Em meio às notícias publicadas na imprensa japonesa sobre as suspeitas de malversação que pesam contra o executivo Carlos Ghosn, detido no Japão, veja abaixo o que há de concreto, até o momento, sobre o caso:
- Ele é suspeito de fraude fiscal?
Não. Depois da confusão das primeiras informações, veio à tona que as falsas declarações, das quais Ghosn é suspeito, não têm qualquer relação com a renda declarada à Receita Federal japonesa, referindo-se a um documento destinado aos mercados financeiros.
Carlos Ghosn é suspeito de ter certificado, como CEO da Nissan, relatórios financeiros anuais enviados pelo grupo às autoridades japonesas do setor entre 2011 e 2015, mesmo sabendo que continham informações inexatas sobre seus próprios rendimentos.
Se essas suspeitas se confirmarem, ele será considerado penalmente responsável pelas informações falsas neste documento chamado "yukashoken hokokusho".
"As empresas que são cotadas na Bolsa devem enviar esse documento todo o ano. Devem constar nele todas as informações financeiras sobre o grupo, assim como o montante dos pagamentos coletivos dos executivos e o valor individual para aqueles que recebem mais de 100 milhões de ienes (770.000 euros) por ano. É preciso detalhar o montante recebido por parte da empresa principal, mas também das filiais", explicou à AFP Jun Yokoyama, jurista financeiro da Daiwa Securities.
"Esse documento se destina a delinear a situação completa e das finanças da empresa, visando aos mercados, analistas e investidores. Isso não tem nada a ver com a declaração de rendimentos fornecida à Receita Federal, que é um documento individual não publicado", acrescentou.
Em caso de descoberta do descumprimento dessa legislação, a pena é, em tese, severa, mas isso depende do tipo de inexatidão cometida, disse à AFP uma fonte oficial do setor financeiro.
Em tese, "quanto mais a inexatidão é voltada para fraudar a opinião dos investidores, mais elevada é a sanção".
"Não há um procedimento de controle externo sistemático das informações publicadas, porque se supõe que elas estejam exatas, já que foram certificadas pelo presidente. Em contrapartida, as autoridades podem se comprometer com procedimentos, em caso de descoberta de malversação", acrescentou a mesma fonte.
- E as suspeitas de abuso de bens sociais, desvio de recursos, etc.?
Nenhuma fonte oficial trata dessas suspeitas até agora.
Além das falsas declarações, até o momento, apenas o presidente-executivo da Nissan, Hiroto Saikawa, referiu-se a abuso de bens sociais, "cuja gravidade é tamanha que, segundo um especialista, justifica-se plenamente o fato de propor sei afastamento". Ele não deu, porém, nenhum exemplo concreto.
Todos os casos específicos que vieram à tona na sequência têm sido apontados pela imprensa japonesa. E a lista cresce a cada dia.
A fonte dos jornais nunca é revelada, mas se trata, provavelmente, de vazamentos da investigação interna realizada pela Nissan e enviada para a Justiça.
De acordo com essas informações, a renda não declarada de Ghosn tem origem, sobretudo, de uma filial da Nissan instalada na Holanda.
Ele teria feito uso exclusivo de quatro residências de luxo em quatro países, casas pagas pela mesma filial criada em 2010, cujo objetivo inicial era investir em start-ups.
Ele também teria feito uma oferta de emprego fictício à sua irmã.
E ainda teria pago várias viagens em família com recursos da Nissan.
Até agora, nada permite confirmar a exatidão dessas informações, que, além disso, não constituem o motivo pelo qual Carlos Ghosn foi preso.
- Quem é Greg Kelly, braço direito de Carlos Ghosn também preso?
Greg Kelly sempre foi um homem discreto. Na Nissan, era visto como o homem de confiança do então presidente.
Começou na filial americana da Nissan em 1988, depois de ter trabalhado como advogado. Diplomado em Direito, este americano de 62 anos avançou progressivamente até se tornar membro da diretoria do grupo em 2008, encarregado de organizar as tarefas do presidente.
Um ano depois, acumula outras funções, entre elas a diretoria de recursos humanos do conjunto do grupo e sua comunicação.
Em junho de 2012, passou a integrar o conselho administrativo.
"Ele trabalhava estreitamente com Carlos Ghosn, de quem tinha total confiança", conta um ex-funcionário da Nissan, que trabalhou um tempo sob as ordens de Kelly.
Aquele que muitos no grupo chamavam de "a Eminência Parda" de Carlos Ghosn "era visto como influente", afirma a mesma fonte. Esse relato é corroborado por outros depoimentos publicados pela imprensa japonesa.
Citado pelo jornal econômico "Nikkei", Jim Press, que foi conselheiro para a Aliança Renault-Nissan, insiste em suas "reais capacidades e seu senso de ética".
* AFP