O ex-presidente do Peru Alan García (1985-1990 e 2006-2011) morreu no final da manhã desta quarta-feira (17) após ter dado um tiro na cabeça quando soube que a Justiça havia pedido sua prisão preliminar por 10 dias. O político chegou a ser levado ao hospital, mas não resistiu.
A polícia chegou à casa dele, no bairro de Miraflores, em Lima, às 6h25min desta quarta. O ex-presidente, então, teria subido até seu quarto, dizendo que iria telefonar para seus advogados. Em seguida, os guardas ouviram o disparo, encontraram-no ferido e o levaram para o hospital Casimiro Ulloa, em Lima. Após a cirurgia, o político teve três paradas cardíacas e faleceu.
É o primeiro suicídio de um acusado do escândalo Lava-Jato. García era investigado por envolvimento no escândalo da empreiteira brasileira Odebrecht, que declarou ao Departamento de Justiça norte-americano ter pago US$ 29 milhões em propinas e caixa 2 no país. A prisão preliminar seria um passo anterior a uma prisão preventiva, o que significa que a Justiça considera que o suspeito pode obstruir a investigação e ainda está recolhendo provas.
No começo deste mês, García disse, em entrevista ao jornal El Comercio, de Lima, que não havia elementos para sua prisão.
— É tudo especulação. Com especulações não se priva uma pessoa da liberdade. É uma grande injustiça.
Desde novembro, García já estava impedido de sair do país e pairava sobre ele a expectativa do pedido de prisão, que se concretizaria na manhã desta quarta-feira. No mesmo mês, o ex-presidente já havia tentado escapar da Justiça ao pedir asilo ao Uruguai. O presidente uruguaio Tabaré Vázquez, porém, se recusou a aceitá-lo.
Odebrecht
Alan García era investigado por dois casos. O primeiro está ligado aos aportes de campanha ilegais realizados pela Odebrecht nas eleições presidenciais de 2006, que García venceu. Para isso, a empreiteira brasileira teria pago US$ 200 mil.
O segundo envolve a licitação das obras da linha 1 do metrô de Lima. Em 19 de fevereiro de 2009, García convocou uma reunião ministerial de emergência, no mesmo dia em que havia se encontrado com um operador da Odebrecht, Jorge Barata. Alguns meses depois, García emitiu um decreto concedendo a licitação da obra da linha 1 do metrô de Lima a um consórcio do qual a Odebrecht fazia parte. A Procuradoria peruana ainda investiga se o pagamento de US$ 100 mil que a Odebrecht fez a García por uma conferência na Fiesp (Federação de Indústrias de São Paulo), em São Paulo, em 2012, está relacionado a pagamentos ilícitos em troca de benefícios à empreiteira brasileira.
Desde que começou a ser investigado, García havia informado à Justiça que só havia se reunido com Marcelo Odebrecht e representantes da empresa uma vez. Investigações das agendas do então presidente, porém, revelaram que havia ocorrido pelo menos cinco encontros. Em 2017, Marcelo Odebrecht, disse, em sua delação, que as iniciais AG, que apareciam nas listas de suborno da empresa se referiam a Alan García.
Devido ao caso Odebrecht, também estão sendo investigados os ex-presidentes Alejandro Toledo (2001-2006), que fugiu para os Estados Unidos e enfrenta um pedido de extradição, e Ollanta Humala (2011-2016), preso por um ano e que agora responde ao processo em liberdade condicional.
O ex-presidente Pedro Pablo Kuczynski (2016-2018), que renunciou em março de 2018 após denúncias de corrupção, foi preso na semana passada, em 10 de abril, de forma temporária. PPK (como é conhecido) pediu nos últimos dias para ser transferido para uma clínica, por estar com hipertensão.
Mortes na Colômbia e na Bahia
Na Colômbia, houve três mortes relacionadas ao caso, todas por ingestão de cianureto, no fim de 2018. Os mortos foram Jorge Henrique Pizano, testemunha no processo e um dos auditores da obra da estrada Rota do Sol, que teria sido usada para desviar dinheiro. Pouco depois, seu filho Alejandro morreu.
Semanas depois, outra testemunha-chave do caso, Jorge Merchán, que foi secretário de transparência durante o governo Santos e deporia sobre o caso, também morreu após ingestão de cianureto.
Em janeiro de 2018, José Roberto Soares Vieira, testemunha da Lava-Jato no Brasil, foi morta com nove tiros na Bahia. Ele era dono de uma empresa de transportes.