O balanço do naufrágio da balsa "MV Nyerere" no lago Vitória, na Tanzânia, na última quinta-feira, continua aumentando e chegou a 209 mortos neste sábado (22), dia em que os socorristas conseguiram encontrar um sobrevivente.
Nesta tarde, contra qualquer expectativa, os socorristas encontraram uma pessoa viva nos destroços da balsa, após passar quase dois dias em um compartimento ainda cheio de ar, contou o deputado Mkundi. O sobrevivente foi levado imediatamente para um centro médico.
A embarcação transportava um número ainda desconhecido de passageiros. Sua lotação oficial permitida era de 101 pessoas.
A carcaça do barco está a apenas algumas dezenas de metros da ilha de Ukara, destino final da balsa.
"Lamentamos a morte de 209 pessoas, das quais 172 já foram identificadas por familiares e 112 reivindicadas por seus parentes para enterrá-las", declarou o ministro dos Transportes, Isack Kamwelwe, em entrevista coletiva transmitida pela televisão pública tanzaniana TBC One.
Na mesma coletiva, o governador da região de Mwanza (noroeste), John Mongella, disse que foi enviado para o local da tragédia um "dispositivo" para "virar" a balsa e acelerar as buscas.
As operações de busca terminam neste sábado, anunciou o comandante do Exército tanzaniano, general Venance Mabeyo.
Testemunhas e sobreviventes deram duas versões diferentes da catástrofe, mas parece evidente que a sobrecarga da embarcação está na origem da tragédia.
Segundo algumas pessoas, vários passageiros se deslocaram para a proa, diante da proximidade do cais. O movimento teria desequilibrado a embarcação. Outras testemunhas relataram que o capitão, distraído com o celular, não fez corretamente a manobra de aproximação e, ao tentar resolver o problema, fez um movimento brutal que levou ao naufrágio.
Em outros acidentes ocorridos na região dos Grandes Lagos no passado, constatou-se o excesso de lotação, que levou aos naufrágios, e o grande número de pessoas que não sabiam nadar, o que provocou um número alto de mortos.
- 'Negligência' -
O presidente tanzaniano, John Magufuli, que falou em "negligência", ordenou na sexta-feira à noite "a prisão de todas as pessoas envolvidas na gestão da balsa".
"Os responsáveis serão severamente punidos", prometeu.
A balsa "MV Nyerere" cobria o trajeto entre a ilha de Ukara e a de Ukerewe, onde fica a localidade de Bugolora. Os moradores de Ukara costumam ir lá em busca de mantimentos.
As bandeiras estavam a meio pau neste sábado em todo país, depois que o presidente declarou luto nacional, ontem, por quatro dias, em homenagem às vítimas.
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, apresentou suas condolências "às famílias das vítimas, ao governo e ao povo da República Unida da Tanzânia".
Entre a população, a tristeza abre caminho para a indignação.
"No primeiro dia, quando ainda havia esperança de encontrar sobreviventes, as operações de resgate foram suspensas à noite por causa da escuridão, já que nossos serviços marítimos de resgate não estão equipados para trabalhar de noite", criticou o jovem estudante Felician Tarimo, de Moshi (norte).
Em 1996, cerca de 800 pessoas, segundo a Cruz Vermelha, morreram no naufrágio da balsa "Bukoba", sobrecarregada de passageiros, não muito distante da costa de Mwanza.
* AFP