Durante o maior protesto ocorrido desde sua transferência para a China, em 1997, violentos confrontos foram registrados nesta quarta-feira (12) em Hong Kong. Os registros ocorreram após a polícia tentar impedir que os manifestantes contrários a um projeto de lei que autorizaria extradições para a China continental entrassem no Parlamento da cidade.
Os confrontos começaram pouco depois das 15h (4h de Brasília), prazo limite estabelecido pelos manifestantes para que o governo abandonasse o polêmico projeto de lei. A polícia usou gás lacrimogêneo, cassetetes e gás de pimenta para dispersar os manifestantes, enquanto dezenas de milhares de pessoas bloqueavam avenidas importantes em uma demonstração de força contra os planos do governo.
No fim da manhã, com o aumento da multidão nas ruas e as principais estradas bloqueadas por manifestantes, os representantes do Conselho Legislativo (Legco) anunciaram o adiamento da segunda votação do projeto de lei para uma "data posterior". De acordo com os organizadores, mais de um milhão de pessoas foram às ruas.
— Peço aos cidadãos que se reuniram que demonstrem moderação, com uma dispersão pacífica e que não desafiem a lei — pediu, em vão, Matthew Cheung, secretário do governo, em um vídeo divulgado nas redes sociais.
A chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, não se intimidou e se recusou a retirar o projeto, ao mesmo tempo que advertiu a oposição contra qualquer "ação radical".
— A única coisa responsável agora é que Carrie Lam retire este projeto malvado ou, pelo menos, que o coloque em uma gaveta para resolver a crise — declarou o deputado democrata Fernando Cheung. — Se tentar aprová-lo a qualquer custo, se ordenar a repressão policial, temo que corra sangue — completou.
O texto provocou críticas de países ocidentais, bem como o clamor de alguns em Hong Kong, que temem uma Justiça chinesa opaca e politizada e acreditam em que essa reforma prejudicará a imagem internacional e a atratividade do território semiautônomo.
Projeto de lei polêmico
No acordo de 1984 entre Londres e Pequim, que selou sua retrocessão em 1997, Hong Kong desfruta de uma semiautonomia e liberdades que não existem na China continental. Em tese a situação deve seguir até 2047.
A ex-colônia britânica tem sido, no entanto, palco de intensa agitação política na última década, devido à preocupação com a crescente interferência de Pequim em seus assuntos internos e com a sensação de que a retrocessão e o famoso princípio "Um país, dois sistemas" não são mais respeitados.
O projeto de lei deve permitir extradições para todas as jurisdições, com as quais não exista acordo bilateral, incluindo a China continental. A votação final do texto está prevista para 20 de junho.
O texto, segundo afirmam as autoridades, deve preencher um vácuo legal e fazer que a cidade deixe de ser um refúgio para alguns criminosos. As autoridades garantem que existem salvaguardas em relação às normas internacionais dos direitos humanos e que não terá adversários políticos da China como alvo.
Depois de anos de tensão política, porém, muitos moradores de Hong Kong não acreditam mais nas promessas de seu Executivo, que está alinhado com Pequim, e desconfiam das intenções do governo chinês, especialmente sob a presidência de Xi Jinping.