Pelo menos 23 membros das forças de segurança venezuelanas, incluindo 20 militares, desertaram neste sábado (23) e chegaram à Colômbia. A informação foi dada pela autoridade migratória colombiana, em meio a uma escalada de tensões pela entrada anunciada de ajuda essencial à Venezuela.
Um balanço anterior afirmava que 13 efetivos das forças públicas haviam decidido romper com o governo de Nicolás Maduro.
No entanto, à tarde, a autoridade migratória atualizou esta cifra, ao informar que "23 membros das diferentes Forças Armadas da Venezuela se aproximaram da Migração da Colômbia, fugindo da ditadura de Nicolás Maduro".
Um jornalista da AFP observou o momento em que quatro membros de forças de segurança passaram para o lado colombiano pela ponte Simón Bolívar, fechada na véspera por decisão de Maduro. A Polícia colombiana lhes deu proteção e um deles, que usava uniforme da Guarda Nacional Bolivariana, chorou com as mãos erguidas, após agradecer por ter podido cruzar a fronteira.
A Migração da Colômbia informou que entre os desertores há 20 militares e três policiais. Um dos uniformizados se apresentou com o major Hugo Parra, que usava um uniforme da Força Armada Nacional Bolivariana.
"Reconheço nosso presidente, o engenheiro Juan Guaidó, e estarei em luta junto ao povo venezuelano em cada marcha", declarou Parra a jornalistas após sua chegada à cidade colombiana de Cúcuta, onde foi recebido pelo líder da oposição venezuelana.
As primeiras deserções ocorreram antes de que Guaidó anunciou a saída da ajuda em caminhões com alimentos e insumos médicos doados pelos Estados Unidos e seus aliados.
Segundo a autoridade migratória, são três militares que se mobilizavam em um blindado branco e derrubaram uma das cercas de segurança da ponte Simón Bolívar, na cidade colombiana de Cúcuta. Na ação, uma mulher que estava na passagem fronteiriça ficou ferida.
Estes membros da Guarda Nacional Bolivariana passaram para o território colombiano, enquanto o veículo ficou do outro lado da fronteira, de onde foi retirado pelos militares, disseram fontes policiais à AFP.
Guaidó, que é reconhecido por 50 países como presidente interino, ofereceu anistia aos membros da força pública que romperam com Maduro. "Os soldados com quem eu tenho falado têm respondido ao seu desejo de vida e futuro para os seus filhos que o usurpador não lhes garante. Soldado venezuelano, a mensagem é clara: faça o que manda a Constituição. Haverá anistia e garantias para quem se posicionar ao lado do povo", escreveu no Twitter.
De acordo com a Secretaria de Saúde de Roraima (Sesau-RR), desde esta sexta-feira (22), ao menos 13 venezuelanos feridos em confrontos em localidades próximas à fronteira com o Brasil já haviam sido atendimentos por hospitais do Estado.
De todos os atendidos, ao menos cinco foram liberados, enquanto os demais continuam internados no Hospital Geral de Roraima, em Boa Vista, três dos quais em estado grave, segundo a Sesau-RR. Nove deles se feriram em confronto com militares em Kumarakapay, vila a cerca de 70 km da fronteira.
Um dos atendidos, identificado como Lino Benavides, deu entrada na noite de sexta-feira no hospital em Boa Vista com traumatismo craniano e permanece em observação. Outro, Kleber Perez, foi atingido por um tiro no tórax e encontra-se internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). O terceiro, Rolando Garcia Martinez, está sedado e respira com ajuda de aparelhos, informou a Sesau-RR.
A tensão na região fronteiriça se intensificou desde quinta-feira (21) à noite, quando o governo do presidente Nicolás Maduro anunciou o fechamento da fronteira, de modo a evitar a entrada de toneladas de ajuda humanitária enviada por Brasil e Estados Unidos, no que o regime venezuelano acusa ser uma tentativa de invadir seu território.
Na manhã deste sábado, dois caminhões com ajuda humanitária saíram de Boa Vista e percorreram os 214 km até Pacaraima, na fronteira. De acordo com o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, um desses caminhões já cruzou o limite entre os dois países e encontra-se em território venezuelano.