Robert Bowers, o homem acusado de matar 11 pessoas em uma sinagoga de Pittsburgh, fez declarações antissemitas antes de iniciar o ataque, confirmaram neste domingo as autoridades americanas.
"Durante o curso de seu ataque mortal contra as pessoas na sinagoga, Bowers citou o genocídio e seu desejo de matar os judeus", afirmou Scott Brady, promotor do distrito oeste da Pensilvânia, em uma entrevista coletiva.
Segundo vários veículos de comunicação, o homem gritou: "Todos os judeus devem morrer".
Brady confirmou que Robert Bowers foi indiciado por 29 acusações e corre o risco de ser sentenciado à morte.
"Bowers estava armado com várias armas de fogo", três revólveres e um fuzil semi-automático AR-15, declarou o procurador.
Ferido durante uma troca de tiros com policiais, ele foi operado e continua hospitalizado em condição estável neste domingo.
Por sua vez, as 11 vítimas do ataque já foram identificadas e suas famílias avisadas, informaram as autoridades americanas.
As pessoas mortas, com entre 54 e 97 anos, são três mulheres e oito homens, todas desta cidade industrial do oeste da Pensilvânia ou de seus arredores.
As vítimas são um casal, Sylvan e Bernice Simon, de 86 e 84 anos, dois irmãos, Cecil e David Rosenthal, de 59 e 54 anos, Joyce Fienberg, de 75 anos, Richard Gottfried, 65 anos, Rose Mallinger, 97 anos, Jerry Rabinowitz, 66 anos, Daniel Stein, 71 anos, Melvin Wax, 88 anos, e Irving Younger, 69 anos.
As autoridades estimaram em uma semana o tempo necessário para examinar e limpar a cena do crime. E Robert Bowers será levado perante um juiz na segunda-feira.
"Sabemos que o ódio nunca prevalecerá, que aqueles que tentarem nos dividir por causa de nossa maneira de orar ou pela origem de nossas famílias perderão", declarou o prefeito de Pittsburgh, Bill Peduto.
O democrata também relançou o espinhoso debate sobre as armas de fogo, enquanto massacres como esse são comuns nos Estados Unidos.
"Eu ouvi o presidente dizer que devemos armar os guardas em nossas sinagogas", declarou.
"Nossa abordagem deveria ser: como retirar armas de fogo - que são o denominador comum de todos os tiroteios na América - das mãos daqueles que querem expressar seu ódio racista com assassinatos".
- "Assassinato em massa" -
Robert Bowers, de 46 anos, invadiu a sinagoga Tree of Life (Árvore da vida) por volta das 14H00 GMT (11H00 de Brasília).
"A cerimônia estava em andamento quando escutei um forte barulho na entrada", contou um membro da congregação, Stephen Weiss, ao jornal Tribune Review. "Reconheci o som como o de uma arma de fogo", acrescentou este homem de 60 anos, que fugiu imediatamente do local.
"É provavelmente o ataque mais letal contra a comunidade judaica da história dos Estados Unidos", afirmou Jonathan Greenblatt, diretor da Liga Antidifamação (ADL, na sigla em inglês), organização de combate ao antissemitismo.
O presidente Donald Trump classificou o ataque como um "enlouquecido ato de assassinato em massa". "Não deve haver tolerância para o antissemitismo", afirmou.
"A América é mais forte que os atos de um antissemita perverso e sectário", declarou sua filha Ivanka, convertida ao judaísmo.
Trump, que estava no estado de Illinois para participar de ato de campanha, anunciou que viajará a Pittsburgh, sem dar maiores detalhes sobre a viagem.
Além disso, determinou que as bandeiras dos Estados Unidos permaneçam a meio mastro em todo o país até 31 de outubro em sinal de "respeito solene" às vítimas do massacre.
Perto da sinagoga foram organizadas vigílias de homenagem. Dezenas de moradores Pittsburgh se reuniram com velas nas mãos.
Moradores do bairro saíram de suas casas para oferecer café aos policiais que formavam, sob a chuva, um cordão de isolamento para impedir o acesso ao local do ataque.
A sinagoga Árvore da Vida, fundada há mais de 150 anos, fica em Squirrel Hill, coração da vida judaica nesta cidade do estado da Pensilvânia.
- Publicações antissemitas -
O FBI informou que Bowers não tinha ficha na polícia. Mas ao que tudo indica é o autor de uma série de publicações antissemitas na internet, em especial no site Gab.com, onde são publicadas teorias da conspiração.
Uma frase na página de Bowers afirmava: "Os judeus são filhos de satã", de acordo com imagens de tela de sua conta, que já foi suspensa, obtidas pelo grupo SITE, que monitora movimentos extremistas.
A página Gab, lançada em 2016 com base no modelo do Twitter, foi obrigada a interromper suas atividades. O site informou no sábado que a Joyent, empresa que dá acesso a internet, vai cessar seus serviços a partir de segunda-feira.
O ataque aconteceu em um momento de grande tensão nos Estados Unidos, um dia depois de um seguidor de Trump na Flórida ter sido detido e acusado de enviar 13 bombas a opositores do presidente dos Estados Unidos, um caso que aumenta ainda mais a pressão no país a poucos dias das eleições legislativas.
Este foi o caso de tiroteio mais recente nos Estados Unidos, onde as armas de fogo estão vinculadas a mais de 30.000 mortes por ano.
* AFP