Quem o escreveu? Em um estranho clima de suspeita e paranoia, a Casa Branca buscava determinar nesta quinta-feira (6) a identidade do "covarde" que escreveu o artigo anônimo no New York Times denunciando o comportamento vacilante e inquietante de Donald Trump.
O presidente dos Estados Unidos, que durante a noite de quarta-feira escreveu uma série de furiosos tuítes sobre uma possível "traição", denunciou nesta quinta o comportamento "da esquerda" e dos meios de comunicação que denomina "Fake News".
Em uma declaração pública incomum, a primeira-dama Melania Trump defendeu nesta quinta-feira seu marido e desqualificou o suposto funcionário anônimo: "Para o autor deste artigo: não protege este país, o sabota com atos covardes", escreveu em um comunicado divulgado pela emissora CNN.
Em um texto intitulado "Sou parte da resistência dentro da administração Trump" e publicado pelo New York Times, um membro do governo conta como ele e outros lutam de dentro contra "as piores inclinações" de um presidente com uma liderança que qualifica de "mesquinha", "impetuosa" e "ineficaz".
O polêmico artigo, divulgado depois da publicação de trecho de um livro explosivo do jornalista investigativo Bob Woodward, provocou uma avalanche de interrogações em Washington.
O misterioso autor escreveu sozinho ou falou por um grupo maior? Faz parte do círculo íntimo do presidente, dentro da famosa "Ala Oeste" da Casa Branca ou trabalha em um ministério? Acabará saindo do anonimato para dar mais peso ao seu testemunho?
A identificação usada pelo New York Times - "funcionário de alto escalão da administração Trump" - é ampla o suficiente para desencadear todas as interpretações e permitir que qualquer pessoa elabore a própria lista, inclusive com as suposições mais inverossímeis.
Cena incrível: o gabinete do vice-presidente se sentiu obrigado a emitir uma declaração dizendo que Mike Pompeo não tinha nada a ver com essa questão.
"O vice-presidente assina os artigos que escreve", assinalou o seu porta-voz no Twitter. "O New York Times deveria estar envergonhado, assim como a pessoa que escreveu essa coluna equivocada, absurda e covarde", acrescentou, assegurando que a sua equipe estava "acima de tais manobras de amadores".
Em um incrível balé que revela o grau de desconfiança que prevalece nas esferas do poder americano, muitas funcionários de alto escalão também se manifestaram.
"A especulação de que a coluna do New York Times foi escrita por mim ou por meu adjunto é falsa", indicou em um comunicado o chefe da Inteligência americana, Dan Coats.
Enquanto estava na Índia, o secretário de Estado, Mike Pompeo, assegurou que o texto não era seu e considerou "perturbadores" os "esforços da mídia" que visam minar o trabalho da Casa Branca.
Em seu artigo, o escritor anônimo, classificado como uma "pessoa muito perigosa" por Rudy Giuliani, o advogado de Donald Trump, afirma que o presidente está danificando "a boa saúde" da república.
"É por isso que muitos funcionários nomeados por Trump estão comprometidos a fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para preservar as nossas instituições democráticas e, ao mesmo tempo, frustrar os impulsos mais errôneos de Trump até que deixe o cargo", acrescentou.
Para o ex-diretor da CIA John Brennan, essa coluna, em todos os sentidos extraordinária, mostra "o nível de preocupação no próprio seio da administração".
"Não sei como Donald Trump vai reagir a isso", disse na NBC. "Um leão ferido é um animal muito perigoso e acho que Donald Trump está ferido".
O presidente dos Estados Unidos deve viajar no meio da tarde desta quinta para participar de um comício de campanha em Billings, Montana, a cerca de 3.000 quilômetros de Washington.
Diante de uma multidão com bonés que mostram o seu lema campanha "Fazer a América grande de novo", e em uma atmosfera na qual não busca se limitar ao seu discurso escrito, Trump certamente deve abordar a questão deste artigo anônimo.
* AFP