O presidente Jair Bolsonaro escalou o vice-presidente Hamilton Mourão para viajar a Bogotá, na Colômbia, e participar da reunião do Grupo de Lima na próxima segunda-feira (25).
A decisão do presidente brasileiro de enviar seu vice para o encontro ocorre no mesmo dia em que o ditador Nicolás Maduro anunciou o fechamento da fronteira terrestre da Venezuela com o Brasil.
O Palácio do Planalto trata o ato do venezuelano como uma retaliação à autorização, dada por Bolsonaro nesta semana, para que opositores ao governo de Maduro usem território brasileiro para fazer chegar ajuda humanitária à Venezuela.
Interlocutores do presidente ouvidos pela reportagem afirmaram que o objetivo de Maduro é desencorajar o governo brasileiro a levar o plano adiante.
Na reunião na Colômbia na segunda, representantes dos países do Grupo de Lima discutirão os desdobramentos da crise venezuelana. O grupo é formado por 14 países das Américas, dos quais apenas o México não reconhece Juan Guaidó como presidente interino.
O encontro diplomático, que terá a participação do vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, ocorrerá dois dias após a data estabelecida por Guaidó para o início da entrada de ajuda humanitária na Venezuela.
Maduro foi reeleito em maio de 2018 para um novo mandato de seis anos, em um pleito quase que totalmente boicotado pela oposição e considerado fraudulento por observadores internacionais.
Por isso, a Assembleia Nacional, de maioria opositora, não reconheceu o novo mandato do ditador e considerou que à Presidência estava vaga. Assim, indicou Guaidó para ocupar interinamente o cargo até que novas eleições livres sejam realizadas – o opositor se declarou presidente interino da Venezuela em 23 de janeiro.
Ao escalar Mourão para lidar com a crise venezuelana, Bolsonaro esvazia o poder de seu chanceler, Ernesto Araújo, que vinha se encontrando com lideranças da oposição a Maduro.
Araújo defende um engajamento maior do Brasil no esforço de fazer chegar alimentos e medicamentos à Venezuela, algo que preocupa a ala militar do governo Bolsonaro.
Na avaliação de Mourão, segundo interlocutores, a situação na Venezuela é extremamente delicada e o alinhamento automático do Brasil à estratégia dos Estados Unidos de forçar a entrada de ajuda humanitária pode ter consequências graves para o país.
O vice-presidente está preocupado com um possível incidente na fronteira durante a tentativa de passagem do comboio da ajuda humanitária (que segundo o governo será formado por caminhões vindos do país vizinho e dirigidos por venezuelanos).
Além disso, Roraima é um estado que depende de energia vendida pela Venezuela, outra situação que poderia levar a retaliações de Maduro.
General do Exército, Mourão tem familiaridade com a Venezuela, por já ter servido como adido militar em Caracas.
Ao colocá-lo à frente do tema, Bolsonaro também espera que seu vice consiga reunir informações de círculos militares ainda próximos ao chavismo.
O próprio chanceler Ernesto Araújo admitiu, em entrevista coletiva, que o Ministério das Relações Exteriores contava apenas com inteligência enviada pelas lideranças anti-chavistas.