O presidente chileno, Sebastián Piñera, anunciou nesta quinta-feira (7) uma série de medidas contra saqueadores e manifestações violentas, no âmbito de um pacote para aumentar o controle da ordem pública.
Há quase três semanas, o país está mergulhado em uma crise social que não dá trégua.
Um dia depois de confrontos, saques e incêndios terem sido registrados no bairro de Providencia, alcançando lugares até então relativamente ilesos dos protestos, Piñera divulgou nove medidas para reforçar o controle da ordem pública, ao mesmo tempo em que propôs dar urgência a um projeto de lei contra manifestantes encapuzados que provoquem confusão nas ruas.
"Estamos convencidos de que esta agenda representa e constitui um aporte significativo e importante para melhorar nossa capacidade de resguardar a ordem pública", justificou Piñera, em uma mensagem no Palácio presidencial.
As medidas incluem a apresentação de uma lei contra saques ao Congresso, que endurece a punição a esse tipo de crime.
O presidente anunciou ainda a criação de uma equipe especial de advogados para tratar dos crimes de desordem, de um estatuto especial para a proteção de policiais e a modernização do sistema nacional de Inteligência.
Piñera também convocou uma reunião do Conselho de Segurança Nacional (Cosena), integrado pelas principais autoridades do país.
O chefe do Executivo não fez qualquer nova proposta social ou política para enfrentar a crise, o que despertou fortes críticas na oposição.
"É apagar o fogo com gasolina. O problema é político e o presidente precisa entender isto", disse o senador da Democracia Cristã Francisco Huenchumilla.
"A convocação do Cosena é o pior sinal que se pode dar à população que exige uma mudança pacífica. Isto favorece o protagonismo dos grupos minoritários violentos, que buscam o confronto", avaliou o senador do Partido Socialista José Miguel Insulza.
- Tour ao "oásis" -
Nesta quinta-feira, uma convocação pelas redes sociais chamava para um "grande tour ao oásis", em referência ao bairro de Las Condes, uma região "nobre" de Santiago.
Na quarta-feira, as manifestações chegaram a zonas onde se concentra o poder econômico do Chile, e provocaram confrontos violentos, saques e destruição em torno do complexo Costanera Center.
Poucos dias antes do início dos protestos, Piñera havia qualificado o Chile como "um oásis" na América Latina.
Um protesto chegou a Vitacura, um bairro de residências e sedes de organismos internacionais, embaixadas e comércio de luxo.
Funcionários públicos da Saúde, que exigem há anos melhores salários e mais recursos para o atendimento básico, chegaram à sede do escritório regional da Organização Mundial da Saúde (OMS), em Vitacura.
Representantes do Colégio Médico, estudantes e funcionários de consultórios públicos exigiram da OMS que se posicione sobre "as violações dos Direitos Humanos e as mortes que ocorreram no Chile" durante os protestos.
"A corrida contra a destruição e o vandalismo vamos ganhar e junto com a municipalidade colocaremos Providência novamente de pé", disse a prefeita regional, Evelyn Matthei, que mais cedo foi pessoalmente controlar o trânsito diante da queda da sinalização.
A onda de protestos atinge com força a economia chilena, especialmente o peso, que chegou ao seu menor valor em 16 anos, junto às atividades de comércio e turismo.
A violência obrigou o governo a cancelar três eventos importantes: o encontro dos líderes da APEC, a cúpula da mudança climática COP-25 e a final da Copa Libertadores da América.
"Para a economia foi um desastre. Este trimestre vamos ter crescimento negativo, sem qualquer dúvida, e o dólar vai subir muito mais. Então é um quadro muito complicado e estou muito pessimista", avaliou nesta quinta-feira o economista Sebastián Edwards, professor da Universidade da Califórnia em Los Ángeles (UCLA).
Neste cenário, os organizadores da popular campanha Teletón, que arrecada dinheiro para ajudar crianças deficientes, decidiram adiar o evento para abril de 2020.
* AFP