As tensões comerciais entre Estados Unidos e China subiram nesta quarta-feira (4) depois que Pequim decidiu tarifar produtos centrais no intercâmbio bilateral, como a soja, os automóveis e o setor aeronáutico.
As duas maiores economias do mundo anunciaram planos para impor reciprocamente tarifas às importações de 50 bilhões de dólares, um passo forme em direção a uma guerra comercial de consequências imprevisíveis.
Em uma resposta simétrica a uma iniciativa adotada por Washington na terça-feira, Pequim iniciou um processo na Organização Mundial do Comércio (OMC), uma medida que evidencia a possibilidade de um enfrentamento generalizado.
"Qualquer tentativa de pôr a China de joelhos com ameaças e intimidações nunca terá sucesso. Tampouco desta vez", alertou nesta quarta o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores, Geng Shuang.
O claro agravamento das tensões comerciais despertou uma onda de quedas nas bolsas mundiais, embora Wall Street tenha se recuperado no último momento.
- Reação interna -
A abordagem de chineses e americanos na definição de suas barreiras tarifárias mostrou diferenças notáveis.
Segundo Ross, Washington definiu sua lista inicial de produtos chineses a serem tarifados a partir de "produtos nos quais não somos terrivelmente dependentes da China" e para os quais podem ser encontradas outras fontes de abastecimento.
A lista inclui diversos produtos químicos e medicamentos, além de eletrônicos, peças de aviões e satélites.
Já a lista anunciada pela China mira diretamente no coração do intercâmbio comercial bilateral ao propor tarifas produtos como a soja e os automóveis, dois itens que têm peso enorme no comércio entre os dois países.
Imediatamente, a Associação Americana de Produtores de Soja emitiu uma amarga nota oficial manifestando sua "enorme frustração diante da escalada de uma guerra comercial com o maior cliente da soja dos Estados Unidos".
O grupo pediu à "Casa Branca reconsiderar as tarifas que conduziram a esta represália". Segundo a entidade, a China compra 61% das exportações americanas de soja, o que equivale a mais de 20% da produção nacional.
Myron Brilliant, vice-presidente executivo da Câmara Americana de Comércio, apontou em nota que o governo está certo em tentar "restabelecer a equidade e a justiça nas relações comerciais com a China".
Contudo, acrescentou que "impor tarifas a produtos usados diariamente por consumidores americanos e que geram empregos não é a forma de alcançar esse objetivo".
A gigante automotiva GM adotou uma linguagem mais cauteloso e pediu aos "dois países para continuar um diálogo construtivo e buscar políticas comerciais sustentáveis".
China e Estados Unidos, indicou a empresa, são "os dois maiores mercados automotivos do mundo".
Já a Boeing - empresa que poderia ser gravemente afetada por uma guerra comercial com a China - apontou em nota que os dois países "podem prejudizar a indústria aeroespacial global".
- Reduzir a pressão -
Para Edward Alden, especialista em comércio internacional para o Conselho de Relações Internacionais, "este é claramente o cenário que todos temiam: a China respondendo a provocações dos Estados Unidos".
Contudo, acrescentou que "a boa notícia é que até agora estão delimitando posições. As duas partes estão fazendo graves ameaças, mas ainda há muito tempo para negociações e tentar chegar a uma solução".
No começo da manhã, o presidente americano Donald Trump disse, pelo Twitter, que "não estamos em uma guerra comercial com a China, esta guerra foi perdida há muitos anos pelas pessoas tolas, ou incompetentes, que representavam os Estados Unidos".
que "não estamos em uma guerra comercial com a China, esta guerra foi perdida há muitos anos pelas pessoas tolas, ou incompetentes, que representavam os Estados Unidos".
O escritório do representante comercial americano (USTR), Robert Lighthizer, afirmou nesta quarta que o processo aberto na OMC contra os EUA pelas tarifas sobre aço e alumínio é "totalmente infundado".
* AFP