Após uma moção de censura no Parlamento, o conservador Mariano Rajoy foi destituído de seu cargo, e o socialista Pedro Sánchez se tornou o novo primeiro-ministro da Espanha. Na votação na Câmara, Sánchez, do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), reuniu o apoio da maioria dos deputados (180 de 350) para a moção de censura, apresentada depois que a Justiça condenou o Partido Popular (PP) de Rajoy em um caso de corrupção.
Derrotado nas últimas duas eleições e depois expulso da liderança de seu partido antes de voltar pela porta da frente, o socialista Pedro Sánchez saiu triunfante de uma última e arriscada aposta que o levou ao poder na Espanha.
Liderando uma onda de indignação pela condenação judicial do Partido Popular (PP) de Mariano Rajoy em uma caso de corrupção, o ex-professor de Economia, de 46 anos, viu sua obstinação ser recompensada, conseguindo os apoios para aprovar nesta sexta-feira (1º) moção de censura que tirou o líder conservador da presidência do governo.
– A sorte lhe deu a chance de poder desempenhar um papel central – afirmou o cientista político Fernando Vallespín, da Universidade Autônoma de Madri, para quem Sánchez fez "uma aposta mais do que arriscada" e "um pouco desesperada".
Uma jogada decidida também no momento em que o Partido Socialista se encontrava "muito afastado da linha de frente da discussão política", ocupada pelo PP, pelos liberais do Cidadãos e pela esquerda radical do Podemos, acrescenta o especialista.
Retorno pela porta da frente
Com apenas 84 cadeiras de 350 na Câmara Baixa, Sánchez, que não é deputado, viu-se obrigado a formar uma coalizão pela moção de censura com a esquerda radical do Podemos, os separatistas catalães e os nacionalistas bascos. Uma maioria tachada como "coalizão Frankenstein" pelo PP, e que antecipa um governo muito instável e que pode encurtar a permanência de Sánchez no Palácio da Moncloa.
O líder socialista pretende adotar medidas sociais rapidamente para "impulsionar a popularidade do PSOE", indica Antonio Barroso, analista do gabinete Teneo Intelligence, para chegar fortalecido a eleições antecipadas, nas quais as pesquisas davam o Cidadãos como ganhador.
– É um político audacioso e não excessivamente reflexivo e que pensa mais em termos de curto prazo – aponta Vallespín.
Nascido em 29 de fevereiro de 1972 em Madri, cresceu em uma família de boas condições, de pai empresário e mãe funcionária pública. Ao mesmo tempo que dedicava muitas horas ao basquete (mede 1,90 m), estudou Economia, primeiro em sua cidade e, depois, em Bruxelas, na Bélgica.
Amante da política desde jovem, segundo seus companheiro de classe, foi vereador em Madri de 2004 a 2009, quando se tornou deputado, e sua carreira decolou.
Em 2014, foi o primeiro líder do PSOE a ser eleito pelos militantes, mas seu enfraquecido partido chegou atrás de Rajoy nas eleições de dezembro de 2015. Tentou formar governo com os partidos emergentes Podemos e Cidadãos, mas a iniciativa naufragou.
Nas eleições em junho de 2016, o PSOE registrou seu pior resultado desde o restabelecimento da democracia espanhola em 1977. Sánchez foi defenestrado por uma rebelião interna de seu partido, que o culpava pelos maus resultados nas urnas.
Voltou em grande estilo em maio de 2017, quando os militantes lhe devolveram a liderança do partido.
Um "Judas" para a direita
Embora tenha feito uma frente comum com Rajoy nos últimos meses contra a tentativa separatista na Catalunha, Sánchez será lembrado pelo PP como aquele que conseguiu derrubar um chefe de governo que sobreviveu a inúmeras crises prévias. Para Fernando Martínez-Maillo, número três da sigla conservadora, o novo primeiro-ministro espanhol "entrará para a história da Espanha como o Judas da política".
Rajoy, agora chefe da oposição, criticou-o na última quinta-feira (31), no Câmara dos Deputados, por realizar um "exercício de oportunismo a serviço de uma ambição pessoal".