Mesmo sendo aguardada depois da suspensão de voos da China e da Europa para os Estados Unidos em razão do coronavírus, o governo brasileiro tentava impedir que medida semelhante fosse adotada com relação ao país. Em contato diário com autoridades americanas, diplomatas do Itamaraty sabiam que a Casa Branca e o Departamento de Estado monitoravam com preocupação a situação do Brasil, com casos e mortes confirmadas por covid-19 aumentando em ritmo vertiginoso.
O argumento dos representantes brasileiros era de que transporte aéreo estava sendo utilizado quase que somente para cargas e repatriação de cidadãos. Desde março, o governo americano havia colocado o cenário brasileiro no radar e cogitava vetar os voos que chegam do país. Conforme o quadro ia se agravando, as chances da suspensão aumentavam.
Na sexta-feira (22), a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou que a América Latina era o novo epicentro da pandemia, e o Brasil era o país mais preocupante, então com 20 mil mortes e 310 mil casos confirmados. Dois dias depois, o presidente americano, Donald Trump, resolveu anunciar o veto à entrada de quem passou pelo território brasileiro.
Na semana passada, o presidente americano havia dito que cogitava suspender voos do Brasil, porque não queria "pessoas infectando nosso povo".
— Eu me preocupo com tudo, eu não quero pessoas vindo para cá e infectando nosso povo — afirmou Trump, na segunda vez em poucos dias que falava do assunto.
Horas depois, o embaixador brasileiro nos EUA, Nestor Forster, disse que não havia até então nenhuma decisão sobre o cancelamento das rotas ou imposição de restrições aos brasileiros que quisessem viajar aos EUA.
— Brasil e EUA seguem cooperando amplamente na resposta à pandemia. As autoridades americanas avaliam de forma permanente e rotineira a situação dos voos que chegam ao país, assim como o Brasil tem feito. Não há, no momento, nenhuma nova decisão quanto a cancelamento de conexões aéreas com o Brasil nem de imposição de restrições a este respeito — disse Forster.
Os EUA têm hoje mais de 1,5 milhão de casos e 95 mil mortes, e a chegada de americanos ao Brasil está vetada há pouco mais de um mês. A medida que impede a entrada de voos do Brasil nos EUA e similar à que os americanos impuseram à China e a países da Europa desde março. Nesses casos, só americanos ou estrangeiros com residência permanente nos EUA podem entrar no país vindo de nações sob restrição.
Trump evita criticar o presidente Jair Bolsonaro publicamente, mas fala da situação da pandemia no Brasil há semanas com gravidade e preocupação. Bolsonaro tem sido um dos poucos líderes da América Latina — e do mundo — a minimizar a gravidade da covid-19. O presidente brasileiro chegou a compará-la a uma gripezinha.
O presidente americano também já havia dito que sua principal preocupação com o aumento de casos no Brasil era na Flórida, que costuma receber muitos brasileiros, e é um Estado-chave na campanha para sua reeleição, com muitos latinos conservadores. Durante um encontro em 28 de abril com o governador da Flórida, o também republicano Ron DeSantis, Trump levantou a hipótese de proibir os voos do Brasil.
— O Brasil está tendo um grande surto. Eles foram por um caminho diferente do da maioria da América do Sul. Quando você olha os gráficos, infelizmente percebe o que está acontecendo com o Brasil — afirmou ele durante a reunião.
Na ocasião, o líder americano disse que provavelmente iria impor medidas para obrigar turistas brasileiros a passarem por testes rápidos de detecção de covid-19 e a terem suas temperaturas medidas antes de embarcarem em direção ao território americano, mas nada disso foi implementado.
Hoje há 13 voos semanais em operação entre Brasil e EUA, com destino à Flórida e ao Texas. As empresas podem continuar operando as rotas, mas os passageiros que se encaixarem na nova medida não poderão entrar nos EUA.