Em entrevista a GaúchaZH, a diretora geral de Migrações do Paraguai, Ángeles Arriola, relata como o governo está reforçando as restrições na fronteira com o Brasil, onde, inclusive, o exército paraguaio abriu valas para evitar o tráfego de veículos. A disparada de casos no Brasil tem preocupado não só o governo paraguaio, mas também de outras nações vizinhas, como Uruguai e Argentina.
Como vocês estão lidando com o aumento dos casos no Brasil?
Estivemos em Ciudad Del Este, que faz fronteira com Foz do Iguaçu, (terça-feira, dia 5). Tanto o ministro da Saúde quanto da Indústria e Comércio e do Interior manifestaram preocupação. É difícil a abertura (da fronteira) com o Brasil, tendo em vista a quantidade de casos no país vizinho, que obviamente não toma as medidas necessárias, e os casos de infecção aumentam.
Enquanto o governo brasileiro não tomar medidas fortes, o Paraguai não reabrirá a fronteira?
Isso mesmo. Até que o Brasil tome medidas fortes, mais restritivas e iguais às adotadas pelo Paraguai vai ser muito difícil a reabertura.
Como está a situação em locais de fronteira seca, como entre Ponta Porã (MS) e Pedro Juan Caballero?
Está bem contida porque aquela região está a cargo da força-tarefa conjunta, dos militares. Eles realizaram um cordão de isolamento ao longo da fronteira. Em todos os pontos de ingresso, quase 40, estão posicionados os militares. Compatriotas que desejam ingressar têm de fazê-lo por meio de nossos departamentos diplomáticos no país.
É verdade que foram cavadas valas na fronteira para evitar passagem de carros?
Sim, foram cavadas fossas porque caminhonetes estavam podendo passar. Os militares estão construindo uma barreira de arame. Fizeram uns 15 quilômetros.
É difícil controlar o acesso onde as pessoas cruzam a pé, não?
Foi dada aos brasileiros residentes ou que têm familiares em Ponta Porã ou Pedro Juan a opção de que escolham o lugar (para cumprir quarentena). Se preferem passar a pandemia em Ponta Porã, que aí fiquem. Se um brasileiro residente quiser ficar no Paraguai, pode.
Mas, uma vez que cruze, não pode voltar até o fim da pandemia.
O Paraguai tem números muito baixos de infecção. O número de infectados aqui é mínimo em relação à região e ao mundo. A quantidade de mortos é de apenas 10. Isso graças às medidas que tomamos desde o início. O governo foi um dos primeiros a fechar escolas e faculdades. No dia seguinte, o presidente fez o fechamento parcial de fronteiras.
As medidas deveriam ter sido tomadas como região ao mesmo tempo já que somos países vizinhos e com muitas questões comerciais em comum e residentes em ambos países
Em 1º de maio, dos 67 casos no Paraguai, 63 haviam sido infectados no Brasil. Como a senhora avalia essa informação?
Isso alerta as autoridades e nos dá a ideia de que está muito longe a abertura da fronteira.
Vocês estão preocupados com a situação do lado brasileiro?
Totalmente, e a previsão para o final de maio é alarmante. Com a Argentina também temos a mesma preocupação, mas eles têm adotado as mesmas medidas que nós.
Há previsão de reabertura?
Em 4 de maio, o presidente assinou decreto que flexibiliza certos setores do comércio. Uma quarentena inteligente, em que a primeira etapa durará até 21 de maio, onde se habilita a construção civil, mecânica e salões de beleza. Há cronograma, iremos analisando a cada 21 dias como vai evoluindo o contágio.
O Brasil errou ao demorar ao tomar medidas de contenção?
Vocês têm um país muito grande e com leis estaduais. É aí que surgem certos problemas. As medidas deveriam ter sido tomadas como região ao mesmo tempo já que somos países vizinhos e com muitas questões comerciais em comum e residentes em ambos países. Deveriam ser tomadas medidas pouco mais drásticas.
O isolamento social é muito importante. Hoje, estamos agradecendo, vendo os resultados. Temos apenas sete pessoas hospitalizadas. As estatísticas são muito baixas e isso se deve às medidas e à cidadania que está consciente.