O vice-presidente Hamilton Mourão disse que os Estados Unidos não farão uma intervenção militar na Venezuela para tentar resolver a crise que assola o país sob a ditadura de Nicolás Maduro. A declaração foi dada nesta segunda-feira (8) minutos depois de Mourão se reunir com o vice-presidente americano, Mike Pence, na Casa Branca, em Washington.
Segundo o general, a ação militar é uma tarefa de responsabilidade das Forças Armadas venezuelanas. Aos outros países, argumenta o vice brasileiro, cabe fazer pressão política e econômica para desgastar o governo Maduro.
— Nenhum dos nossos países vai intervir na Venezuela de maneira militar. A intervenção que está sendo feita é política e econômica. A questão militar é dos venezuelanos — afirmou Mourão a jornalistas após reunião com Pence.
Ele citou como exemplo de pressão as sanções que os EUA impuseram contra navios e empresas que transportam petróleo da Venezuela para Cuba, anunciada pelo próprio Pence na semana passada — principal atividade econômica da Venezuela hoje é a venda de petróleo.
Questionado sobre a quais países estava se referindo, o vice-presidente brasileiro afirmou que eram todos aqueles que fazem parte do Grupo de Lima, "inclusive os EUA". O bloco é formado por 12 países, incluindo Brasil e Argentina — os Estados Unidos não integram oficialmente o grupo, mas têm participado das reuniões que tiveram posições críticas à situação na Venezuela e declararam apoio ao líder de oposição Juan Guaidó, autoproclamado presidente interino do país.
Mourão, assim como a ala militar do governo brasileiro, não é favorável a uma intervenção militar no vizinho e quer ater as ações do Planalto à ajuda humanitária na fronteira.
Segundo o vice brasileiro, Pence perguntou diretamente sua opinião sobre o assunto:
— Ele perguntou minha opinião, que todos vocês sabem: a situação da Venezuela tem que ser solucionada pela Venezuela. Os EUA têm feito bem a parte dele de pressão política e econômica. Não temos fôrma de bolo.
Em Boston, Mourão já havia dito que o discurso duro em relação à Venezuela do presidente dos EUA, Donald Trump, era mais uma "figura de retórica" do que uma ação efetiva.
Para o vice brasileiro, não há solução imediata para a crise da Venezuela, mas a pressão econômica vai "estrangular o país" e, nesse momento, os militares venezuelanos vão conseguir tirar Maduro do poder e convocar eleições para substituí-lo.
Trump tem feito um discurso de escalada contra a Venezuela. O presidente Jair Bolsonaro, quando esteve em Washington em março, não descartou de imediato o apoio do Brasil caso os americanos decidissem intervir militarmente no país latino-americano.
Dias depois, porém, o líder brasileiro recuou e disse que não daria suporte a esse tipo de ação. Em entrevista à rádio Jovem Pan nesta segunda-feira, Bolsonaro não descartou a possibilidade e afirmou que consultaria o Conselho de Segurança Nacional e o Congresso brasileiro antes de tomar a decisão.
"Eu o chamo de Pence e ele me chama de Tony"
Mourão afirmou nesta segunda que o principal objetivo do encontro com Pence era fazer "o aproveitamento do êxito" da visita de Bolsonaro a Washington:
— Bolsonaro criou empatia com Trump. Era minha vez de fazer (o mesmo) com minha contraparte.
O vice disse ainda que ambos se deram muito bem e que o americano manifestou vontade de visitar o Brasil com a esposa.
— A sensação é que posso passar a mão no telefone, eu o chamo de Pence e ele me chama de Tony — disse Mourão. —Quem sabe levamos ele para o Rio e ele joga uma partida de futevôlei comigo.
De acordo com Mourão, a reunião com Pence ainda tratou sobre o status do Brasil de aliado prioritário dos EUA extra-Otan e a relação com China. O vice afirmou que deixou claro ao americano que Pequim é um parceiro estratégico para o Planalto — apesar da guerra comercial que os EUA estabeleceram com aquele país.