Depois de mais de um século de evidências conflitantes e animosidade anglo-francesa, cientistas disseram nesta quarta-feira que finalmente solucionaram o enigma do maior pássaro do mundo.
Por 60 milhões de anos, o colossal pássaro-elefante - Aepyornis maximus -, que não voava, habitou a savana e as florestas tropicais de Madagascar, até ser extinto, no século XVII.
No século XIX, um zoólogo europeu bucaneiro ficou obcecado pela criatura, pilhando esqueletos e ovos fossilizados para provar que havia descoberto a maior ave da Terra.
Mas um estudo divulgado nesta quarta-feira por cientistas britânicos sugere que uma espécie de pássaro-elefante era ainda maior do que se pensava anteriormente: seus espécimes pesavam cerca de 860 kg - quase o mesmo que uma girafa adulta.
"Eles teriam sobressaído em relação às pessoas", disse à AFP o principal autor do estudo, James Hansford, da Zoological Society of London. "Eles definitivamente não podiam voar, já que não poderiam ter suportado nada perto de seu peso".
No estudo, publicado na revista Royal Society Open Science, Hansford examinou ossos de pássaros-elefantes encontrados em todo o mundo, e combinou suas medidas com algoritmos para projetar os tamanhos dos animais.
Até agora, o maior pássaro-elefante de todos os tempos tinha sido descrito em 1894 pelo cientista britânico C.W. Andrews como Aepyornis titan - uma espécie maior de Aepyornis maximus.
Mas um rival francês de Andrews rejeitou a descoberta do titan, afirmando que era apenas um espécime de maximus excepcionalmente grande, e durante décadas o debate permaneceu num impasse.
Hansford disse que sua pesquisa provou que titan era de fato uma espécie diferente. Mas ele também descobriu que seus ossos eram tão distintos dos de outros espécimes de pássaros-elefantes que o titan era na verdade um gênero inteiramente separado.
Nomeado Vorombe titan - malgaxe para "pássaro grande" - a criatura teria pelo menos três metros de altura e um peso médio de 650 quilos, tornando-se o maior gênero de ave já descoberto.
"No extremo, encontramos um osso que realmente elevou os limites do que agora entendemos sobre o tamanho das aves", disse Hansford, referindo-se ao espécime de 860 quilos.
"E houve alguns outros que levaram a isso também, por isso não é um ponto fora da curva - havia uma gama de massas que são extraordinariamente grandes".
- Extinto, mas não esquecido -
Primo próximo do agora extinto moa da Nova Zelândia, o pássaro-elefante pertencia à mesma família de animais que não voam e que hoje inclui o quivi, o emu e a avestruz.
Apesar de ter uma das mais longas existências para qualquer animal em Madagascar - cujo isolamento do resto da África levou ao desenvolvimento de várias espécies inteiramente únicas - o pássaro-elefante foi extinto depois da chegada de uma onda de colonos humanos.
"Você começa a ver grandes quantidades de assentamentos agrícolas e mudanças de habitat com a queima de florestas, (...) que parecem ter levado toda a megafauna em Madagascar, incluindo o pássaro-elefante, à extinção", disse Hansford.
Longe de ser uma antiga curiosidade, Hansford acredita que o pássaro-elefante poderia conter pistas vitais sobre como administrar o futuro ecossistema de Madagascar, apesar de estar extinto.
Os pássaros-elefantes "provavelmente desempenharam os papéis mais importantes na manutenção e desenvolvimento das paisagens que eram naturais para Madagascar antes dos humanos chegarem lá", disse.
"Precisamos entender o papel desses animais dentro dessas paisagens, a fim de começar a regenerar e conservar o que nos resta".
* AFP