O cardeal George Pell, condenado por crimes sexuais na Austrália, não está mais no comando da Secretaria de Economia do Vaticano. O anúncio foi feito pela Santa Sé na noite desta terça-feira (26).
Pell, 77 anos, havia sido nomeado para a função em fevereiro de 2014, com mandato previsto de cinco anos. No anúncio desta terça-feira, o Vaticano não esclareceu se a saída se deve apenas ao término do prazo ou à condenação do religioso.
"Posso confirmar que o cardeal George Pell já não é prefeito da Secretaria de Economia", escreveu no Twitter o porta-voz do Vaticano Alessandro Gisotti.
A corte de Melbourne, sul da Austrália, declarou Pell culpado por agressão sexual e outras quatro acusações de atentado ao pudor contra dois coroinhas de 12 e 13 anos. Os crimes, segundo a investigação, ocorreram na sacristia da Catedral de São Patrício, em Melbourne, nos anos 1990.
"O cardeal George Pell sempre manteve sua inocência e continua o fazendo", afirmaram, em um comunicado publicado nesta terça-feira, seus advogados, que anunciaram recurso de apelação. O texto também aponta que acusações contra Pell foram retiradas ou não foram aceitas.
O Vaticano, por sua vez, expressou "profundo respeito" à Justiça da Austrália após a condenação. "É uma notícia dolorosa, que chocou muitas pessoas, não só na Austrália. Como fizemos antes, reafirmamos nosso profundo respeito pelas autoridades judiciais australianas ", disse o Vaticano. "Esperamos agora o resultado do julgamento em apelação, recordando que o cardeal Pell reafirmou sua inocência", completou o comunicado.
Um dos coroinhas que teriam sido vítimas de Pell morreu em 2014. O outro relatou em um comunicado publicado por seu advogado que o processo é estressante e "ainda não terminou". "Assim como muitos sobreviventes, experimentei vergonha, solidão, depressão e dificuldades. Assim como muitos sobreviventes, demorei anos para compreender o impacto que teve na minha vida", disse a vítima, que não foi identificada publicamente.
Nesta quarta-feira (27), está prevista outra audiência, antes do anúncio da sentença. A condenação representa um novo golpe para a Igreja, apenas dois dias depois do encerramento de uma reunião histórica que abordou a questão da pedofilia. Durante o evento, o papa Francisco prometeu adotar medidas para que crimes de abuso sexual não se repitam. Mas críticos consideram que a instituição aborda o problema de décadas com muito lentidão.
Dias depois da condenação de Pell em sigilo, a Igreja anunciou que ele havia sido afastado do grupo de cardeais que integram o gabinete do Papa e seus conselheiros mais próximos.
Mas, no papel, ele continuava aparecendo no comando da secretaria de Economia da Santa Sé. Ou seja, como o número três do Vaticano, cargo do qual tirou licença para preparar sua defesa.
O caso de Pell provocou uma grande comoção na Austrália, onde ele lidera as vozes conservadoras em questões como o casamento gay e a mudança climática. O religioso negou durante décadas ter cometido ou ocultado abusos sexuais, mas admitiu problemas na maneira de lidar com a questão de padres pedófilos no estado de Victoria.
Uma comissão que investiga abusos de menores afirmou em um relatório do ano passado que dezenas de milhares de crianças foram vítimas em igrejas, orfanatos, clubes esportivos, grupos de jovens e escolas na Austrália. No país, de cada cinco pessoas, uma é católica, o que representa quase cinco milhões de cidadãos.