A primeira fase de infecções pelo coronavírus ainda não terminou nos Estados Unidos, mas especialistas advertem que uma segunda onda atingirá o país se o retorno à normalidade for muito rápido ou se acontecer a partir de maio, como espera o governo de Donald Trump.
O debate se assemelha ao que aconteceu na Europa, onde o governo espanhol autorizou nesta segunda-feira (13) a retomada parcial do trabalho, enquanto o presidente francês, Emmanuel Macron, anunciou a prorrogação da quarentena obrigatória. A grande diferença é que o sistema federal americano é altamente descentralizado e concede plenos poderes aos governadores de seus 50 Estados, mesmo se o presidente decidir coordenar uma estratégia nacional.
Após meio milhão de casos identificados, o número de infectados no país parece se estabilizar. Mas, para o diretor dos Centros para o Controle de Enfermidades (CDC), Robert Redfield, isso não deveria levar a uma suspensão das regras de distanciamento social e trabalho remoto de uma hora para a outra.
— A reabertura será um processo gradual, baseado em dados — disse, na manhã desta segunda-feira, à rede de TV NBC.
O coronavírus não terá desaparecido após o fim do confinamento, ele alertou: a grande maioria da população continuará sujeita à infecção até o desenvolvimento de uma vacina. O objetivo da primeira fase era evitar que muitas pessoas adoecessem ao mesmo tempo e os hospitais ficassem congestionados, ressaltou. Contudo, o vírus continuará circulando.
— Acordem, até 50% deste país será infectado! — alertou nesta segunda-feira, na rede de TV MSNBC, Michael Osterholm, diretor do Centro de Pesquisas de Doenças Infecciosas da Universidade de Minnesota.
Autoridades planejam retomar lentamente a normalidade, enquanto monitoram um possível reinício da epidemia. Os projetos acadêmicos e de especialistas sobre como chegar a esse estágio são abundantes, mas a Casa Branca ainda não formulou nenhum.
O presidente americano, Donald Trump, parecia, inclusive, incomodado com as declarações de um cientista que se tornou celebridade durante a pandemia, Anthony Fauci, diretor do Instituto de Doenças Infecciosas dos Estados Unidos e membro da célula de crise da Presidência sobre o coronavírus.
O pesquisador assinalou na TV que o número de mortes poderia ter sido menor se o país tivesse reagido rapidamente. Trump, na defensiva, compartilhou ontem uma mensagem com a hashtag #FireFauci.
"No fim do começo"
Todas as indicações de especialistas apontam que deve ser feito um número maior de testes e deve haver mais formas de rastrear os casos positivos e seus contatos, bem como os hospitais devem contar com um número maior de leitos.
"Se abrirmos o país em 1º de maio, não há dúvida de que haverá um aumento" dos casos da doença, alertou na CBS Christopher Murray, diretor do Instituto de Avaliação e Medição de Saúde da Universidade Estadual de Washington. Talvez alguns Estados possam começar em meados de maio. Outros, não, assinalou.
O pior ainda não passou, conforme os especialistas, e há o risco de passar uma falsa impressão de vitória. A costa oeste entrou em confinamento relativamente cedo e evitou o destino de outros Estados, como Nova York, Nova Jersey, Louisiana e Michigan. No Texas, o governador deve divulgar esta semana um cronograma para aliviar o confinamento.
— Não há dúvida de que começaremos a reabrir de forma arriscada. É inevitável — disse o especialista Scott Gottlieb, que esteve à frente da Administração de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA).
— Precisamos de um consenso nacional — insistiu o epidemiologista Michael Osterholm. — Isso não pode ser feito governador por governador. Não estamos no começo do fim, e sim no fim do começo. O caminho ainda é longo.