Para marcar o Dia Mundial da Notícia, neste sábado, 35 jornais de cinco continentes se uniram em campanha internacional para refletir sobre o papel do jornalismo profissional e o impacto positivo dos diários em suas comunidades. A iniciativa, em inglês chamada de World News Day, é organizada pelo Fórum Mundial de Editores, entidade ligada à Associação Mundial de Jornais (Wan-Ifra). O projeto inclui a publicação pelos jornais participantes de reportagens que tiveram alto impacto social a fim de provocar reflexões sobre a importância do processo jornalístico, que envolve apuração rigorosa e descrição objetiva dos fatos, em uma era de propagação de fake news e campanhas de desinformação.
Zero Hora participa da iniciativa global, assim como The Star e Bernama (Malásia), The Jakarta Post (Indonésia), Philippine Daily Inquirer e Manila Bulletin (Filipinas), Bangkok Post (Tailândia) e Viet Nam News (Vietnã), entre outros. As reportagens, reunidas neste site e algumas resumidas a seguir, mostram como o jornalismo contribui para as mudanças sociais e o fortalecimento da democracia.
— Encontrar as notícias nunca é fácil. Envolve trabalho de campo, muitas entrevistas por parte de repórteres, verificação de fatos, para garantir que se tenha as fontes certas e suficientes, aprofundando-se para entender os problemas e colocar as coisas no contexto adequado – explica Warren Fernandez, presidente do Fórum Mundial de Editores e editor-chefe do The Straits Times, de Cingapura, um dos integrantes do pool de jornais.
Do outro lado do mundo ou aqui, no Brasil, as fake news contribuem para aumentar ansiedades, reverberar desinformação e aprofundar a polarização política.
Por trás de uma reportagem, há planejamento, observação, entrevistas, checagem de dados, mergulho em relatórios, exposição de diferentes pontos de vista sobre um tema. São métodos de apuração que integram a caixa de ferramentas de repórteres e editores, muitas vezes desconhecidos do público. Dar visibilidade a esse trabalho é um dos objetivos do projeto. Além da pressão de produzir notícias de qualidade em tempo real, algumas redações que integram o World News Day estão sediadas em países administrados por governos autoritários, como no caso das Filipinas, ou que experimentam a violência de grupos criminosos, como no México. Ao defender o bom jornalismo, o fórum espera obter apoio e despertar ainda mais a confiança da sociedade.
— Em um mundo cada vez mais complexo e polarizado e com a proliferação de tantas notícias falsas, o papel das redações profissionais em ajudar a estabelecer os fatos e fornecer a plataforma para debates sóbrios e sensíveis é cada vez mais crítico para o bom funcionamento das sociedades — acrescenta Fernandez.
Relevância
Ex-presidente do Fórum Mundial de Editores e membro do atual board, o jornalista Marcelo Rech comemora a iniciativa global.
— É uma primeira grande demonstração global do impacto positivo, relevante e único produzido pelo jornalismo profissional em sociedades de todo o mundo — diz Rech, vice-presidente editorial do Grupo RBS.
Tammy Tam, editora-chefe do South China Morning Post, de Hong Kong, afirma que o jornalismo independente importa mais para o mundo do que nunca.
— Com o aumento das notícias falsas e das táticas de desinformação, o Dia Mundial das Notícias é um lembrete de que, quando educamos os leitores através das notícias, os ajudamos a desenvolver perspectivas e decisões informadas sobre os assuntos atuais.
O World News Day coincide com o Dia Internacional da Unesco de Acesso à Informação, um direito humano universal.
— Nunca tantas pessoas consumiram notícias ou estiveram interessadas em notícias em tantas plataformas, mas poucas entendem como o jornalismo é realizado. O Dia Mundial das Notícias é um momento para fazer uma pausa e para que nossa indústria e nosso público se juntem para explicar por que o jornalismo é importante — afirma David Walmsley, presidente da Fundação Canadense de Jornalismo e editor-chefe do The Globe and Mail.
The Jakarta Post, Indonésia
174 vítimas de abuso sexual em universidades se manifestam
De 13 de fevereiro a 28 de março, Jakarta Post, Tirto.id e Vice Indonesia, colaborando entre si em um projeto chamado #NamaBaikKampus (ReputaçãoDoCampus), recolheram 207 testemunhos de violência em universidades, dos quais 174 foram alegações de assédio sexual.
China Daily, China
Pioneirismo no uso de tecnologia de ponta
Em Fuzhou, um robô agrícola branco, compatível com tecnologia 5G e equipado com sensores, se desloca entre duas fileiras de verduras em uma estufa, coleta dados sobre as plantas e os envia para a sala de controle. O robô faz parte de uma tendência maior na China, que envolve a cooperação, entre empresas de tecnologia e indústrias, para explorar as possibilidades de combinar 5G e inteligência artificial para revolucionar os setores tradicionais da economia. Uma gama de aplicações de inteligência artificial de ponta estão, presentemente, sendo postas em uso comercial no país. Espera-se que a iniciativa de alta tecnologia acelere agora que a nação lançou a era 5G em junho.
Süddeutsche Zeitung, Alemanha
Político flagrado negociando com Rússia
Heinz-Christian Strache, líder do partido austríaco populista de direita FPÖ, reuniu-se com uma suposta multimilionária russa em Ibiza em 24 de julho de 2017. Ela lhe ofereceu apoio em campanha em troca de contratos públicos. O que ele não sabia é que a transação foi encenada e filmada por câmeras ocultas. O vídeo foi gravado três meses antes das eleições gerais na Áustria em outubro daquele ano. Após a eleição, Strache ascenderia e se tornaria vice-chanceler do país.
El Sol (OEM), México
Migrantes LGBT+ entre o racismo e a homofobia
Eles fogem da miséria e da violência na América Central, apenas buscando uma vida melhor, mas, ao longo do caminho, além de viver novamente a pobreza e a brutalidade, também sofrem discriminação e preconceito por sua orientação sexual. Essa realidade enfrentada pelos migrantes LGBT+ foi retratada pelo fotógrafo Roberto Hernández, do El Sol Mexico.
The Bangkok Post, Tailândia
Estranhos na própria cidade
No final de 2017, o Ministério de Desenvolvimento Social e Segurança Humana da Tailândia ordenou que fossem retirados do Parque Lumpini vários sem-teto que dormiam no local. O ministério prometeu transferi-los para um novo lar, em um abrigo temporário estatal. Após a ordem, o Bangkok Post decidiu investigar mais a fundo a situação dos sem-teto do Parque Lumpini e permitir que os leitores compreendessem suas dificuldades na capital tailandesa.
Times of India, Índia
Predadores entre nós
O policiamento e os tribunais não podem, por si só, lidar com o assédio sexual e o abuso. A complexidade emocional de tais vivências, bem como a relutância da família em discutir sobre o abuso, torna difícil para as vítimas, homens e mulheres, manifestarem-se. Porém, um número cada vez maior de pessoas agora quer falar publicamente sobre as experiências – desde que suas identidades não sejam reveladas. Esse é o modo delas de reconhecer suas vivências que, dizem, ajuda no processo de recuperação.
Veículos participantes
- Índia: 6
- Cingapura: 5
- Malásia: 4
- Filipinas: 3
- Coreia do Sul, Indonésia, Taiwan: 2
- África do Sul, Alemanha, Bangladesh, Brasil, China, Ilhas Fiji, Hong Kong, México, Nigéria, Tailândia, Vietnã: 1
Total: 35 jornais