Depois de 134 dias, o processo de impeachment contra o presidente Donald Trump chegou ao fim nesta quarta-feira (4). Como já era esperado, o Senado americano absolveu o republicano por 52 votos a 48 da acusação de abuso de poder, e por 53 a 47 da de que ele teria obstruído os poderes de investigação do Congresso.
O caso envolvendo Trump começou em setembro após a imprensa americana revelar detalhes de uma ligação na qual o americano pressiona o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, a investigar Hunter Biden, filho de um possível rival seu na eleição presidencial de 2020 -o democrata Joe Biden, ex-vice de Barack Obama (2009-2017).
Confira a seguir um resumo de tudo que aconteceu.
21 de abril de 2019 — A primeira conversa
O presidente americano, Donald Trump, liga para parabenizar o recém-eleito presidente da Ucrânia, o ator e comediante Volodimir Zelenski (que tomaria posse em maio). Os dois trocam elogios na ligação (que teve sua transcrição divulgada em novembro), mas não se estendem sobre nenhum assunto.
25 de abril 2019 — Biden lança candidatura
O ex-vice-presidente de Barack Obama (2009 - 2017) anuncia sua pré-candidatura às eleições de 2020.
Maio de 2019 — Troca de embaixador
A diplomata de carreira Marie Yovanovitch foi demitida do posto de embaixadora em Kiev após pressão do advogado pessoal de Trump, Rudy Giuliani, e de Lev Parnas, um empresário da Flórida que teve papel central na campanha para pressionar a Ucrânia.
3 de julho de 2019 — Pacote de ajuda é congelado
Em seu testemunho perante a Câmara dos Deputados, o tenente-coronel do Exército Alexander Vindman afirmou que tomou conhecimento já no início de julho que a Casa Branca ordenou a suspensão do envio de um pacote de pacote de ajuda militar de US$ 391 milhões (cerca de R$ 1,6 bilhão).
25 de jullho de 2019 — A ligação da discórdia
Trump liga novamente para falar com Zelenski, que agora já tomou posse. É nessa conversa que o americano pede ao ucraniano para que ele investigue Hunter Biden, filho de Joe Biden, pré-candidato democrata à Presidência. Hunter fez parte do conselho de administração de uma empresa suspeita de corrupção na Ucrânia -foi esse caso que deu início ao processo de impeachment. O conteúdo da ligação foi divulgado em setembro.
12 de agosto de 2019 — A primeira denúncia
Um agente que participou como ouvinte da ligação de julho (e que não teve a identidade revelada) faz uma denúncia à CIA (a agência de inteligência americana) de que o presidente teria abusado de seu poder ao pressionar Zelenski e que isso ameaçava o sistema eleitoral americano. Em 19 de setembro, o jornal The Washington Post revela o caso.
10 de setembro de 2019 — Demissão de Bolton
Trump demite seu assessor de Segurança Nacional, John Bolton. Mais tarde, surgiriam evidências de que ele recebeu ordens diretas de Trump para reter o pacote de ajuda até que a Ucrânia anunciasse a reabertura do inquérito envolvendo os Bidens.
24 de setembro de 2019 — Abertura do impeachment
"Isto é uma violação da Constituição americana. O presidente precisa ser responsabilizado. Ninguém está acima da lei". Assim a presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, a democrata Nancy Pelosi, anuncia ao país a abertura do processo de impeachment contra Trump por causa do caso.
8 de outubro de 2019 — Casa Branca recusa pedidos da Câmara
A Casa Branca se nega a entregar documentos requisitados pelos deputados e proíbe que seus funcionários prestem depoimentos à Câmara. A decisão é a base da segunda acusação contra Trump, a de que o presidente obstruiu os poderes de investigação do Congresso.
31 de outubro de 2019 — Câmara dá apoio ao inquérito
Na primeira votação sobre o caso, 232 deputados são favoráveis à continuação do inquérito contra Trump -196 são contrários. O placar refletiu a polarização da Casa: nenhum republicano votou a favor da continuação do processo, enquanto apenas dois democratas se rebelaram e votaram contra o inquérito (portanto, a favor do presidente).
