
O governo do primeiro-ministro socialista Pedro Sánchez (PSOE) prestou juramento nesta quinta-feira (7) ante o rei da Espanha, Felipe VI. É o gabinete mais feminino da história do país, com 11 mulheres e seis homens, e tem orientação política pró-União Europeia.
Com apenas 84 deputados de um total de 350 na Câmara dos Deputados, o governo de Pedro Sánchez também será o mais minoritário em 40 anos de democracia na Espanha, o que antecipa uma governabilidade difícil.
A equipe de Sánchez, que tem 46 anos e nunca passou pelo governo, também é a mais feminino entre todos os países da União Europeia, à frente da Suécia, que tem 12 mulheres ministras e 11 homens).
O juramento foi prestado sem símbolos religiosos, como a Bíblia e o crucifixo, abandonando uma tradição local. Ao prestar juramento, várias das mulheres se referiram ao gabinete "Conselho de ministras e ministros".
A governabilidade do Partido Socialista (PSOE) dependerá, em grande medida, da margem dada pelo Podemos (esquerda radical) e pelos partidos nacionalistas bascos e catalães, que o apoiaram para derrubar, na última sexta-feira (1) o deputado Mariano Rajoy (Partido Popular, direita conservadora) com uma moção de censura.
O líder do Podemos, Pablo Iglesias, lançou uma advertência nesta quinta-feira, declarando que os socialistas "elegeram um governo solitário" e desejando "boa sorte" ao novo premiê. A manifestação se refere ao fato de que Sánchez ignorou o pedido da formação de esquerda radical para entrar no Executivo.
Quem são as novas ministras e os novos ministros da Espanha
O novo Executivo inclui dois veteranos socialistas: a ex-ministra da Cultura Carmen Calvo, agora vice-presidente, e Josep Borrell, ex-presidente do Parlamento Europeu, agora ministro de Assuntos Exteriores. A nomeação do juiz basco Fernando Grande-Marlaska, que instruiu em processos contra o ETA, como ministro do Interior, foi uma atitude considerada inesperada pelo novo premiê.
Carmen Calvo, agora vice-presidente, também assume o Ministério de Igualdade, uma pasta recuperada por Sánchez em uma Espanha que em 8 de março viveu uma inédita greve de mulheres em defesa de seus direitos.
Sánchez nomeou mulheres para pastas muito importantes: a procuradora antiterrorista Dolores Delgado na Justiça, a porta-voz parlamentar Margarita Robles na Defesa, Magdalena Valerio no Trabalho, Reyes Maroto na Indústria e Isabel Celaá como titular da Educação e porta-voz do Executivo.
Mas, sobretudo, escolheu duas mulheres para comandar a equipe econômica de seu governo, que, segundo prometeu na semana passada, "terá como prioridade cumprir os compromissos europeus", entre eles a redução do déficit público de 3,1% de 2017 para 2,2% em 2018.
A nova ministra da Economia é Nadia Calviño, até agora diretora-geral de Orçamentos na Comissão Europeia e braço direito do comissionário alemão Günther Oettinger. Nadia tem uma experiência de 12 anos em importantes cargos em Bruxelas.
No ministério da Fazenda, a titular é María Jesús Montero, que até então desempenhava esse posto no governo regional de Andaluzia. Nos últimos anos esteve a cargo de cumprir os cortes em gasto público ordenados por seu antecessor conservador, Cristóbal Montoro.
A equipe também inclui na pasta de Ciência, Inovação e Universidades o primeiro astronauta espanhol, Pedro Duque. O número três do PSOE, José Luis Ábalos, assumirá a pasta de Fomento, e o jornalista e escritor Maxim Huerta será titular do ministério da Cultura.
Diretrizes do novo governo
Em nome da estabilidade, Sánchez se comprometeu a governar o restante de 2018 com o orçamento elaborado pelo conservador Partido Popular, que ainda está pendente de tramitação no Senado. Entre as medidas-chave, destacam-se um aumento de 1% a 3% das pensões mais baixas, aumentos salariais para os funcionários e a efetivação de milhares de interinos da função pública, a menos de um ano das eleições municipais, regionais e europeias, marcadas para maio de 2019.
Em meio aos preparativos da Grã-Bretanha para o Brexit e do governo eurocético da Itália, encabeçado pela Lega Nord e pelo Movimento 5 Estrelas, o Executivo espanhol tem um caráter pró-Europa marcante.
— Este é um governo decididamente pró-europeu. A Europa é nossa nova pátria — afirmou Sánchez.
O ministro das Relações Exteriores será Josep Borrell, 71 anos, presidente da Eurocâmara entre 2004 e 2007, e contrário ao separatismo catalão. Borrell, nascido na Catalunha, deverá defender a unidade da Espanha, após o mandato do governo conservador de Rajoy que, segundo ele, fez "muito mal" em termos de comunicação com os separatistas. A nomeação da nova ministra da Economia, Nadia Calviño, também foi elogiada pela Comissão Europeia.
No dia a dia será outra catalã quem deverá tratar com o governo separatista de Quim Torra na Catalunha: Meritxell Batet, de 45 anos, natural de Barcelona, nomeada ministra de Política Territorial. Batet terá a seu favor a recente suspensão da tutela imposta à Catalunha no final de outubro e apoiada pelo PSOE, devido à tentativa frustrada de secessão unilateral.