A Argentina fechou 2018 com inflação de 47,6%, a segunda mais alta da América Latina, depois da Venezuela, e na contra-mão da maior parte dos países do mundo, que controlaram este mal há anos.
O índice de preços ao consumidor também foi o mais alto registrado no país desde 1991, quando foi adotada a paridade entre peso e dólar.
Em dezembro, a inflação foi de 2,6%, mostrando uma desaceleração em relação aos meses anteriores, informou nesta terça-feira o estatal Instituto de Estatísticas. Em novembro, tinha alcançado 3,2%, em outubro 5,4% e em setembro 6,5%.
"Claramente a Argentina está entre os cinco maiores países com a inflação mais alta", disse à AFP o economista Martín Vauthier, da Eco Go consultores.
"É uma inflação muito alta. A Argentina é um caso surpreendente de uma sociedade que se acostumou a viver com inflação. Há vários anos que a inflação não é um problema no mundo, nem nos países desenvolvidos, nem nos emergentes", acrescentou.
Em 2017, a inflação no país foi de 24,8% e em 2016 de 41%.
A Argentina sofreu com uma crise econômica em 2018 que levou o país a pegar um empréstimo de US$ 56 bilhões com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Prevê-se que, em 2018, o Produto Interno Bruto (PIB) caia 2,6%. A desvalorização da moeda ao longo do ano foi de 51%.
- Alimentos, transportes e serviços -
Os aumentos de preços mais significativos em 2018 foram dos setores de transporte (66,8%), alimentação (51,2%) e habitação e serviços de água, eletricidade e gás (45,7%).
Como os preços subiram, a pobreza aumentou, atingindo 27,3% até o primeiro semestre do ano passado, seu registro mais recente.
"Os insumos estão muito mais caros, 40%, 50%, até 100%, podemos dizer, e a venda é a mesma, os consumidores são os mesmos de todos os dias. Não posso transferir o aumento para os comensais", queixou-se Guillermo Fegan, dono de um restaurante em Buenos Aires.
Para conter a espiral de inflação e desvalorização, o Banco Central decidiu zerar o crescimento da oferta monetária e o governo do presidente liberal Mauricio Macri comprometeu-se a alcançar o equilíbrio fiscal em 2019.
O déficit fiscal foi de 3,9% em 2017 e projetado em 2,7% para 2018, embora provavelmente seja menor.
Segundo Vauthier, o índice de inflação "não foi maior porque o Banco Central aumentou muito a taxa de juros, mas isso levou a economia à recessão".
Com taxas de juros que atingiram 80% ao ano e atualmente estão em 58%, o consumo caiu. Segundo a Confederação da Média Empresa, as vendas no varejo recuaram 15,6% em novembro passado em relação ao mesmo mês de 2017.
- Deflação lenta -
No orçamento de 2019, o governo de Macri projetou inflação anual de 23%. Mas os primeiros meses do ano já verão fortes altas das tarifas de serviços públicos e do transporte - uma medida muito impopular que já motivou diversos protestos.
"O processo de deflação vai ser muito lento. Nossa projeção para 2019 é de 34%. Se o mercado cambial acabar de estabilizar, pode diminuir. Fechar 2019 com 30% seria um sucesso. Mas é muito difícil após tantos anos de inércia inflacionária", afirmou Vauthier.
Macri insiste que as altas são necessárias. "Se quisermos ter energia, todos temos que saber que existe um preço e que temos que pagar", afirmou nesta terça.
O ano promete ser tenso com eleições presidenciais em outubro, nas quais Macri buscará um novo mandato, enquanto os sindicatos pressionam por aumentos salariais.
"É um assunto muito complicado, vivemos isso todos os dias aqui. Hoje, você vai comprar no supermercado, e os preços são diferentes dos de ontem. Então, fica muito complicado para o povo, sobretudo com os salários baixos que você tem no país", comentou Gabriel Rodríguez, bancário de 40 anos.
* AFP