Por André Luís Woloszyn
Analista de assuntos estratégicos, autor de “Terrorismo Global” (2009) e “Inteligência Militar” (2018)
Com as divulgações, entre o fim de abril e maio, pela Força Aérea norte-americana, de imagens captadas por pilotos de caça de objetos voadores não identificados (óvnis) em trajetórias e velocidades acima das possibilidades permitidas pela tecnologia atual, o assunto volta à tona e a mesma pergunta se repete. Estamos sozinhos no universo?
No Brasil, poucas pessoas sabem, além dos aficionados pelo tema, que ocorreram diversos avistamentos e alegações de abdução, desde o ano de 1957, mantidos em segredo pelo governo e por testemunhas que não desejavam se passar por mentirosos ou portadores de algum tipo de paranoia. Fatos esses dignos de serem relatados em uma série brasileira como O Projeto Livro Azul (sobre o Project Blue Book, série de estudos realizados pela Força Aérea dos EUA) – caso existisse um documentário semelhante no país.
O mais famoso caso, considerado “o Roswell brasileiro” (em referência ao célebre “caso Roswell”, que teve lugar nos EUA de 1947), ocorreu em 1977, conforme consta no relatório nº 1802/320/ABE/77, à disposição para consultas no Arquivo Nacional, em duas cidades do interior do Estado do Pará, originando uma investigação do então Serviço Nacional de Informações em conjunto à Força Aérea Brasileira, na denominada Operação Prato, nome em referência ao formato dos objetos avistados.
Na época, foram feitas inúmeras denúncias na pequena cidade de Colares, a cerca de cem quilômetros de Belém, e no município vizinho de Vigia. A população, apavorada, afirmava ter visto objetos estranhos no céu, brilhantes, que disparavam feixes de luz e, ao atingirem as pessoas, causavam uma queimadura na pele semelhante ao efeito da aplicação de raios lazer. A crença popular era de que os raios partiam de seres extraterrestres, com o objetivo de chupar o sangue das pessoas, o que causou pânico nos residentes. Daí surgiu à figura do Chupa-Chupa, apelido surgido da crença de serem entes alienígenas.
Para apurar os fatos, duas equipes do 1º Comando Aéreo Regional foram enviadas à região e distribuídas nos locais nos quais se comentava com maior frequência o aparecimento do óvni. Após alguns dias de vigília, a equipe conseguiu fotografar um objeto que estava a uma altura de aproximadamente 3 mil metros e desenvolvia, segundo as testemunhas, uma velocidade calculada, empiricamente, em mais ou menos 30 mil quilômetros por hora, o que o diferenciava de satélites e meteoritos, que também foram observados uma vez que a luz da cidade era desligada, pontualmente, às 22h.
O principal depoimento referente a esse episódio foi documentado pela médica do posto de saúde local. A doutora Wellaide Cecim de Carvalho afirmou ter visto os objetos nos dias 22 e 23 de outubro de 1977, descrevendo como metálicos, luminosos, de forma cilíndrica que faziam evoluções em alta velocidade. Chegou a atender quatro pacientes que alegavam terem sido atacados pela luz. Segundo a médica, esses apresentavam “uma sintomatologia de etiologia desconhecida, com paresia generalizada, hipertermia, cefaleia e queimaduras superficiais de primeiro grau, além de náuseas, tremores do corpo, tonturas, astenia e minúsculos orifícios na pele”. Na vítima do sexo feminino, observou três minúsculos orifícios acima dos seios e nos três pacientes do sexo masculino, os mesmos orifícios, no pescoço, próximo a carótida.
Uma das questões que contribuíram para aumentar as dúvidas foi o que se viu nas fotografias tiradas pelas equipes de investigação quando da revelação do filme. As imagens mostravam apenas uma mancha clara, como se fosse uma luz intensa, situação que não permitiu qualquer conjectura sob a sua forma, mas que, segundo o relatório, tendia para um círculo. Em outra oportunidade, a fotografia mostrou apenas uma mancha preta, como se tivesse queimado o filme, concluíram os estudiosos.
Chama a atenção que, embora os investigadores da Força Aérea Brasileira tenham gerado um relatório das observações, os próprios militares não se pronunciaram por décadas temendo caírem no ridículo.
O resultado das investigações não foi conclusivo, mas a hipótese de um objeto de origem extraterrestre nunca foi descartada e, agora, no contexto das novas informações liberadas pelo Pentágono dos EUA, há a probabilidade de que tenham sido, de fato, de origem extraterrestre. É preciso lembrar que, na data dos acontecimentos, estávamos no contexto da Guerra Fria e não se descartava a possibilidade de serem aeronaves de alta tecnologia sendo testadas tanto por norte-americanos como pelos soviéticos em território brasileiro.