PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) - A primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, disse nesta quarta-feira (27) a um grupo de deputados de seu Partido Conservador que vai deixar o posto se o acordo de saída do país da União Europeia for aprovado.
A chefe de governo não indicou uma data exata para a renúncia, mas espera-se que, havendo sinal verde do Legislativo para o pacto, ela se concretize no curto prazo.
O anúncio desviou os holofotes da bateria de votos indicativos realizada no Parlamento, no começo da noite, para medir o apoio da Casa a um cardápio de "planos B" ao trato firmado entre Londres e a UE (União Europeia). Nenhuma das 8 propostas apreciadas obteve maioria.
"Estou preparada para sair deste cargo mais cedo do que previa para fazer o que é correto para o nosso país e para o partido", afirmou May, que, em dezembro, comprometera-se a ceder o lugar antes das próximas eleições gerais, por ora programadas para 2022.
"Sei que existe um desejo de novas abordagem e liderança na segunda fase das negociações do brexit [que definirá a relação comercial futura com a UE]. Não serei um obstáculo a isso", disse a conservadora.
Ela pediu aos parlamentares ali presentes que completassem "nosso dever histórico: seguir a decisão do povo britânico e deixar a União Europeia de modo suave e ordenado".
Segundo jornalistas britânicos, a passagem de bastão poderia ocorrer em meados de julho, depois de May participar de sua última cúpula internacional, a do G20, na cidade japonesa de Osaka, em junho.
Pouco depois do anúncio, o líder da oposição, Jeremy Corbyn (Partido Trabalhista), escreveu em uma rede social que May havia conduzido as negociações do brexit pensando mais em interesses partidários do que em princípios e no interesse público.
"Uma mudança de governo não pode ser uma artimanha do Partido Conservador. As pessoas têm que [poder] decidir", defendeu ele, que há meses bate na tecla de que a solução para o impasse em Londres em torno do brexit seria convocar eleições gerais.
O documento que rege a separação já foi rechaçado duas vezes pelos parlamentares britânicos: em janeiro (por uma maioria de 230 votos) e em meados de março (por uma ainda elástica diferença de 149).
Os partidários de um rompimento a seco (sem período de transição para adaptação de lado a lado) vinham sinalizando a emissários do governo nos últimos dias que só endossariam o acordo fechado em novembro de 2018 pela primeira-ministra se ela se comprometesse a deixar a função.
Feita a concessão nesta quarta, a expectativa é que o pacto de separação seja levado a votação em plenário pela terceira vez na sexta (29).
Na semana passada, a UE disse que, se o texto fosse aprovado pelos deputados até essa data, 29, o Reino Unido poderia permanecer no bloco até 22 de maio. Os quase dois meses serviriam para passar a legislação de que Londres precisará como "país solo", como regras relativas a comércio, pesca e imigração.
Na noite de quarta, o Partido Unionista Democrático, da Irlanda do Norte, essencial à sustentação do governo May e à aprovação do pacto, anunciou que continua se opondo ao teor do documento. Isso significa 10 votos a menos.
Por outro lado, alguns baluartes da ala mais radical do Partido Conservador, que vinham rejeitando um acordo tido por eles como demasiado subserviente à Europa, disseram ter mudado de opinião.
Não se sabe ainda se o contingente dos vira-casacas será numeroso o suficiente para mudar a sorte de May no plenário do Parlamento.
Enquanto o governo fazia as contas, iam a voto na Câmara dos Comuns as oito propostas de roteiro alternativo para o brexit dos deputados.
O leque de opções ia desde um "divórcio litigioso", sem acordo (o chamado "no deal"), em 12 de abril, até a revogação da saída britânica, justamente para evitar a separação abrupta.
As duas ideias que chegaram mais perto da aprovação foram a de o governo negociar a manutenção do Reino Unido em uma união aduaneira com os 27 membros da UE (derrubada por apenas 8 votos) e a de submeter qualquer plano aprovado pelo Parlamento a um referendo popular (reprovada por uma diferença de 27 votos).
O acordo fechado por May prevê a saída do Reino Unido do mercado comum europeu e de instituições continentais.
Um mecanismo para evitar a volta de uma fronteira "dura" (com controles de pessoas e mercadorias) na fronteira entre as Irlandas está na raiz do cabo de guerra interminável que se vê no Legislativo.
A proposta é que, caso a futura relação comercial entre as partes não tenha sido definida a seis meses para o fim do período de transição pós-brexit (ou seja, em julho de 2020), entre em vigor uma união aduaneira temporária entre britânicos e europeus.
Setores do Partido Conservador dizem se tratar de uma armadilha da UE para manter Londres sob influência do bloco por tempo indeterminado.