O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, pediu uma "vacina do povo" contra o coronavírus que, uma vez desenvolvida, deve estar disponível para todos no planeta. A fala foi dada durante abertura de uma reunião virtual internacional de arrecadação de fundos para a Aliança para a Vacina (GAVI).
— Uma vacina contra a covid-19 deve ser vista como um bem público mundial, uma vacina para o povo — afirmou o português em uma mensagem de vídeo, na qual destacou que muitos líderes mundiais se declararam a favor da ideia.
O presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, que não participa da reunião ao vivo, enviou um discurso gravado.
— Como o coronavírus mostrou, ele não tem fronteiras, não discrimina — afirmou. — É ruim, é nojento, mas vamos lidar com isso juntos — acrescentou.
Com a participação de mais de 50 países e de cerca de 35 chefes de Estado e de governo, a cúpula busca arrecadar US$ 7,4 bilhões (6,6 bilhões de euros) para que a GAVI possa continuar suas campanhas mundiais de vacinação contra doenças como sarampo, poliomielite, ou febre tifoide, interrompidas pela pandemia de covid-19.
Também visa a arrecadar US$ 2 bilhões para a produção e a distribuição nos países mais pobres de uma possível futura vacina contra o coronavírus. Desde que surgiu na China, em dezembro, a covid-19 já deixou 385 mil mortos em todo mundo.
"Unir a humanidade"
A cooperação mundial contra a pandemia também foi o desejo manifestado pelo anfitrião, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson.
— Espero que esta cúpula seja o momento em que o mundo se junte para unir a humanidade na luta contra a doença — disse. —Peço que se juntem a nós no fortalecimento dessa aliança que salva vidas — insistiu Johnson.
O Reino Unido é o segundo país mais afetado pelo coronavírus, com quase 40 mil mortes confirmadas. Até agora, a nação é a maior colaboradora da GAVI, com 1,65 bilhão de libras (US$ 2,08 bilhões) prometidos pelos próximos cinco anos.
Muitas empresas farmacêuticas estão dispostas a disponibilizar sua capacidade de produção assim que uma vacina for desenvolvida, disse o bilionário americano Bill Gates, cuja fundação é muito ativa nessa área. Isso é essencial para garantir que tantas pessoas quanto possível tenham acesso à vacina, assim que for encontrada, afirmou o filantropo à BBC.
— Quando tivermos uma vacina, queremos desenvolver a imunidade coletiva — disse, reforçando que para isso devemos garantir que ela seja administrada a "mais de 80% da população mundial".
Gates também reconheceu que os rumores e as teorias conspiratórias que correm nas redes sociais podem minar esse objetivo.
"Poder monopolista"
A cúpula da GAVI é realizada em um momento delicado, em que a pandemia exacerbou os ataques contra o multilateralismo, em meio à ruptura de Trump com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e ao medo de que os Estados Unidos assumam o controle sobre futuras vacinas.
— É de grande importância, e estamos conseguindo que haja consenso e apoio internacional em todo mundo para encontrar uma vacina e fornecê-la a todos os vulneráveis, porque ninguém estará seguro até que todos estejam — disse à AFP a ministra britânica do Desenvolvimento Internacional, Anne-Marie Trevelyan.
Anna Marriott, responsável pela área de saúde da organização não-governamental Oxfam, aplaudiu o estabelecimento de um novo fundo para ajudar os países em desenvolvimento a acessarem uma futura imunização contra a covid-19. Em uma nota, ela enfatizou, porém, que "a GAVI e os governos que a financiam devem primeiro enfrentar o poder monopolista da indústria farmacêutica que impede a vacina para o povo".
— O dinheiro dos contribuintes deve ser investido em vacinas e tratamentos isentos de royalties e disponíveis para todas as nações a preço de custo — insistiu.