Em um último esforço para salvar seu controverso acordo do Brexit, a primeira-ministra britânica, Theresa May, publicou, nesta segunda-feira (14), uma carta de Bruxelas garantindo que a União Europeia (UE) quer evitar a aplicação do ponto mais conflituoso do texto.
Os deputados britânicos devem votar nesta terça o documento de 585 páginas, fruto de 17 meses de árduas negociações com Bruxelas. O texto detalha as condições da saída do Reino Unido da UE, prevista para o próximo 29 de março.
Essa é uma das legislações mais importantes apresentadas ao país nos últimos 50 anos, e tudo parece indicar que será rejeitado de forma retumbante: o texto desagrada tanto aos eurocéticos, para quem faz concessões excessivas à UE, como aos pró-europeus, que querem frear o processo e permanecer no bloco.
Na última tentativa de salvar o texto, ou pelo menos limitar sua derrota, o governo de May publicou uma carta das autoridades europeias destinada a acalmar as preocupações dos deputados, especialmente sobre seu aspecto mais difícil: o denominado "backstop", um mecanismo complexo criado para evitar uma fronteira dura na ilha da Irlanda.
O bloco "não quer que o 'backstop' entre em vigor", afirmam o presidente do Conselho da UE, Donald Tusk, e o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, que fizeram questão de deixar claro que o acordo negociado com Londres não pode ser modificado.
- 'Fé na democracia' -
"Sei que (a carta) não vai tão longe quanto alguns deputados gostariam", admitiu May em um discurso nesta manhã a operários de uma fábrica em Stoke-on-Trent.
No centro da Inglaterra, essa cidade votou majoritariamente a favor do Brexit no referendo de junho de 2016, no qual o país decidiu por 52% acabar com 45 anos de integração europeia.
May disse esperar, contudo, que isso acalme o debate. Ao mesmo tempo, na véspera da votação histórica, lançou uma advertência ao Parlamento: "Todos temos o dever de cumprir o resultado do referendo".
"Peço aos deputados que considerem as consequências de suas ações sobre a fé do povo britânico em nossa democracia", afirmou, insistindo em que "a confiança das pessoas no processo democrático e em seus políticos sofreria um dano catastrófico".
Durante muito tempo, May tinha afirmado que, caso seu texto fosse rechaçado, a alternativa era um Brexit sem acordo, com consequências caóticas.
Esta possibilidade é muito temida nos círculos empresariais. O Banco da Inglaterra alertou em novembro que provocaria uma grave crise econômica, dispararia o desemprego e a inflação, causaria forte queda da libra e dos preços de habitação, além de reduzir o Produto Interno Bruto (PIB) em quase 10%.
A ideia provocou uma forte rejeição em grande parte do país, e um grupo numeroso de parlamentares tomou várias iniciativas para tentar impedi-la.
Em uma análise publicada nesta segunda-feira (14), especialistas da Economist Intelligence Unit, com sede em Londres, consideram, assim, que "um Brexit sem acordo agora é o cenário menos provável".
* AFP