A Organização Não Governamental (ONG) Transparência Internacional denunciou que o Brasil é vítima de "ingerência" por parte do presidente Jair Bolsonaro nos órgãos anticorrupção, conforme afirma em seu relatório anual publicado nesta quinta-feira (23). Conforme o documento, o chefe do Executivo nacional colocou durante sua campanha, em 2018, a luta contra a corrupção no centro de seu programa. Contudo, o Brasil sofreu neste campo "uma série de contratempos legais e institucionais".
A entidade denunciou uma "crescente interferência política nas instituições anticorrupção por parte do presidente Bolsonaro". Também lamentou as decisões do Supremo Tribunal Federal (STF), que complicam a luta contra a corrupção — como a anulação das delações premiadas.
"A corrupção continua sendo um dos maiores obstáculos ao crescimento econômico e desenvolvimento social no Brasil", afirmou a ONG em seu relatório anual.
Em 2019, o Brasil caiu uma posição e ocupa o 106º lugar entre os 180 países avaliados no Índice de Percepção da Corrupção (IPC). Elaborado pela ONG Transparência Internacional, o ranking atribui notas de zero a cem aos países, com base em pesquisas e relatórios sobre como o setor público é percebido por especialistas e executivos de empresas no que diz respeito à prática da corrupção.
O Brasil repetiu a mesma nota 35 recebida em 2018, a pior do país desde 2012. O resultado coloca o país atrás de outros latino-americanos como Argentina (66ª), Chile (26ª), Colômbia (96ª), Cuba (60ª), Equador (93ª) e Uruguai (21ª).
A Transparência Internacional classifica 180 países a cada ano de acordo com o nível de corrupção percebido no setor público. A classificação é liderada, como nos anos anteriores, pelos países nórdicos como os menos corruptos, com a Dinamarca em primeiro lugar e a Nova Zelândia em segundo. A Somália permanece na extremidade inferior, atrás do Iêmen, Síria e Sudão do Sul.
A ONG destaca a situação em Malta, marcada pelo assassinato em 2017 da jornalista Daphne Caruana Galizia. O relatório indica que a ilha está "atolada em corrupção". "Vários escândalos vinculados aos 'Panama Papers' também contribuem para o declínio de Malta na classificação", explica a TI.
Contudo, a ONG enfatiza que em Angola — país o qual saiu de quatro décadas de ditadura — a luta contra a corrupção apresenta efeitos. A entidade comemorou particularmente a demissão de Isabel dos Santos da companhia nacional de petróleo Sonangol.