Sentado em frente à casa do líder opositor Leopoldo López, no bairro Palos Grandes, José Pedroso, 58, comia em uma marmiteira de papel metálico. Nesta terça-feira (30), ele era a única pessoa numa rua que, nos últimos anos, esteve sempre congestionada. Ali vive López e sua família. Durante o tempo em que o opositor ficou em prisão domiciliar, o local vivia cercado por oficiais do Sebin — o serviço de inteligência venezuelano—, pela polícia e por curiosos.
Nesta manhã, Pedroso, segurança de uma das residências neste bairro de classe média alta de Caracas, estava sozinho.
— Vi quando ele saiu. Foi junto com os mesmos oficiais do Sebin que o vigiavam. Saiu normalmente, sem mala, nem nada. Só deixou aí o carro — disse à reportagem, apontando a caminhoneta branca estacionada de modo a travar a entrada de possíveis intrusos.
A mulher de López, Lilian Tintori, foi para Miami com os filhos. Nos EUA também estão Fabiana Rosales, mulher de Guaidó, e a filha do casal.
Caracas teve uma manhã inquieta. Houve enfrentamentos de opositores ao regime com a Guarda Nacional Bolivariana e a polícia nas principais vias do leste da cidade, perto da praça Altamira e na avenida Francisco de Miranda.
Mas isso não impediu que centenas de pessoas fossem caminhando (o metrô não funciona e os ônibus estavam abarrotados), abraçados com a bandeira da Venezuela, até o local, onde, por volta das 11h (12h no Brasil), Juan Guaidó e Leopoldo López discursaram em um palco improvisado.
— Vamos resistir e exigir o fim da usurpação. Vamos encher as ruas amanhã com todo o entusiasmo, porque vamos bem — disse Guaidó à multidão que gritava "sim, se pode" e "Operação Liberdade".
Guaidó afirmou que o fato de ele estar ali falando ao lado de López era um "sinal claro de que Maduro não tem mais o apoio das forças de segurança". López, porém, nada disse. Cumprimentou a multidão, mas manteve o aspecto circunspecto.
Ainda no lado leste da cidade, oficiais que deixaram o Exército ou a GNB caminhavam sob aplauso das pessoas. Eles eram identificados por estarem usando uma faixa azul amarrada no braço direito.
Já no lado oeste, onde está a prefeitura de Caracas e os chamados "bairros vermelhos", ou seja, de apoiadores do chavismo, o clima era de aparente tranquilidade.
Muitas pessoas caminhavam várias quadras até seu local de trabalho, mas logo depois eram vistas caminhando de novo de volta, porque a maioria dos comércios estava fechada. Havia bloqueios nas ruas por parte das forças de segurança, principalmente perto de edifícios públicos e da Assembleia Nacional, que permaneceu fechada.
Próximo ao palácio de Miraflores, sede do regime, uma manifestação chavista alentava o governo. Em número menor do que a multidão que havia na praça Altamira, os chavistas iam de camiseta vermelha e bandeiras do partido do governo — o PSUV. Algumas pessoas carregavam cartazes com a foto de Maduro.
— O leste da cidade quer entregar a Venezuela aos Estados Unidos. Estamos com Maduro e ficaremos na porta de Miraflores caso alguém tente entrar — disse Celia Arreaga, 45 anos, que estava abraçada a uma foto de Maduro em sua primeira posse.