A Itália estava mergulhada na incerteza nesta sexta-feira (9), depois que o ministro do Interior, Matteo Salvini, implodiu a coalizão de governo e pediu eleições rápidas.
O fato de haver eleições está claro, mas ainda não se sabe quando, nem com qual governo. As hipóteses são com um gabinete de técnicos que organize as eleições, ou com o governo atual, de extrema direita, que vá se ocupando dos assuntos correntes até a votação.
"É uma brincadeira que não tem graça nenhuma. Os italianos já estão sentindo as consequências" com uma alta das taxas de juros da dívida italiana, disse o colunista Claudio Tito no jornal "La Repubblica", de tendência progressista.
O anúncio do líder de extrema direita pegou de surpresa seu agora ex-sócio Luigi Di Maio, dirigente do Movimento 5 Estrelas (M5S, antissistema).
"Não há mais maioria do governo (...) demos a palavra aos eleitores", exigiu Salvini, em um comunicado na quinta-feira à tarde.
À noite, praticamente lançou sua campanha eleitoral durante um comício em Pescara (centro).
"Nos dizem que não podemos reduzir os impostos. Nós vamos mostrar que sim, se nos derem a força para fazer isso", disse ele a seus simpatizantes.
A decisão irritou o o chefe de governo, Giuseppe Conte, e Di Maio, que acusaram o ministro do Interior de querer tirar proveito de seus bons resultados nas pesquisas, deixando de lado o bem-estar dos italianos.
Conte considerou que Salvini deverá "explicar aos eleitores que acreditam na possibilidade de uma mudança as razões que o levaram a interromper brutalmente" a coalizão de governo, já que a Liga obteve praticamente tudo que pediu até agora.
A crise entre os dois aliados explodiu após uma votação no Senado a favor do polêmico projeto da linha de trem de alta velocidade entre França e Itália, conhecido como TAV, na quarta-feira.
O M5S quis votar contra o projeto, apoiado de forma veemente pela Liga.
- Eleições a partir de outubro? -
Segundo a imprensa italiana, a Liga quer que as eleições legislativas sejam realizadas na segunda metade de outubro, em um domingo - 13, 20, ou 27.
De qualquer modo, a Liga se apresentará nas eleições em posição de força. Obteve 34% dos votos no recente pleito europeu e aparece bem nas pesquisas, com entre 36% e 38% das intenções de voto. Em princípio, isso lhe permitiria governar sozinho, ou com o apoio de outro partido nanico da extrema direita, o Fratelli d'Italia.
Já o M5S despencou nas sondagens, agora com 17%, menos da metade do que obteve nas legislativas de março de 2018.
"A Liga e o M5S terão a difícil tarefa de explicar ao país como sua alegre máquina de guerra", seu governo de coalizão, "fracassou", escreveu Massimo Franco, colunista do principal jornal italiano, "Corriere della Sera".
Ainda não se sabe qual será a reação do chefe de Estado, Sergio Mattarella, o único com poder para dissolver o Parlamento, após consultar os presidentes das duas Câmaras e os principais dirigentes políticos, antes de convocar eleições.
Já se sabe que Mattarella se opõem a eleições no outono, quando o governo deve preparar o orçamento do ano que vem, negociar com Bruxelas e submetê-lo à votação no Parlamento.
Um Executivo em final de mandato não teria peso suficiente para negociar com Bruxelas, o que poderia prejudicar a Itália nos mercados.
Segundo a agência italiana AGI, o Senado deve se reunir em 20 de agosto para oficializar a queda do governo, e o Parlamento seria dissolvido alguns dias depois. Neste caso, são convocadas eleições em um prazo entre 50 e 70 dias, conforme a Constituição italiana.
* AFP