Em protesto contra o governo do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, a ministra da Família, Mulher e Direitos Humanos, Damares Alves, deixou o salão onde acontece a 43ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas (ONU) no momento em que o chanceler venezuelano, Jorge Arreaza, discursava. O Brasil não reconhece o governo de Maduro e dá apoio a Juan Guaidó, opositor e autoproclamado presidente da Venezuela.
Nas redes sociais, a ministra publicou um vídeo que a mostra se levantando e saindo da sala acompanhada de seus assessores. Ela chamou o regime venezuelano de ditadura.
"Hoje, na ONU, em Genebra (Suíça), nos retiramos do recinto quando o representante da ditadura de Nicolás Maduro começou a falar. Não daremos palanque a regime ilegítimo e sanguinário. Chega. O povo venezuelano não aguenta mais. As crianças daquele país pedem socorro. #direitoshumanosparatodos", escreveu.
A ministra chefia a delegação brasileira na sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, na Suíça. Ao se levantar e deixar o recinto, Damares foi acompanhada pelos demais membros da delegação brasileira que participam do principal encontro de líderes internacionais sobre direitos humanos. A sessão começou na segunda-feira (24), em Genebra, na Suíça, e termina no próximo dia 27, e conta com a participação de mais de 100 ministros e altas autoridades da área dos países-membros da ONU.
Protesto orquestrado
De acordo com informações da coluna de Jamil Chade, do UOL, o ato da ministra foi orquestrado. Conforme o jornalista, a chefe da pasta de Direitos Humanos estava participando da inauguração de uma exposição de fotos, quando foi convidada pela embaixadora brasileira a entrar na sala de reuniões onde Arreaza iria discursar. À frente da ministra, câmeras estavam ligadas.
No momento em que o chanceler venezuelano começou a discursar, Damares levantou-se e saiu, rumo a um almoço com a embaixadora. Outros países integrantes do Grupo de Lima também promoveram o boicote, mas não se levantaram para evitar criar constrangimento.
Ao terminar sua fala, Arreaza conversou com a coluna. Ao ser questionado sobre a importância do abandono de Damares, ele declarou que não havia "importância nenhuma".
— Sorte que ela (Damares) não estava — completou.
Tensões com a Venezuela
Ao discursar logo após a abertura da sessão, Damares já tinha classificado o atual regime venezuelano como "ilegítimo e autoritário". Além disso, em um evento paralelo no qual foi discutida a situação na Venezuela, a ministra declarou que o governo brasileiro "condena com a máxima veemência as graves violações dos direitos econômicos, sociais e culturais" ocorridas no país vizinho.
Damares também voltou a manifestar o apoio irrestrito do Estado brasileiro ao que classificou como "as forças democráticas venezuelanas", e também destacou o empenho brasileiro para recepcionar e oferecer abrigo a milhares de venezuelanos que cruzam as fronteiras fugindo à crise polícia, econômica e humanitária em seu país.
O protesto da ministra contra o regime venezuelano acontece enquanto há uma pressão de grupos de direitos humanos sobre o tema também no Brasil. Neste mês, por exemplo, as organizações da sociedade civil Conectas, Artigo 19 e IBCCrim divulgaram que enviaram apelo à ONU para o Brasil cobrar dos governos estaduais um maior compromisso com a garantia de direitos constitucionais como a livre manifestação em protestos.