O combustível que vazou no final de maio de uma central no Ártico russo chegou a um lago próximo, carregado pelo rio afetado pela catástrofe ambiental sem precedentes, informou nesta terça-feira o governador do território em questão.
Um reservatório de combustível de uma usina térmica pertencente à gigante da mineração Norilsk Nickel colapsou em 29 de maio perto da cidade ártica de Norilsk, causando um vazamento de 15.000 toneladas de combustível no rio Ambarnaia e 6.000 toneladas na terra circundante.
O grupo Norilsk Nickel negou nesta terça a poluição do lago.
Na semana passada, as autoridades locais afirmaram que haviam parado com sucesso a propagação do combustível com barragens flutuantes. Mas, na segunda-feira à noite, finalmente admitiram que os poluentes ainda não haviam sido contidos.
"O combustível também entrou no lago Piassino. É um belo lago de cerca de 70 quilômetros de comprimento, contendo peixes e uma bela biosfera", disse Alexander Suss, governador da região de Krasnoyarsk, citado pela agência Interfax.
Agora é "importante impedir que a poluição chegue ao rio Piassina mais ao norte", acrescentou, dizendo que era "possível".
O curso d'água flui para o Mar Ártico de Kara.
Em uma teleconferência nesta terça-feira à noite, Norilsk Nickel negou a contaminação do lago Piassino e o risco de poluição do mar de Kara.
"A distância entre o lago Piassino e o mar de Kara é superior a 5.000 quilômetros. Nossas amostras colhidas no lago Piassino são 0,0", disse Sergei Diatchenko, primeiro vice-presidente do grupo.
"A mair parte (da poluição) foi limpa", disse ele, acrescentando que a limpeza deve ser concluída antes que o frio chegue.
Nesta terça, o diretor do Greenpeace na Rússia, Vladimir Chouprov, afirmou à AFP que suas equipes ainda não tinham conseguido acessar o local do desastre ecológico em razão das medidas de contenção contra o coronavírus.
"Se 10.000 toneladas ou mais (de combustível chegarem ao lago) - é um desastre. Até agora, não recebemos os números", lamentou, alertando sobre as "consequências nocivas" se essa poluição alcançar o mar de Kara.
O degelo do permafrost, uma consequência do aquecimento global, é a possível causa desse desastre.
Os funcionários da Norilsk Nickel admitiram na terça-feira que o estado do permafrost ainda não foi monitorado e que será realizada uma auditoria completa de sua infraestrutura.
O acidente é considerado pelas organizações ecológicas e pelas autoridades como o pior acidente devido aos hidrocarbonetos no Ártico russo, uma região frágil onde a mineração, a exploração de gás e petróleo são numerosas e a poluição é um problema crescente desde os tempos soviéticos.
O chefe e acionista majoritário da Norilsk Nickel, o bilionário Vladimir Potanine, prometeu na semana passada que seu grupo arcaria com todo o custo das operações de despoluição, que ele estimou em 10 bilhões de rublos (128 milhões de euros).
A Rússia também ordenou uma auditoria completa das infraestruturas de risco construídas sobre o permafrost.
* AFP