Parece estar começando a dar resultado o confinamento imposto em vários países europeus, devido à pandemia de coronavírus, embora a doença continue matando pessoas e seja necessário manter a guarda para contê-lo — alertam especialistas ouvidos pela AFP.
A esperança levantada nos últimos dias pela queda do número de mortos por covid-19 na Itália, na França e na Espanha foi enterrada na segunda-feira (6), com um novo aumento na quantidade de óbitos. Existem outros sinais encorajadores, no entanto, como o saldo de hospitalizados em cuidados intensivos, que está diminuindo nesses três países, os mais atingidos na Europa, e que sugere que o pico da epidemia está próximo.
— Mesmo que lentamente, começamos a observar uma queda na pressão sobre hospitais e unidades de cuidado intensivo — afirma a doutora María José Sierra, do Centro de Coordenação de Alertas e Emergências de Saúde da Espanha.
Na Itália, o número de pacientes em cuidados intensivos também continuou diminuindo na terça-feira (7), pelo quarto dia consecutivo, com uma redução de 106 em 24 horas. Na França, a mesma dinâmica é observada. O número de pacientes em cuidados intensivos aumentou em 59 de segunda para terça-feira, cerca de oito vezes menos do que o aumento diário da semana anterior.
— Este é o critério mais importante, porque é o que coloca nossos hospitais sob grande pressão — destacou o ministro da Saúde, Olivier Véran.
"Microssinais"
— São microssinais encorajadores que nos fazem pensar que a curva da epidemia está desacelerando — disse à AFP o professor Philippe Vanhems, epidemiologista do hospital Edouard Herriot de Lyon, na França.
— O confinamento, combinado com as outras duas medidas fundamentais de distanciamento social e gestos de barreira, parece estar surtindo efeito no avanço da epidemia — observa Arnaud Banos, do Centro Francês de Pesquisa Científica.
— Isso reduz a porcentagem de pessoas que se infectam, mas leva tempo até que os efeitos sejam vistos — explica Catherine Hill, uma epidemiologista aposentada que analisa diariamente as curvas mundiais da pandemia.
Mas as pessoas continuam se infectando, já que o vírus Sars-CoV-2 continua circulando, alerta ela. Por isso, a necessidade absoluta de se manter um confinamento rigoroso, insistem os especialistas.
— É justamente porque vemos os primeiros sinais de que o confinamento está funcionando que devemos continuar — argumenta o presidente do Conselho Científico sobre o Coronavírus na França, Jean-François Delfraissy.
Na população, há uma proporção, ainda não estimada com precisão, de pessoas infectadas sem sintomas, "mas que podem infectar outras pessoas", detalha o doutor Vanhems.
Atingir um platô
Esta grande incógnita dificulta as previsões. O cenário mais otimista seria estabilizar a curva para atingir um "platô", termo frequentemente preferido para "pico", o que implica um rápido declínio, algo que é improvável.
— O objetivo é fazer esse platô durar — explica Arnaud Banos.
Se as medidas de confinamento continuarem sendo respeitadas, esse platô poderia finalmente tender a cair e, assim, "venceríamos" a luta contra o coronavírus. Mas, no caso de um "desconfinamento" apressado, o risco é que a curva comece a crescer novamente.
— As previsões nos mostram que, uma vez atingido o platô e relaxada a pressão, ocorre um rebote da epidemia, porque pessoas que até agora estavam protegidas e que entraram em contato com o vírus serão liberadas — adverte o especialista.
E o medo é que um otimismo exacerbado leve ao relaxamento das medidas. O comissário do governo italiano encarregado do coronavírus, Domenico Arcuri, alertou contra qualquer "ilusão de ótica".
— Estamos longe da saída — enfatizou.
Para Vanhems, falar muito cedo de "desconfinamento" pode criar uma situação de risco. Por isso, ele pede "uma maior vigilância de todos os indicadores epidemiológicos", como entradas nas unidades de cuidados intensivos, número de pessoas infectadas, mortes, chamadas para o número de emergência, entre outros.
Na cidade chinesa de Wuhan, berço da epidemia, as autoridades suspenderam, nesta quarta-feira (8), o confinamento decretado há dois meses e meio. Alguns dias antes, pela primeira vez desde o início da epidemia, o país não anunciou qualquer morte por covid-19.