O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, vinculou pela primeira vez, nesta quinta-feira, a disputa com a gigante de telecomunicações chinesa Huawei, que ele vê como uma ameaça, a um acordo que solucione a guerra comercial EUA-China.
"A Huwei é algo muito perigoso", disse Trump à imprensa na Casa Branca. "Olhe o que eles fizeram de um ponto de vista da segurança, de um ponto de vista militar. Muito perigoso".
Depois disso, Trump afirmou que há "boas chances" de Washington alcançar um acordo com Pequim para dar fim ao conflito comercial, e que "é possível que a Huawei seja incluída de alguma forma ou em alguma parte de um acordo comercial".
Os dois lados endureceram sua postura em torno da Huawei, com os EUA incluindo a empresa em uma lista negra diante de preocupações de que a China a utilize como ferramenta para espionagem, enquanto a China denunciou nesta quinta-feira um "assédio" por parte dos Estados Unidos.
Os comentários de Trump contradizem diretamente as declarações do secretário de Estado americano, Mike Pompeo, que disse horas antes que a Huawei e a questão comercial não estavam ligadas.
Em entrevista à CNBC, Pompeo ressaltou que há dois elementos separados: "o componente de segurança nacional" e os esforços "para criar uma relação comercial equilibrada e recíproca entre os dois países".
"Espero que possamos manter essas questões em seu devido lugar. Temos um imperativo para proteger a segurança nacional americana. Precisamos ter certeza de que as regras comerciais estejam corretas", disse Pompeo.
"É apenas falso. Dizer que não trabalham com o governo chinês é uma declaração falsa", afirmou Pompeo à emissora CNBC.
Nesta quinta, Pequim elevou o tom, anunciando o envio de "um protesto solene" a Washington, segundo o ministério do Comércio.
Na quarta-feira à noite, o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, denunciou um "assédio econômico" destinado a "impedir o processo de desenvolvimento" de seu país. Ele prometeu que Pequim lutará "até o fim".
E o porta-voz do ministério do Comércio alertou que as negociações comerciais com Washington não serão retomadas se os americanos não demonstrarem "sinceridade".
A guerra comercial parece cada vez mais dominada por um confronto tecnológico em torno da Huawei.
Washington deu 90 dias para a entrada em vigor de sua proibição, mas vários grupos preferiram se adiantar em face das incertezas que cercam os produtos da Huawei.
- Efeito dominó -
Esta decisão de Washington já começou a provocar um efeito dominó.
A gigante japonesa de eletrônicos Panasonic se juntou nesta quinta-feira à lista de grandes grupos de tecnologia que anunciaram a ruptura de relações com os chineses.
A Panasonic deixará de fornecer certos componentes para a Huawei e suas 68 subsidiárias que estão sujeitas à proibição do governo americano.
Sua compatriota Toshiba anunciou, por sua vez, a suspensão das entregas para a Huawei para verificar se seus produtos não incluíam componentes "made in USA", antes de informar a retomada das entregas.
Na quarta-feira, grandes operadoras de telecomunicações japonesas (KDDI e Softbank) e britânicas (Vodafone e EE) anunciaram um adiamento do lançamento de novos modelos da Huawei, uma vez que estes dispositivos poderão perder muito de seu interesse sem a contribuição da tecnologia americana.
Outro grupo britânico, ARM, poderá se juntar à lista. O grupo, que projeta semicondutores usados por todo o setor de telecomunicações, disse que aplicará "as últimas restrições ordenadas pelo governo dos Estados Unidos".
Estes anúncios representam novos obstáculos para a Huawei, após a decisão de domingo do Google: o gigante americano anunciou que o seu sistema Android, presente na grande maioria dos telefones do mundo, não estará nos futuros smartphones do grupo chinês.
Um golpe muito duro para a gigante de Shenzen, que poderá ter problemas para vender seus telefones sem aplicativos populares como Maps, Gmail ou YouTube.
Em resposta, a Huawei está trabalhando em seu próprio sistema concorrente, o HongMeng, que poderá estar pronto na China antes do final do ano, informou nesta quinta-feira o veículo financeiro CNBC, citando Richard Yu, um alto funcionário da Huawei.
Internacionalmente, o sistema estará disponível no início do próximo ano, de acordo com a mesma fonte.
"Se a Huawei acelerar o desenvolvimento de seu próprio sistema operacional, dado o tamanho do mercado chinês", poderá sobreviver, acredita o analista financeiro Hiroyuki Kubota, especialista em tensões comerciais sino-americanas.
O aumento nas tensões comerciais afetava os mercados nesta quinta-feira: Hong Kong perdeu 1,58%, Xangai, 1,35%, e Tóquio, 0,62%.
* AFP