A República Democrática do Congo proclamou nesta quinta-feira o fim de sua décima epidemia de ebola, o que permite concentrar-se em outros desafios sanitários, como um novo surto dessa febre hemorrágica, o coronavírus ou sarampo.
"Os vírus não param", observou o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, parabenizando as autoridades por sua "vitória" sobre a segunda mais grave crise de ebola.
Declarada em 1º de agosto de 2018 no leste do país, a décima epidemia na RDC matou 2.277 pessoas, lembrou o ministro da Saúde, Eteni Longongo.
Somente a epidemia de ebola na África Ocidental em 2013-2016 provocou mais vítimas (mais de 11.000).
O ministro falou da "epidemia mais longa, mais complexa e mais mortal" da história da RDC, marcada por um "ativismo de grupos armados causando insegurança crônica".
O vírus afetou principalmente a província de Kivu do Norte, onde dezenas de grupos armados estão ativos.
Pela primeira vez, a vacinação foi usada em larga escala, em mais de 320.000 pessoas.
As autoridades locais de saúde e a OMS esperam que a experiência sirva para conter rapidamente o novo surto no oeste, a mais de 1.000 km de distância. Ele foi declarado em maio na província de Equateur, sem vínculo epidemiológico com a crise da saúde que está terminando.
Um total de 24 casos (21 confirmados e 3 prováveis) foram registrados, com 13 mortes associadas, de acordo com a OMS.
O professor Jean-Jacques Muyembe, responsável pela luta contra o ebola, observou que o vírus estava migrando da capital provincial Mbandaka para aldeias mais distantes e de difícil acesso.
"A população pede a vacina. A luta será muito mais fácil", espera o professor Muyembe, um dos descobridores do vírus ebola nessa mesma província em 1976.
- Militarização -
A RDC também enfrenta a pandemia do novo coronavírus, com um aumento de casos (6.411, incluindo 142 mortes).
Os testes passaram de 50 para 800 por dia, disse o professor Muyembe, também na linha de frente na luta contra a COVID-19.
As medidas de prevenção contra o ebola são as mesmas do novo coronavírus, observaram a OMS e as autoridades de saúde em coletiva de imprensa virtual.
No leste, equipes de combate ao ebola são alvos da violência.
Um médico camaronês da OMS foi morto a tiros em abril de 2019 em Butembo, um dos epicentros da doença e, no total, a ONU conta "11 mortes entre profissionais da saúde e pacientes".
Os moradores reagiram violentamente ao fluxo de médicos e trabalhadores humanitários estrangeiros muito bem pagos, circulando em veículos 4x4, percebidos como sinais externos insolentes de riqueza.
"É essencial dar às pessoas a oportunidade de se apropriarem da resposta, caso contrário corremos o risco de ser contraproducentes", reconhece Abdou Dieng, coordenador da luta contra o ebola nas Nações Unidas.
A violência também foi alimentada pelas somas de dinheiro despejadas na região para combater o ebola.
"A injeção de centenas de milhões de dólares (...) criou um terreno fértil para conflitos de interesse e competição por lucro", diz a agência de notícias especializada The New Humanitarian (TNH) em um pesquisa recente sobre "Ebola business".
Para garantir a segurança das equipes, a OMS "militarizou" a ação sanitária pagando altas somas às forças de segurança (entre 300 e 400 dólares por mês, em um país onde a renda média anual per capita é de cerca de 500 dólares).
No início do ano, a OMS também alertou sobre "a pior epidemia de sarampo no mundo" atualmente em curso na RDC, com mais de 6.000 mortos.
"Vamos permanecer vigilantes: o vírus ebola ainda está em Equateur, enquanto a RDC ainda luta contra a COVID-19, o sarampo e a cólera", resumiu a ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF).
* AFP