Poucos muçulmanos do Sri Lanka se reuniram para rezar nesta sexta-feira (26) nas mesquitas. Os locais estão fortemente protegidos, para evitar represálias pelos ataques de Semana Santa contra igrejas católicas e hotéis.
Algumas mesquitas cancelaram as orações de sexta-feira na ilha do sul da Ásia depois que o governo convocou uma "demonstração de solidariedade" com as igrejas católicas. Essas instituições permanecem fechadas até que melhore a situação de segurança no país.
Muitos muçulmanos, que representam 10% da população, permaneceram em suas casas para orar.
O atentado
No domingo de Páscoa, no Sri Lanka, um grupo de homens-bomba lançou uma série de ataques a igrejas e hotéis de luxo, deixando 253 mortos. O grupo Estado Islâmico (EI) reivindicou o atentado.
Os muçulmanos temem ser vítimas de atos de vingança por parte das outras comunidades, assim como dos islamistas radicais, depois de os líderes religiosos anunciarem que se negariam a permitir o enterro dos homens-bomba nas mesquitas do país.
Nos templos que tiveram suas orações de sexta na capital Colombo, o número de fiéis era menor. Os poucos presentes que se aproximaram explicaram que seu gesto era uma maneira de desafiar os radicais.
— Enviamos uma mensagem para os extremistas. Eles não conseguirão nos fazer ter medo, ou nos dissuadir — disse Reyyaz Salley, diretor da mesquita Dawatagaha Jumma, de Colombo.
— Mas a principal razão, pela qual estamos aqui, é que queremos orar pelas vítimas dos atentados contra as igrejas — acrescentou.
"Temos que morrer um dia"
Nesta sexta-feira (26), cerca de 20 policiais e soldados protegiam a mesquita Dawatagaha Jumma, ameaçada no passado por islamistas, já que contém um santuário sufi. Os fundamentalistas consideram os muçulmanos sufis como hereges, porque veneram santos.
As forças de segurança impediam as pessoas de passarem caminhando, ou de estacionarem veículos na frente da mesquita. Sinal da tensão no ar, Colombo é um foco de rumores sobre possíveis ataques com carro-bomba.
Cães treinados inspecionavam bolsas e sacolas em busca de explosivos. Além disso, fiéis e jornalistas eram revistados antes de entrar no templo.
— Não temos medo. Temos que morrer um dia, e isso pode acontecer em qualquer lugar — declarou Reyyaz Salley. Nem todo mundo compartilha sua filosofia.
Segundo seu diretor, a mesquita recebe, de forma regular, até 700 fiéis às sextas-feiras. Esta semana, eram pelo menos cem. A oração também foi reduzida de uma hora para 15 minutos por questões de segurança.
— Vim rezar, porque rezo aqui todos os dias — disse Ahamed Riza, de 62 anos, antes de ouvir o sermão do imã, afirmando que o profeta Maomé teria condenado esses atentados.
Do outro lado da ilha, na costa oeste, as mesquitas estavam mais movimentadas. Mais de mil homens e mulheres participaram da oração na Mohiuddin Methaipali Jumma, na cidade de maioria muçulmana de Kattankudy.
— Um pequeno grupo de pessoas cometeu esses ataques, mas alguns condenam toda a comunidade muçulmana cingalesa por isso. Não é justo — lamentou Mohammed Ramesh, um responsável da mesquita, acrescentando.
— Os que fizeram isso não são seres humanos. Todos os cingaleses têm que se unir contra isso: budistas, cristãos, hinduístas e muçulmanos. Desde os atentados, rezo cinco vezes por dia pelas vítimas cristãs.