A primeira-ministra de Bangladesh, Sheikh Hasina, conquistou seu quarto mandato com uma ampla vitória nas eleições legislativas de domingo, segundo resultados oficiais que foram rejeitados pela oposição, após uma jornada eleitoral que deixou 17 mortos.
A coalizão de Hasina, a Liga Awami, obteve 288 dos 300 assentos o Parlamento unicameral, contra apenas seis paraa oposição, anunciou nesta segunda-feira o secretário da Comissão Eleitoral, Helal Uddin Ahmed.
A televisão já havia anunciado horas antes a vitória arrasadora de Hasina.
"Pedimos à comissão eleitoral que anule estes resultados imediatamente", declarou o líder opositor Kamal Hosain, 82, considerado "pai" da Constituição do país. "Exigimos que um governo neutro organize novas eleições o quanto antes."
Sheikh Hasina, 71 anos e filha de Sheikh Mujibur Rahman, primeiro presidente de Bangladesh, conquistou assim seu terceiro mandato de cinco anos consecutivo desde 2008, e o quarto desde o de 1996-2001, um recorde nacional.
Assim como na campanha eleitoral, a votação de domingo foi marcada por confrontos entre partidários da Liga Awami e o Partido Nacionalista de Bangladesh (BNP), principal partido de oposição, em que morreram 13 pessoas. Outras quatro morreram baleadas em incidentes separados.
O governo anunciou a mobilização de cerca de 600 mil membros de polícia, Exército e outras forças de segurança, para garantir o bom desenvolvimento das eleições legislativas, que acontecem pela 11ª vez desde a independência do país, em 1971.
Sheikh Hasina é muito popular entre seus compatriotas, graças a um período de grande crescimento econômico e por ter feito com que Bangladesh perdesse a imagem de país pobre. Ela também recebeu centenas de milhares de rohingyas que fugiram de Mianmar.
Mas seus detratores a descrevem como um autocrata que prendeu sua adversária Khaleda Zia e reprimiu a dissidência com prisões em massa, desaparecimentos forçados e leis severas que amordaçam a imprensa.
- 'Acusações de repressão' -
Organizações internacionais de defesa dos direitos humanos, entre elas a Human Rights Watch, denunciaram, em comunicado conjunto, medidas repressivas que criaram um clima de medo para dissuadir os simpatizantes da oposição de irem às urnas, o que Sheikh Hasina desmentiu.
ONU e Estados Unidos questionaram a credibilidade do processo eleitoral. O BNP, que boicotou as eleições anteriores, em 2014, afirmou que membros da Liga Awami agrediram seus militantes, para desencorajar os eleitores.
O porta-voz da comissão eleitoral, S.M. Asaduzzaman, disse apenas que recebeu "algumas acusações de irregularidades", que seu órgão, classificado de parcial por líderes opositores, estava investigando.
O partido de Khaleda Zia, opositora e inimiga de Sheikh Hasina, afirmou que 15 mil militantes foram presos desde 8 de novembro. Segundo a oposição, 17 candidatos foram detidos sob acusações falsas, e tribunais controlados por Sheikh Hasina teriam impedido que outros 17 opositores participassem das eleições.
"Não são eleições livres e justas. É mais uma seleção controlada", declarou um diplomata ocidental, sob anonimato."
O regulador de telecomunicações ordenou que as operadoras de telefonia móvel de Bangladesh cortassem as redes 3G e 4G até a noite deste domingo, para "evitar que rumores se espalhassem", disse um porta-voz.
- ONU pede moderação -
O porta-voz das Nações Unidas, Stephane Dujarric, informou que "a ONU está a par dos incidentes violentos e das denúncias de irregularidades nas eleições gerais de Bangladesh".
"Pedimos a todos os lados que mostrem moderação e garantam um ambiente pós-eleitoral pacífico, no qual as pessoas possam manter seus direitos de reunião e expressão".
"Animamos os partidos a abordar as denúncias eleitorais de forma pacífica e através dos caminhos legais. A violência e os ataques contra pessoas e propriedades não são aceitáveis".
* AFP