O primeiro-ministro conservador espanhol, Mariano Rajoy, estava isolado nesta sexta-feira (25), ante a moção de censura da oposição socialista e o abandono por seus aliados do partido Cidadãos, depois que o Partido Popular (PP) foi condenado por ter sido beneficiado em um caso de corrupção.
O Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) anunciou nesta sexta-feira que registrou no Parlamento uma moção de censura contra o governo de Rajoy, para tentar derrubar o Executivo e formar um novo governo.
Previsivelmente, o candidato para substituir Rajoy como chefe de Governo será Pedro Sánchez, líder do PSOE, que atualmente não é deputado na Câmara.
O objetivo é formar um governo alternativo ao de Rajoy, que reagiu de maneira enérgica e afirmou que a moção "vai contra a estabilidade na Espanha", abalada pela crise catalã, e tem como único propósito tornar presidente do governo Sánchez "a qualquer preço e com que for".
Para alcançar o objetivo, a moção precisa do apoio de 176 deputados de um total de 350, uma maioria difícil de alcançar por uma oposição muito dividida.
A maioria exigiria o apoio do partido radical de esquerda Podemos, que já anunciou o respaldo, mas também dos partidos nacionalistas bascos e catalães, uma opção muito complicada, pois Sánchez estabeleceu uma frente comum com o governo do PP ante o desafio separatista da Catalunha.
A maioria seria a única possível, já que o partido liberal Cidadãos, que rivaliza com o PP nas pesquisas, não apoiará a moção de censura e exige que Rajoy convoque eleições nas próximas semanas.
O líder do Cidadãos, Albert Rivera, afirmou que a condenação do PP "liquidou a legislatura".
"Precisamos de um governo limpo e forte que enfrente o desafio separatista. Apoiamos a solução democrática: ou Rajoy convoca eleições, ou o Congresso com a moção instrumental", disse.
O partido Cidadãos, que pretende no futuro governar a Espanha, não vai facilitar a chegada dos socialistas ao poder.
"A moção apresentada pelo senhor (Pedro) Sánchez, supomos que com o apoio de populistas e separatistas, não é a moção do Cidadãos, não vamos estar lá. Vamos nos opor a essa moção", afirmou o número dois do partido libera, José Manuel Villegas.
A crise explodiu um dia depois do anúncio da condenação do PP como beneficiário de um caso de financiamento ilegal.
O caso conhecido como "trama Gürtel" era um sistema pelo qual, entre 1999 e 2005, dirigentes do PP foram subornados em várias regiões da Espanha para conceder contratos públicos a empresas "amigas".
A Audiência Nacional, tribunal competente para casos de corrupção, condenou 29 pessoas a um total de 351 anos de prisão. Os dois principais responsáveis pela trama, o ex-tesoureiro do PP Luis Bárcenas e o empresário Francisco Correa, foram condenados a 33 anos e 4 meses e a 51 anos e 11 meses de prisão, respectivamente.
A decisão confirmou a existência de um "caixa 2" na sigla, "uma estrutura financeira e contábil paralela à oficial existente ao menos desde o ano 1989".
A Audiência também condenou o PP a pagar 245.492 euros como "partícipe a título lucrativo" da rede de corrupção, uma decisão da qual o partido conservador, presidido por Rajoy desde 2004, pretende recorrer.
* AFP