Duas pessoas morreram nesta quarta-feira (9) e outras duas se encontram em estado grave após um ataque realizado por um homem armado que tentou invadir uma sinagoga na cidade alemã de Halle (leste), numa ação que foi gravada em vídeos pelo agressor, supostamente um radical de extrema-direita, que foi preso.
A ação do criminoso, que levava armas de grosso calibre, vestindo trajes militares e com uma câmera acoplada em um capacete, lembrou a realizada no ataque a duas mesquitas em Christchurch, Nova Zelândia, em março passado.
O balanço da agressão poderia ter tido sido mais trágico, pois o agressor não conseguiu entrar na sinagoga da cidade onde era celebrado o Yom Kippur, o dia do perdão, uma das principais festas judaicas.
No interior do templo, que não foi invadido porque as portas resistiram aos disparos do homem, havia cerca de 80 pessoas, informou o presidente da comunidade judaica de Halle, Max Privorotzki.
"Pelo que sabemos (...) é um ataque antissemita", declarou o ministro alemão do Interior, Horst Seehofer.
"Segundo a procuradoria federal, há indícios de uma possível motivação de extrema-direita", acrescentou.
A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, classificou o crime de atentado e à noite foi a uma sinagoga em Berlim para expressar sua solidariedade à comunidade judaica alemã.
O autor da agressão foi ferido e detido, anunciou um porta-voz da polícia.
- Ataque transmitido ao vivo -
No início da tarde (horário local), um homem chegou ao bairro de Paulus de Halle (175 quilômetros a sudoeste de Berlim) a bordo de um carro. Com uma câmera conectada ao capacete que usava, ele iniciou uma transmissão ao vivo em vídeo para um site e caminhou em direção à sinagoga fazendo um discurso contra os judeus.
"Vimos através da câmera de segurança da nossa sinagoga que um agressor muito bem armado, com um capacete e um fuzil, tentava abrir nossas portas", explicou Max Privorotzki.
Em seguida, ele colocou uma bomba no local, mas ela aparentemente não funcionou.
Após não conseguir entrar, ele se afastou do local andando e matou uma mulher que cruzou seu caminho.
Em seguida, abriu fogo contra um restaurante turco, segundo testemunhas.
A polícia decretou estado de alerta e solicitou aos moradores que não saíssem de casa.
A câmera acoplada no capacete do atirador transmitia imagens ao vivo da ação através da plataforma de streaming Twitch, especializada em jogos eletrônicos.
"Retiramos esse conteúdo o mais rápido possível e suspendemos todas as contas que publicaram ou republicaram as imagens desse ato abominável", disse uma porta-voz da Twitch à AFP, sem especificar quanto tempo esse material ficou disponível na internet.
"Ele jogou uma granada que explodiu na porta do restaurante", disse Conrad Rossler, uma testemunha que estava dentro do estabelecimento, à rede de televisão NTV.
"O homem então disparou pelo menos uma vez dentro do local. O homem atrás de mim deve ter morrido. Eu me escondi no banheiro e fechei a porta", disse, chocado.
Em um vídeo filmado por uma testemunha, o agressor, aparentemente calmo, abre fogo com uma arma de cano longo semiautomática na rua.
Logo em seguida, começa um troca de tiros com forças de segurança que chegam ao local. O atirador parece ter sido ferido e depois entra no seu carro e foge.
- Medo da violência de extrema-direita -
Este ataque ocorreu alguns meses após o assassinato, em Hesse, de Walter Lubcke, vereador local do partido conservador da chanceler alemã Angela Merkel (CDU). O principal suspeito é um membro dos movimentos nazistas.
Este crime gerou uma onda de choque na Alemanha, onde a extrema-direita contrária aos imigrantes não para de crescer nas eleições.
A ação despertou o temor do retorno de atos de terrorismo de extrema-direita, como os realizados pelo grupo neonazista NSU, responsável pela morte de uma dezena de imigrantes na Alemanha entre 2000 e 2007.
Além dos crimes cometidos pelo NSU, ocorreram outras ações, como o ataque à faca contra a prefeita de Colonia, Henriette Reker, em 2015, e, dois anos depois, contra o prefeito de Altena, Andreas Hollpein.
* AFP