O opositor Juan Guaidó tentou na terça-feira (30) obter apoio a uma rebelião militar para destituir o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, em um movimento aparentemente malsucedido que mergulhou o país na incerteza.
Em um vídeo divulgado na noite desta terça, Guaidó convocou a população a manter os protestos previstos para o dia 1º de maio.
— O apelo à Força Armada é seguir avançando na operação Liberdade (para tirar Maduro). Amanhã, primeiro de maio, continuaremos (...). Por toda a Venezuela, estaremos nas ruas.
Apesar de não ter conseguido quebrar o apoio do alto comando militar a Maduro, o líder opositor disse que a revolta evidenciou fraturas.
— Ficou claro que a afirmação do regime de que controla a Força Armada é uma farsa.
Os Estados Unidos, principais aliados de Guaidó, advertiram o ministro da Defesa, general Vladimir Padrino, que seria sua "última oportunidade" de romper com o líder socialista.
Segundo John Bolton, assessor de segurança nacional do presidente Donald Trump, o general Padrino, o presidente da Suprema Corte, Maikel Moreno, e o chefe da Guarda Presidencial, Iván Hernández, tinham se comprometido a "derrubar Maduro".
Mas Padrino reiterou seu compromisso com Maduro e denunciou a rebelião como uma tentativa "grosseira e inútil".
— Eles passaram vergonha novamente e isso nos fortalecerá.
Na manhã de terça-feira, depois de anunciar o início da rebelião na base aérea de La Carlota, em Caracas, para a qual ele pediu o apoio de todas as Forças Armadas, Guaidó percorreu vários pontos da cidade junto com alguns insurgentes.
Seu correligionário Leopoldo López, que o acompanhou na empreitada nesta terça, acabou se refugiando, junto com sua família, na embaixada chilena em Caracas, de onde se transferiu para a sede diplomática da Espanha no início da noite.
Horas antes, de madrugada, ele foi libertado por militares leais a Guaidó. Detido em 2014, López cumpria desde 2017 uma condenação de 14 anos em prisão domiciliar por "incitação à violência".
— O momento é agora! (...), rua sem saída — disse Guaidó, que recebeu o apoiou o presidente americano, Donald Trump.
Um grupo de opositores foi atingido por um veículo militar, segundo imagens de televisão, e militares dispararam bombas de gás lacrimogêneo contra manifestantes de dentro da base de La Carlota.
O embaixador da Venezuela na ONU, Samuel Moncada, denunciou que os Estados Unidos e outros países da região sabiam de antemão os planos de rebelião militar contra o governo de Nicolás Maduro e conspiraram para provocar "uma guerra civil" na Venezuela.
"Essa nova tentativa de potências estrangeiras para promover uma guerra civil, abrir as portas a um intervencionismo e colocar um governo fantoche em nosso país fracassou", disse a jornalistas o representante de Maduro nas Nações Unidas.
- "Carlotazo" -
Guaidó anunciou o levante em um vídeo que, segundo ele, foi gravado em La Carlota, a principal base aérea do país, onde ele apareceu com Lopez e um pequeno grupo de militares.
"Hoje, bravos soldados, corajosos patriotas, bravos homens ligados à Constituição atenderam ao nosso chamado", afirmou Guaidó.
Cercado pelo alto comando, Padrino reiterou seu compromisso com Maduro e denunciou a rebelião como uma tentativa "grosseira e inútil". "Eles passaram vergonha novamente e isso nos fortalecerá", disse.
O governo venezuelano tirou do ar a emissora de rádio RCR e as redes de televisão CNN Internacional e BBC Mundo, de acordo com esses veículos e com sindicatos.
Uma multidão de chavistas cercou o palácio presidencial de Miraflores, no centro, a pedido de seus líderes.
O número dois de Chávez, Diosdado Cabello, disse que a insurreição foi o trabalho de uma "pequena fração das Forças Armadas e do Sebin (serviço de inteligência)".
- Reações divididas -
Cuba, Bolívia e Turquia, aliados de Maduro, condenaram a "tentativa de golpe de Estado", enquanto a Colômbia, que junto com Washington liderou a pressão contra o líder socialista, apoiou a rebelião. Rússia e México pediram negociações.
O presidente Jair Bolsonaro manifestou o apoio do Brasil "ao processo de transição democrática" no país vizinho.
Segundo o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, Maduro estava pronto para deixar a Venezuela e seguir para Cuba, mas foi dissuadido pela Rússia.
"Ele tinha um avião na pista, estava pronto para ir embora esta manhã, pelo que sabemos, e os russos disseram a ele que deveria ficar", disse Pompeo, em entrevista à CNN.
Na mensagem da noite desta terça-feira, Maduro respondeu: "até onde chega a falta de seriedade, a insensatez, a loucura, a mentira e a manipulação deste Mike Pompeo".
O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu para que se evite a violência e se restaure a calma. O Grupo de Lima se reunirá na sexta-feira na capital peruana para avaliar com urgência a crise na Venezuela após a rebelião em apoio ao presidente interino Juan Guaidó, informou nesta terça-feira o governo do Peru.
Os militares são considerados a espinha dorsal de Maduro, que lhes deu amplo poder político e econômico.