A chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, anunciou a retirada do projeto de lei sobre as extradições para a China na quarta-feira (4) à noite. A proposta gerou insatisfação por parte da população, resultando em repetidas mobilizações no território.
Nesta quinta-feira (5), um dia após o recuo por parte do governo de Hong Kong, Lam pediu diálogo aos manifestantes do território. O anúncio havia sido considerado insuficiente pelo movimento pró-democracia.
O projeto de lei deflagrou em junho uma mobilização sem precedentes na ex-colônia britânica desde sua devolução à China em 1997. Durante várias semanas, o governo da região semiautônoma de Hong Kong não cedeu neste ponto, aceitando apenas "suspender" o projeto de lei. Neste período, o movimento pró-democracia alterou os métodos de ação, em alguns momentos violentos, e ampliou a pauta de reivindicações.
Na última quarta, Carrie Lam finalmente cedeu, com um recuo incomum para um governo leal a Pequim.
— O governo retirará oficialmente o projeto de lei para apaziguar por completo as preocupações da população — declarou.
Em um tom mais conciliador, Lam pediu o fim da violência e um "diálogo" com o governo.
— Devemos substituir os conflitos pela conversa e buscar soluções — disse ela, explicando que a retirada do texto é uma tentativa de "impedir a violência e acabar com o caos, restabelecer a ordem social e ajudar nossa economia a progredir".
Lam fez um apelo para que os manifestantes participem de um diálogo com sua administração e se afastem da ala radical do movimento, envolvida em confrontos cada vez mais violentos com as forças de segurança. O recuo, porém, foi recebido com ceticismo pelos manifestantes.
— Se Carrie Lam tivesse retirado o projeto de lei há dois meses, isto poderia ter significado uma solução rápida ao conflito — declarou uma manifestante encapuzada, que pediu para não ser identificada, durante uma "entrevista coletiva cidadã". — Mas colocar um curativo meses depois na carne já apodrecida não vai curá-la — completou.
Várias convocações de protestos foram publicadas em fóruns de manifestantes. Algumas pedem a perturbação dos meios de transporte que levam passageiros ao aeroporto internacional de Hong Kong, o oitavo mais frequentado do mundo.
Os deputados pró-democracia rejeitaram a concessão de Carrie Lam e até políticos próximos ao governo consideraram que a retirada do projeto de lei não seria suficiente para apaziguar a revolta popular.
Além da retirada do texto, os manifestantes têm quatro demandas fundamentais: uma investigação independente sobre a violência cometida pelas forças de segurança, anistia para os manifestantes detidos, o fim do uso da palavra "amotinados" para classificar os manifestantes e a instauração do sufrágio universal direto. Este último ponto representa uma linha vermelha para Pequim.
Lam se recusou a fazer qualquer concessão sobre as quatro exigências.
Nos fóruns de Internet usados pelo movimento pró-democracia, diversos comentários destacam que a retirada do projeto não significa o fim dos protestos.
"Cinco exigências principais, nem uma a menos. Libertem HK (Hong Kong), revolução agora", afirma uma mensagem amplamente difundida pelo aplicativo Telegram.
Em virtude do princípio "um país, dois sistemas", que presidiu o acordo de reintegração de Hong Kong à China, o território goza de ampla autonomia. Contudo, os manifestantes consideram que Pequim interfere cada vez mais na cidade.