entre cancelamentos e adiamentos: em julho, o hotel só será reaberto se o nível de ocupação for de 50% e em agosto fechará. O impacto é considerável. O hotel perdeu 70% de seu faturamento anual, seus seis funcionários estão em regime de desemprego parcial, os custos fixos continuam a correr e há um grande empréstimo a ser reembolsado devido a uma reforma que custou € 2,5 milhões antes de sua abertura em 2018.
Em março, tinha "uma situação de liquidez insustentável". Pensou que teria que demitir os funcionários, mas conseguiu evitar isso graças à ajuda do governo, explica. Como todas as empresas francesas, o hotel Celeste se beneficiou de medidas excepcionais de auxílio: adiamento do pagamento de impostos e seguridade social, prolongamento do desemprego parcial e empréstimo garantido pelo Estado. Para setembro, ela espera o retorno dos turistas europeus.
— Este empréstimo foi útil: tomamos emprestado uma certa quantia de dinheiro, importante, não precisamos reembolsá-la imediatamente, não antes de 2021 e em quatro anos. Estamos tentando resistir ao golpe", diz, mas "a crise que acabamos de experimentar ainda não acabou.
A França é o principal destino turístico do mundo. O setor, que gera 7% do Produto Interno Bruto (PIB), teme uma onda de falências após o verão.
Em Dacca, setor têxtil em apuros
— Peço a Alá que mantenha meus clientes na Espanha e Portugal em boa saúde (financeira). Se eles estiverem bem, também estaremos bem — diz Rubel Ahmed, proprietário da fábrica têxtil Dibbo Fashion, no centro industrial de Aschulia.
Ele diz que, nos arredores da capital de Bangladesh, tudo se joga a milhares de quilômetros de distância. Todos os anos, exporta camisas no valor de US$ 5 milhões, especialmente para a Espanha.
Quando os dois países do sul da Europa foram confinados, os varejistas adiaram pedidos no valor de centenas de milhares de dólares. Parou de exportar e a fábrica fechou. Desde o início de maio, as lojas de roupas reabriram na Europa e as exportações são novamente permitidas em Bangladesh.
Enquanto no país "centenas de fábricas faliram ou demitiram funcionários", na Dibbo Fashion o barulho das máquinas é ouvido como antes: a fábrica retomou a atividade e nenhum dos cerca de 300 trabalhadores foi demitido.
Mas a que preço? Além de uma perda de lucro de US$ 100 mil, Ahmed, de 40 anos, deve pagar um empréstimo com juros baixos concedido pelo governo para pagar seus funcionários e, acima de tudo, dinheiro emprestado por seus parentes.
— Eu tive que pedir emprestado à minha esposa para não fechar. Ficou furiosa. Disse a ela que lhe devolveria quando as exportações fossem retomadas. Mas ela preferia que eu fechasse a fábrica.
Ele sente angústia por sua fábrica, sua esposa, seus dois filhos, seus funcionários que continuam perguntando "se a situação vai melhorar". Ele não tem a resposta. Nesta semana, um embarque para a Europa deve acontecer, o primeiro desde janeiro.
— Se eu conseguir exportar os pedidos que já foram feitos, poderei seguir em frente. Mas se meus clientes os rejeitarem, será a falência. Não poderei resistir às perdas e dívidas — afirma.
A indústria têxtil representa 84% das exportações de Bangladesh. As principais marcas de roupas ocidentais cancelaram bilhões de dólares em pedidos.
Um spa para cães em Nova York
Antes do confinamento, a rede de cuidados para cães Biscuits & Bath tinha 13 lojas em Nova York, empregava quase 220 pessoas e ganhava entre US$ 1 e US$ 2 milhões por mês. Apenas três lojas foram reabertas, 40 funcionários voltaram ao trabalho (quase todos os demais foram demitidos em março) e os ganhos para junho devem atingir o máximo de US$ 300 mil.
A recuperação é gradual, explica David Maher, diretor de vendas e marketing, e leva mais tempo para concluir o trabalho devido aos protocolos implementados para evitar o contágio. Mas a empresa, criada há 20 anos, acredita que sobreviverá graças a clientes assíduos que mantiveram contato durante o confinamento, explica Maher. Quando os serviços retomaram em meados de abril, a demanda foi "esmagadora".
Desde então, a rede conquistou clientes fazendo promoções, como novos donos de cães adotados durante o confinamento rigoroso. E com a crise, Maher acredita que haverá menos concorrência.
A demanda "aumenta todos os dias", diz ele, e "o clima é muito otimista". O plano é reabrir outras duas lojas em julho. Então tudo vai depender da demanda a longo prazo, diz ele.
Nos Estados Unidos, as empresas continuam a demitir, apesar da recuperação da atividade e, segundo o FMI, o PIB cairá 8%.
Em Wiesbaden, volta à normalidade para o vidro acrílico
As divisórias transparentes de vido acrílico, baluartes eficazes contra a propagação da epidemia, estão por toda parte: lojas, farmácias ou administrações.
Claus Mueller, 63 anos, chefe da fábrica familiar Plexiglas Riesner em Wiesbaden, ao oeste de Frankfurt, fabricou e vendeu o máximo que pôde no início da primavera.
— Agora se acalmou. As divisórias de proteção eram necessárias para permitir que as empresas reabrissem e a maioria delas está equipada, de modo que a situação se normalizou. Certamente voltaremos ao nível de vendas pré-crise — explica.
A demanda foi tão alta que, em março, Mueller estava preocupado por não poder garantir "capacidade de produção" porque a cadeia de suprimentos estava prestes a parar. Após artigo sobre ele publicado na AFP, uma cadeia de solidariedade se formou.
— As pessoas nos ligaram e nos ofereceram material — conta. Os pedidos chegaram da Europa, mas "havia tantos que não podíamos" satisfazer a todos.
Mueller se recusou a tirar proveito do plano de resgate do governo alemão para as empresas afetadas pelo confinamento.
— Isso seria injusto. Se você é um dos vencedores de uma crise, não pode pedir ao Estado que o ajude.
Em março, seu volume de negócios dobrou em relação ao normal. Dezenas de milhares de empresas, geralmente de propriedade familiar e altamente especializadas, constituem uma das forças econômicas na Alemanha.