A divisão partidária se repetiria em todas as votações subsequentes no Congresso.
De 13 a 21 de novembro de 2019 — Depoimentos públicos
Em audiências públicas (antes elas eram fechadas), o Comitê de Inteligência da Câmara entrevista 12 testemunhas do caso -todos atuais ou ex-integrantes do governo. Em seu depoimento, a ex-embaixadora dos EUA na Ucrânia, Marie Yovanovitch, afirma que Trump fez uma "campanha de difamação" para tirá-la do cargo porque ela se recusou a ajudar a pressionar Zelenski.
Já Gordon Sondland, embaixador dos EUA para a União Europeia e doador republicano, afirma que pressionou o líder ucraniano por "ordem expressa" do presidente americano.
3 de dezembro de 2019 — Acusação contra Trump
Depois de dois meses de investigação formal, o Comitê Judiciário da Câmara aprova um relatório que acusa Trump de ter abusado do poder do cargo ao pressionar Zelenski pela investigação contra Biden. O texto acusa ainda o presidente americano de obstrução do Congresso ao tentar impedir a investigação sobre o caso. No dia 10, a Casa acusa formalmente o presidente nos dois artigos.
18 de dezembro de 2019 — Deputados aprovam o impeachment
Em uma sessão histórica, Trump se torna o terceiro presidente da história americana a ter seu impeachment aprovado na Câmara (os dois anteriores foram absolvidos no Senado). Foram 230 votos a favor da acusação de abuso de poder (197 contrários) e 229 a favor da acusação de obstrução do Congresso (198 conta). A lei americana determina que o presidente deve seguir no cargo até o fim do julgamento no Senado.
15 de janeiro de 2020 — Processo chega ao Senado
Por quase um mês, o processo contra o presidente ficou parado devido a uma queda de braço entre deputados e senadores. Pelosi, presidente da Câmara, disse que só iria enviar o texto para a Casa vizinha se o líder dos republicanos no Senado, Mitch McConnell, se comprometesse a convocar novas testemunhas, o que ele se recusava a fazer.
Os democratas esperavam que as testemunhas que foram barradas do processo na Câmara fossem finalmente ouvidas.
No fim, a deputada acabou aceitando a posição dos senadores e enfim enviou o processo. No dia seguinte, os senadores prestam o juramento do júri e no dia 21 o julgamento do presidente começa oficialmente.
26 de janeiro de 20 — O livro de Bolton
O jornal The New York times revela que em um livro não-publicado, o ex-assessor de segurança nacional de Trump, John Bolton, afirma que o presidente lhe disse que iria suspender o envio de um pacote de ajuda à Ucrânia como forma de pressionar Zelenski a investigar os Bidens.
O congelamento da verba já era de conhecimento público, mas a afirmação do ex-assessor aumentou a suspeita de que o republicano usou o dinheiro para propor uma troca de favores com o ucraniano.
31 de janeiro de 2020 — Senadores recusam testemunhas
Grande questão ainda a ser decidida, a convocação de novas testemunhas -em especial, de Bolton- monopoliza as atenções do Senado. Os democratas (minoria na Casa) tentam convencer republicanos moderados sobre a medida, mas no fim a proposta é rejeitada por 49 votos a favor e 51 contrários. Com isso, o debate fica restrito a uma guerra de versões, com os procuradores indicados pela Câmara (um grupo de deputados democratas) defendendo a condenação de Trump e os advogados do presidente pedindo sua absolvição.
5 de fevereiro de 2020 — Trump é absolvido
Com amplo apoio entre a maioria republicana no Senado, Trump foi absolvido das duas acusações. No caso do abuso de poder, foram 52 votos a favor de presidente e 48 pela condenação.
O republicano Mitt Romney, de Utah, foi o único a votar contra a orientação de seu partido e a favor da condenação. Dois senadores independentes acompanharam os democratas, que votaram em massa pela saída de Trump.
Já na obstrução do Congresso foram 47 votos pela condenação e 53 pela absolvição; novamente, dois senadores independentes apoiaram os democratas.
Eram necessários 67 votos (dois terços) para remover Trump.