Centenas de milhares de separatistas catalães manifestaram-se neste sábado em Barcelona, em um dia que terminou com choques entre manifestantes e a polícia, uma semana depois de distúrbios violentos motivados pela condenação à prisão de nove líderes separatistas.
Aos gritos de "Liberdade!" - lema da manifestação - "Independência!" e "Liberdade aos presos políticos!", 350 mil pessoas, segundo a polícia, reuniram-se perto do Parlamento da Catalunha, convocadas pelas influentes associações separatistas Assembleia Nacional da Catalunha (ANC) e Omnium Cultural, que organizam regularmente manifestações em massa.
— Estou aqui para pedir liberdade aos presos políticos e exigir justiça— declarou Elena Cañigueral, uma vendedora de 53 anos que usava uma bandeira da independência e uma camisa amarela, cor que identifica o movimento.
Elisenda Paluzie, presidente da ANC, afirmou em discurso:
—Continuaremos defendendo a liberdade. Quanto mais repressão, mais mobilização.
Um helicóptero da polícia que sobrevoava a área foi vaiado pela multidão, marchando sob uma maré de bandeiras catalãs e entre faixas com mensagens como "República Catalã" ou "anistia".
Esta foi a primeira grande manifestação em Barcelona desde os distúrbios que deixaram cerca de 600 feridos na Catalunha nos dias seguintes à condenação de nove líderes separatistas a penas de até 13 anos de prisão.
Choques
O ambiente pacífico desta passeata, da qual participaram famílias e idosos, contrastou com o de outra, convocada pelos Comitês de Defesa da República (CDR) contra a "repressão policial", que terminou em confrontos na capital catalã.
Os manifestantes, a maioria jovens e muitos com o rosto coberto, repetiam "Filhos de Franco!", referindo-se ao ditador que governou a Espanha entre 1939 e 1975, e "Fora forças de ocupação!" e "Fora bandeira espanhola!", e lançaram durante horas objetos como latas, bolas e garrafas contra o batalhão de choque nas ruas adjacentes.
Os policiais, que, num primeiro momento, mostraram-se passivos, responderam mais tarde com golpes e balas de espuma para remover os manifestantes, em um confronto que deixou feridos e presos.
Apesar da tensão, a violência não foi comparável à da semana passada, que deixou 600 feridos, pouco menos da metade policiais, e 200 detidos.
No domingo, será a vez dos anti-independência, que vão desfilar pelo Paseo de Gracia, em resposta à convocação da Sociedade Civil Catalã, que organizou grandes protestos após a tentativa secessionista de outubro de 2017.
Em 14 de outubro, cerca de 10.000 pessoas tentaram paralisar o aeroporto de Barcelona, entrando em choque com a polícia.
Depois, de terça a sexta-feira, manifestações nas principais cidades desta região, de 7,5 milhões de habitantes, degeneraram em violência.
Manifestantes ergueram barricadas e lançaram pedras, bolas de aço e coquetéis molotov contra a polícia, que respondeu com gás lacrimogêneo e balas de borracha: cenas inéditas num movimento separatista que sempre defendeu se caráter pacífico.
Muitos jovens justificaram a violência pela falta de resultados das grandes marchas pacíficas.
Um total de 367 civis ficaram feridos e quatro deles perderam um olho, segundo a secretaria de saúde do governo regional catalão, e 289 policiais ficaram feridos, segundo a porta-voz do governo espanhol.
A tensão diminuiu e na sexta-feira à noite alguns milhares de estudantes se manifestaram calmamente em Barcelona contra a "repressão policial".
"Neste sábado, o grito de 'Liberdade' ressoará nas ruas de Barcelona", escreveu Omnium em sua conta no Twitter.
"O separatismo não é a Catalunha"
A marcha anti-independência de domingo pretende "dizer 'basta' à violência que experimentamos e ao confronto" buscado pelo governo separatista regional, disse à AFP o presidente da associação Sociedade Civil Catalã, Fernando Sánchez Costa.
Membros do governo socialista, incluindo o ministro das Relações Exteriores, o catalão Josep Borrell, que será chefe da diplomacia europeia, participarão da marcha.
Também marcarão presença políticos da oposição de direita, que pedem ao governo medidas excepcionais contra a violência na Catalunha, antes das eleições legislativas de 10 de novembro.
— Acredito que o governo está fazendo o que precisa — respondeu na sexta-feira o chefe do Executivo Pedro Sánchez. — Existem grupos violentos que procuram fazer desta crise uma crise permanente, mas eles receberão uma resposta serena, mas firme.
No poder desde junho de 2018, graças a uma moção de censura apoiada pelos separatistas contra o presidente conservador Mariano Rajoy, Sánchez ignorou os chamados do presidente regional catalão, o separatista Quim Torra, por uma "negociação sem condições" para solucionar o conflito.
— O que não iremos discutir é o direito à autodeterminação, que não existe, nem nesta democracia, nem em nenhuma — afirmou hoje a vice-presidente da Espanha, Carmen Calvo.
* AFP