A divisão que marca a cena política americana estará no centro das atenções desta terça-feira (4), quando o presidente Donald Trump pronunciar o discurso do Estado da União no Congresso, pouco antes da conclusão do processo de impeachment em curso contra ele.
Este discurso é um evento crucial no panorama político nos Estados Unidos e é uma das poucas ocasiões em que as divisões partidárias são deixadas de lado para ouvir a visão do presidente sobre o futuro do país.
Desta vez, Trump percorrerá as poucas quadras que separam a Casa Branca do Capitólio, no momento em que a divisão e os atritos atingem um nível que não se via há décadas e que é possível que se aprofunde, à medida que as eleições presidenciais de novembro se aproximam.
A Casa Branca prometeu que vai ser "implacável" na hora de destacar sua gestão da economia e da "bonança" para os trabalhadores da classe operária, quando subir à tribuna às 21h locais (23h em Brasília).
"Acredito que este discurso vai ter um tom muito otimista", disse um funcionário à imprensa.
Trump vai entrar no plenário onde, em dezembro passado, foi acusado pela Câmara de Representantes de cometer abuso de poder e obstrução ao Congresso, iniciando o julgamento político contra ele. O processo está em curso no Senado, onde a maioria republicana deve absolvê-lo na quarta-feira.
- Acalmar ou agitar as águas? -
O discurso também pode ser uma oportunidade de falar ao país e sanar o clima de desconfiança e divisão.
Trump pode expressar arrependimento por ter pressionado o presidente ucraniano para que investigasse seu rival político Joe Biden. Um comportamento que foi considerado inadequado mesmo por alguns senadores republicanos durante o julgamento político. Estes mesmos políticos esclareceram, contudo, que não é um erro que mereça o impeachment.
Também pode apostar na estratégia adotada por Bill Clinton, quando foi ele mesmo alvo de um processo de impeachment, e em seu discurso de 1999 tentou acalmar as águas, simplesmente evitando o tema.
Os funcionários da Casa Branca afirmam que não sabem o que Trump vai fazer.
"Nunca é seguro assumir nada", disse um funcionário de alto escalão do governo, ao ser questionado sobre se o julgamento político vai ser parte do discurso do presidente.
Em entrevista ao jornal "The New York Times", o senador republicano Roy Blunt defendeu que esta é uma oportunidade de "seguir adiante". Ele reconheceu, porém, que Trump não é o tipo de pessoa que baixa o perfil nos debates.
"A outra opção é abordar (o tema) de frente e, em geral, ele é este tipo de pessoa", disse seu correligionário.
- Fim de caso
E, enquanto Trump se prepara para discursar, o Senado se prepara para encerrar o julgamento político contra o presidente.
Nesta segunda, acusação e defesa apresentaram suas alegações finais e, amanhã, quarta, está prevista a votação do veredicto, mas os democratas já prometeram seguir sua estratégia de pressão contra o presidente.
"A trama persiste, os esquemas seguem, e o perigo não diminui", disse Adam Schiff, o congressista democrata que lidera a acusação contra Trump e que desafiou os republicanos a reconhecerem a "terrível verdade" do que acontece.
O discurso sobre o Estado da União se soma ainda ao início das primárias para as eleições de novembro, após a realização do "caucus" em Iowa nesta segunda. Na próxima semana, as votações seguem em New Hampshire e, a partir daí, o calendário eleitoral vai se acelerar ainda mais.
Vários dos democratas que aspiram a enfrentar Trump nas eleições presidenciais são jurados do julgamento político em sua qualidade de senadores: Amy Klobachar, Bernie Sanders e Elizabeth Warren.
Para a réplica ao discurso presidencial, o Partido Democrata escolheu a governadora de Michigan, Gretchen Whitmer. A versão em espanhol ficará por conta da congressista latina pelo Texas Verónica Escobar, que denunciou a dura política migratória de Trump e foi um importante suporte de sua comunidade após o ataque cometido em 2019 na cidade de El Paso.
* AFP