Correção: Alice Mann foi eleita deputada estadual em Minnesota, e não deputada federal, como informado incorretamente entre 10h09min e 11h40min. O texto foi corrigido.
Na renovação do Legislativo norte-americano após as eleições de meio de mandato (conhecidas como midterms), uma das cadeiras da Câmara dos Representantes do Estado de Minnesota será ocupada, a partir de 2019, por uma gaúcha. Eleita deputada estadual pelo partido Democrata, Alice Mann nasceu há 38 anos em Porto Alegre e fez da medicina familiar sua porta de entrada para a política no país que seus pais escolheram para viver há três décadas.
— Eu passei a última década trabalhando como médica de família. Eu mantenho o horário regular da clínica e também no pronto-socorro e atendimento de urgência. No dia a dia, vejo as pessoas no seu estado mais vulnerável e, muitas vezes, mais fraco. Com o passar dos anos, isso só foi piorando — conta Alice.
Trabalhando no distrito de Lakeville, Alice conta que se comoveu com as cenas repetidas de quem sofre de depressão por não conseguir pagar creche para os filhos, as contas do hospital e medicamentos, porque não recebem ajuda do governo — já que não existe sistema público de saúde nos Estados Unidos.
Além dos problemas locais, as missões médicas humanitárias internacionais que Alice faz anualmente também a empurraram para a política. Entre os destinos já ajudados estão Tanzânia, Mali, Nicarágua, Haiti, Zimbábue e Brasil, onde ficou no Amapá. Mas foram as viagens mais recentes, ao campo de refugiados sírios na Grécia e à devastação causada pelo furacão Maria em Porto Rico, que se tornaram decisivas:
— Lá eu vi muito sofrimento e vi como o governo havia falhado com seu povo. É por isso que eu concorri para um cargo público — disse Alice.
A médica brasileira elencou como prioridades de seu mandato a saúde — Alice defende ajuda estatal para quem passa por dificuldades —, a educação e a ética governamental.
— Precisamos trazer cuidados de saúde acessíveis para o nosso povo e ter certeza de que o governo está trabalhando para o povo, e não para os políticos — sustenta a deputada eleita.
Com 40 mil votos, 53% do total do distrito de Lakeville e Burnsville, a gaúcha assumirá a partir de 8 de janeiro uma das 134 cadeiras da Câmara de Representantes de Minnesota.
Seu posicionamento está alinhado à chamada "onda azul" no país, cor identificada com o partido de Barack Obama e Hillary Clinton. Enquanto Donald Trump e os republicanos inflamaram os discursos contra a imigração, a maioria dos democratas preferiu focar temas de interesse básico da população, como os problemas do sistema de saúde, a escassa melhora econômica nas classes mais desfavorecidas e as políticas regressivas que estão ganhando espaço nos EUA em matéria como o aborto e os direitos LGBT+.
Do RS aos EUA
Alice nasceu e viveu em Porto Alegre até os oito anos de idade. Do tempo em que morava na zona sul da Capital, lembra com carinho dos "grandes portões" de entrada no Colégio Anchieta, onde estudava, e, especialmente, de quindim.
— Saímos do Brasil por causa do alto custo de vida, da inflação e da incerteza do futuro — lembra a gaúcha, filha de um urologista e de uma psicóloga. — Outra razão para sair foi o aumento da violência na época, 30 anos atrás — acrescenta.
Nos Estados Unidos, Alice cresceu em Richfield, no Estado de Minnesota, e fez o chamado college (faculdade) nas universidades de Nova York e na Estadual de Bemidj, em Minnesota. Mais tarde, cursou Medicina no Meharry Medical College, no Tennessee, e fez mestrado em Saúde Pública na Johns Hopkins University.
Atualmente, mora em Lakeville, Minnesota, com o marido americano, Elliot, e seus três filhos, que vieram em escadinha: Maxwell, seis anos, Alexander, quatro anos, e Marcelo, dois anos.
— Eu lhes ensinei algumas coisas em português. Eles conseguem nomear partes do corpo e animais — comenta Alice, que também veste o trio de meninos com camisas da Seleção Brasileira.
Ela conta que voltou ao Brasil muitas vezes nos últimos 30 anos, até porque grande parte de sua família ainda vive por aqui, espalhada por Porto Alegre e também no Rio de Janeiro. Entre as visitas ao país natal, conta que passou um mês trabalhando no Hospital de Pronto-Socorro (HPS) da capital gaúcha, como parte do treinamento do curso de Medicina.
— Foi uma experiência maravilhosa. Os brasileiros são as pessoas mais gentis e calorosas. Me senti muito bem recebida por todos no hospital — lembra a médica.
Sobre a política brasileira, a deputada eleita diz que "acompanha de longe" e que está "desapontada", mas prefere não ir além no comentário:
— Estou desapontada com o que está acontecendo. Além disso, não me sinto qualificado para realmente dar uma opinião informada. Acho que é isso que me separa de outros políticos que não acham que sabem tudo, mas sentem a necessidade de dar sua opinião sobre tudo — alfineta Alice. — Por fim, uma das grandes razões pelas quais eu acho que ganhei minha eleição é porque passo muito tempo na comunidade ouvindo as pessoas e realmente prestando atenção em suas preocupações.