O porta-voz da Presidência da República, Otávio Rêgo Barros, confirmou que o Brasil buscará iniciar as operações de ajuda humanitária à Venezuela neste sábado (23), apesar de a fronteira com o país vizinho seguir fechada. Em entrevista nesta sexta-feira (22), em Brasília, Rêgo Barros informou que o governo federal tem estoque de cerca de 200 toneladas de alimentos, além de kits de primeiros socorros.
Segundo o porta-voz, o transporte das mercadorias será feito por caminhões venezuelanos. No entanto, até o final da tarde, diante do fechamento da fronteira, apenas um veículo aguardava o início das operações em Boa Vista, capital de Roraima. Há possibilidade de a operação seguir por "alguns dias", "sem previsão de término", disse Rêgo Barros.
— Queremos reforçar que a operação brasileira tem caráter exclusivo de ajuda humanitária, não havendo interesse no emprego de quaisquer outras frentes neste momento — pontuou.
O plano do governo federal é de que os caminhões se desloquem de Boa Vista até Pacaraima, na fronteira com a nação vizinha. A partir do município brasileiro, os veículos teriam de entrar na Venezuela sob esquema de segurança a ser organizado pelo autodeclarado presidente do país, Juan Guaidó. Principal opositor do governo de Nicolás Maduro, Guaidó conta com o apoio de países como Brasil e Estados Unidos.
— Os caminhões que não tiverem como adentrar na Venezuela retornarão a Boa Vista antes de nova tentativa — relatou Rêgo Barros.
Conforme o porta-voz, o estoque de mercadorias reúne alimentos como arroz, feijão, açúcar e sal. Durante a entrevista, Rêgo Barros também mencionou que o governo federal não confirma o "pré-posicionamento de mísseis" pela Venezuela na fronteira com o Brasil.
— Não conjecturamos poder de combate — sublinhou.
A tensão na fronteira do Brasil com a Venezuela aumentou a partir de quinta-feira. Na ocasião, o Brasil anunciou que prepara operação para fornecer ajuda humanitária em "cooperação com o governo dos Estados Unidos". A ação se tornou novo foco de embate entre Maduro e Guaidó. O sucessor de Hugo Chávez teme que a entrega poderá facilitar intervenção dos Estados Unidos e pediu aos militares que impeçam a entrada das mercadorias. Guaidó, por sua vez, discursa a favor da medida.
Com a tensão formada em torno do assunto, o posto de fronteira entre o Brasil e a Venezuela foi fechado na quinta-feira após determinação de Maduro. O trânsito segue interrompido no local nesta sexta-feira, o que provocou a revolta de grupos que buscavam permitir a entrada de mantimentos no país. Em confronto com indígenas, no Estado de Bolívar, na fronteira com o Brasil, militares venezuelanos mataram pelo menos duas pessoas.