
O Sri Lanka procurava, nesta segunda-feira (22), os responsáveis pelos ataques suicidas que fizeram 253 mortos no domingo (21). O massacre é atribuído ao National Thowheet Jama'ath (NTJ), um movimento islamita local. No entanto, não houve reivindicação do ataque.
O governo decretou estado de emergência após os atentados em nome da "segurança pública". Em um intervalo de algumas horas no domingo, atentados com bomba espalharam o horror em hotéis e igrejas que celebravam a missa de Páscoa em vários pontos da ilha no sudeste da Ásia. O local não registrava tanta violência desde o fim da guerra civil há 10 anos.
Ao menos 31 estrangeiros, como portugueses, turcos, britânicos, australianos, japoneses, americanos, dinamarqueses e um francês, estão entre os mortos. Outros 14 continuam desaparecidos e podem estar entre as vítimas ainda não identificadas.
Entre os dinamarqueses, estão três dos quatros filhos do bilionário Anders Holch Povlsen, dono do grupo de moda Bestseller e acionista majoritário da marca ASOS.
O porta-voz do governo do Sri Lanka, que apontou o grupo NJT como suspeito, disse que não entende "como uma pequena organização neste país poderia fazer tudo isto".
— Estamos investigando sobre uma possível ajuda estrangeira e seus outros vínculos, como formaram homens-bomba, como produziram as bombas — completou.
O NJT ficou conhecido no ano passado por atos de vandalismo contra estátuas budistas. A polícia foi alertada há 10 dias de que os extremistas preparavam atentados suicidas contra igrejas e a embaixada da Índia em Colombo.
— Os serviços de inteligência informaram que há grupos terroristas internacionais por trás dos terroristas locais — afirmou o presidente Maithripala Sirisena durante um encontro com diplomatas estrangeiros.
As autoridades anunciaram até o momento a detenção de 24 pessoas, mas não revelaram detalhes sobre nenhuma delas. Também informaram que o FBI tem ajudado na investigação. A Interpol também enviou uma equipe de investigadores.
Cenas de desolação
O balanço oficial da tragédia chega, até o momento, a 290 mortos e 500 feridos. Nesta segunda-feira o necrotério de Colombo registrou cenas de desolação.
— A situação não tem precedentes. Pedimos aos parentes que apresentem mostras de DNA para ajudar a identificar alguns corpos muito mutilados — disse um funcionário que pediu anonimato.
Uma mulher que perdeu o irmão mais velho e três sobrinhos não conteve as lágrimas ao identificar os parentes. Ela afirmou que o mais novo tinha apenas oito meses.
— O que ele fez para merecer isto?
Dilip Fernando, um católico de Negombo, cidade que fica a 30 quilômetros da capital Colombo, estava parado diante da igreja de São Sebastião. Ele não entrou no templo no domingo porque estava lotado e escapou por pouco do massacre provocado por um atentado suicida.
— Se a igreja estivesse aberta, eu entraria. Não temos medo. Não vamos deixar que os terroristas ganhem. Nunca! Vou continuar frequentando a igreja — declarou Fernando.
Dezenas de pares de calçados pertencentes às vítimas estavam no chão, diante do templo. Dentro da igreja, as telhas caídas se misturavam aos escombros. As paredes e estátuas estavam repletas de estilhaços.
Nas ruas, os moradores tentavam retomar suas vidas. As pessoas começaram a sair de suas casas para seguir até o trabalho em automóveis, motos e tuk-tuk, os típicos triciclos motorizados do sudeste asiático.
Ataques quase simultâneos
No domingo, foram registradas seis explosões em um período curto durante a manhã e outras duas no período da tarde. O Sri Lanka é um destino turístico muito procurado por suas praias e natureza.
Na capital Colombo, três hotéis de luxo à beira-mar - Cinnamon Grand Hotel, Shangri La e Kingsbury - e a igreja de Santo Antônio foram atacados no domingo quase que simultaneamente.
Também foram detonadas bombas na igreja de São Sebastião de Negombo e outra na cidade de Batticaloa, na costa leste da ilha.
Poucas horas depois, aconteceram outras duas explosões, a primeira no hotel Dehiwala, no subúrbio de Colombo, e a segunda em Orugodawatta, zona norte da capital, onde um homem-bomba detonou sua carga durante uma operação policial.
No domingo à noite, uma bomba de fabricação caseira foi encontrada e desativada na estrada que segue até o aeroporto de Colombo.
Nesta segunda-feira, a polícia do Sri Lanka anunciou que encontrou 87 detonadores na estação de ônibus de Bastian Mawatha em Pettah, bairro da capital que fica entre os hotéis e as igrejas atingidos pelas explosões.
Também foi registrada uma explosão na capital durante uma operação para desativar uma bomba em uma caminhonete estacionada perto de uma das igrejas atacadas no domingo. As autoridades não informaram sobre vítimas.
Do Vaticano aos Estados Unidos, passando pela Índia, o mundo condenou de maneira unânime os atentados.
O presidente americano Donald Trump apresentou nesta segunda suas condolências ao primeiro-ministro Ranil Wickremesinghe.
"O presidente Trump prometeu o apoio dos Estados Unidos ao Sri Lanka para levar os autores à justiça, e os dois líderes reafirmaram seu compromisso para lutar contra o terrorismo mundial", informou a Casa Branca.
Quase 1,2 milhão de católicos vivem no Sri Lanka, um país de 21 milhões de habitantes, onde os cristãos representam quase 7% da população, majoritariamente budista (70%). O país também tem 12% de hinduístas e 10% de muçulmanos.